João Marcelo Bôscoli diz que gostaria de ter sido adotado por Rita Lee após a morte de Elis Regina
Produtor musical fala sobre como era a cantora como mãe em seu livro
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"Aos meus olhos nada poderia detê-la, pará-la. [Ela] Era invencível." Com declarações de amor como essa é que João Marcelo Bôscoli, hoje com 49 anos, lembra os sentimentos que ele teve quando criança e filho de Elis Regina.
Em casa, quando ele fazia traquinagens, nos bastidores de uma gravação ou em um passeio cheio de autógrafos pela feira, ele descreve as emoções que viveu ao lado de uma das principais cantoras do Brasil. Memórias dos 11 anos, seis meses e 19 dias contados que ele passou com a mãe estão no livro “Elis & Eu” (Planeta, pags. 200, R$ 41,90).
Bôscoli afirma que fez o livro de tanto perguntarem a ele se lembrava de sua mãe, como ela era em casa, no dia a dia. É para ele, ainda, mais uma oportunidade de ver sua mãe revisitada aos olhos do grande público, “com seu rosto exposto nas livrarias”.
"Uma outra razão é dar um presente aos meus filhos, que não vão conviver com a avó, saber como ela era em casa, comigo, e eu posso morrer amanhã", afirma o produtor musical. A mãe Elis aparece como presente e educadora, que deixava o menino traquino de castigo quando descobria o que ele tinha feito. O livro narra apenas a ponta do iceberg de uma infância intensa, talvez herança do gênio de sua mãe.
"Tomei cuidado para que isso não tomasse mais parte do livro do que deveria, mas a ideia é contar como ela conseguir gravar tanta música, fazer tantas entrevistas, tantos programas e participações com esse açougue em casa. Eu aprontava muito, se eu contasse tudo seria um livro só de traquinagem. Coloquei o fogo em casa acho que cinco vezes”, conta Bôscoli, aos risos.
Ao escrever o livro, ele só se baseou em suas próprias memórias, não falou com mais ninguém. Um dos momentos mais únicos e íntimos foi perto da morte de Elis, que ele acompanhou desde o primeiro passo, que começou com uma festa regada à drogas, o que, antes, não era comum em sua casa.
“Meu relato é o mais verídico e real do que boa parte dos parasitas que foram entrevistados por Julio Maria. Ele é um grande pesquisador, mas muita gente se aproveitou da oportunidade para dar mais importância do que deveria a um momento que teria passado com ela pouco antes da morte. Tudo o que está no meu livro é 100% verdade”, afirma Bôscoli. Julio Maria é autor de "Elis Regina. Nada Será Como Antes" (Master Books, pags. 424, R$ 49).
Momentos sublimes do livro são um presente aos fãs de Elis e a quem deseja saber mais da vida do próprio João Marcelo. Logo após a morte da mãe, ele foi separado por anos dos irmãos. Ele, o mais velho e criado em São Paulo, era filho de Ronaldo Bôscoli (1928-1994), que vivia no Rio. Assim que Elis partiu, os mais novos, Maria Rita, 42, e Pedro Camargo Mariano, 44, foram morar com o pai, César Camargo Mariano.
Rita Lee, que escreve o prefácio do livro, conta que se ela soubesse o que João Marcelo passou, ela o teria adotado. “E eu teria ido”, diz Bôscoli. "Meu pai ser o Roberto de Carvalho, seria o máximo”, diz ele, em tom de brincadeira.
“Na época [da morte dela], as pessoas ficaram desnorteadas, era como se uma bomba tivesse caído na cabeça de todo mundo. Fui tratado de uma maneira completamente inadequada, mas não era nada consciente. Era só um monte de gente perdida no meio de um tiroteio emocional”, diz o produtor.
Antes desse momento trágico, no entanto, Bôscoli descreve com encantamento como a sua criança via as apresentações do espetáculo “Falso Brilhante”, de cenário circense, em que ele se delirava com a beleza, mas suava frio ao ver sua mãe voando, pendurada em uma corda.
Reafirma a intensidade de Elis nos bastidores de gravações e entrevistas e fala, ainda, sobre os primeiros medos de perdê-la. “Em viagens mais longas do que o normal, como quando ela foi para o Japão e para a Suiça, foi a primeira vez que senti o temor de poder perdê-la um dia."
Todas essas experiências deixou um herdeiro de Elis orgulhoso de ter sido filho dela e atento ao mundo do show business. “Sempre tive uma antipatia com essa coisa de estrelato, meu terreno seguro sempre foi o bastidor. Sou um cara com o pé atrás das coisas”, afirma ele, que se vê como um sobrevivente.
“Tudo o que aconteceu pode ter me deixado mais forte do que eu seria –e não mais forte que alguém. Quando a única opção que você tem é se salvar, a gente cria coragem. Não tem como fugir da morte de sua mãe, é preciso lutar pela sobrevivência e pela sanidade.”