Celebridades

Thelma Assis lança livro e diz ser uma 'mulher preta que fugiu das estatísticas'

Para médica, doeu rever memórias citadas em 'Querer, Poder, Vencer'

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São Paulo

"Uma temporada histórica como essa não poderia terminar sem uma vitória histórica. Então, o BBB 20 só pode ser seu. Ele tem que ser seu, Thelma. Esse é o melhor final possível para essa temporada. Ocupe o seu lugar, o que você merece e o que sempre mereceu. Vai brilhar".

Foi dessa forma que o apresentador Tiago Leifert se referiu à médica Thelma Assis, 36, quando se sagrou a campeã da edição de 2020 do Big Brother Brasil (Globo). E é com base nesse discurso que ela começa a traçar os momentos mais felizes, difíceis e marcantes de sua trajetória no livro "Querer, Poder, Vencer", cujo lançamento acontece nesta segunda-feira (8).

Na obra, publicada pela Editora Planeta e com prefácios da atriz Taís Araújo e do apresentador Manoel Soares, Thelma compartilha um relato íntimo sobre o enfrentamento de obstáculos como o racismo, o machismo e uma adoção logo aos três anos de vida.

"Pessoas me conheceram através do BBB e na obra fazemos como se fosse uma retrospectiva. A partir do discurso da final, vou entrelaçando vários momentos da minha vida, lembrando atitudes do reality com minha personalidade de acordo com minha trajetória nesses 36 anos", afirma ela.

Esse caminho permeia a infância, os percalços, seu acesso à universidade onde se formou em medicina e até sua união de 12 anos com o marido, Denis Santos.

"É a história de uma mulher preta periférica em sociedade desigual se deparando com empecilhos e que fugiu das estatísticas. O que quero é que cada vez mais mulheres pretas e periféricas se empoderem para que a gente ocupe os espaços que merecemos", diz a médica.

Escrever um livro estava entre os sonhos de Thelma. Porém, em sua cabeça, esse desejo só se realizaria mais para frente. Mas foi após uma conversa com o apresentador e amigo Manoel Soares que ela mudou de ideia e se sentiu motivada a estrear na literatura. O projeto demorou um ano do início até o lançamento, que acontece no mês de aniversário dela —ela completará 37 anos no dia 18.

A escolha pela data de lançamento em novembro acontece também por conta do Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20. O racismo é muito abordado nas 248 páginas, e Thelma relembra momentos em que sofreu com o preconceito racial. Natural do bairro do Limão, na zona norte da capital paulista, ela diz que desde a infância precisa conviver com isso.

"O racismo na maioria das vezes é o que chamo de racismo recreativo, aquele do dia a dia. Na hora não nos damos conta, mas depois remoemos. Quando acontecia ficava pensando por que não batemos de frente. Até me entender como mulher negra em país estruturalmente racista", explica.

Thelminha revela que, apesar do sonho de se tornar uma escritora, foi doloroso o processo de revisitar suas memórias. Mas foi necessário para que pudesse valorizar sua história de vida.

"Às vezes, quando alcançamos algo, a gente se pergunta: ‘será que a gente merece?’ E ter a oportunidade de fazer o livro foi como uma autoanálise. Nunca podemos ficar na zona de conforto. Temos que buscar formas de fazer a diferença na sociedade. Me sinto imortalizada através do livro."

A ideia de Thelma é inspirar muita gente a ter um pensamento antirracista e antimachista com suas palavras. "A autoconfiança eu sempre tive, isso que me possibilitou não desistir. O que temos é muito desânimo ao longo do caminho. Teve várias noites em que eu chorava e no dia seguinte tinha de me reconstruir", relembra.

"Carreguei a resiliência de se a janela está emperrada tento achar ferramenta para abrir. Houve tantas pessoas que falaram que eu não podia fazer medicina, ou quem tenha dito que eu não tinha chance de ganhar o BBB. Sempre que tentavam me subestimar eu transformava isso em motivação", finaliza a médica e agora escritora.