Celebridades

Claudia Raia afirma que sociedade retrocedeu e que 'fazer comédia é tarefa árdua e difícil'

Atriz de 'Verão 90' diz que seu grande desafio é se reinventar

Claudia Raia como a personagem Lidiane, da novela "Verão 90"

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São Paulo

Nos anos 1990, Claudia Raia já era sucesso depois de ter se destacado no humorístico "TV Pirata" (1988, Globo). Foram 14 novelas e programas de TV no portfólio da atriz durante essa década, incluindo “Vamp" (1991-1992, Globo), dirigida por Jorge Fernando, que agora retorna na mesma função em “Verão 90”.

A nova novela da faixa das 19h da Globo, que estreou na última terça (29), tem Claudia no elenco principal e trama revive o Rio de Janeiro na década antes da virada do milênio, ocasião perfeita para a atriz voltar à época que desperta saudades em tantos espectadores (inclusive, nela mesma).

“Tudo me faz falta dessa época. Do telefone com fio até a secretária eletrônica. Vou lembrar com carinho das ombreiras”, afirma. Agora com os cabelos “vermelhos Merthiolate”, como ela mesma define, Claudia interpreta Lidiane, uma ex-atriz da pornochanchada que faz de tudo pela carreira da filha, Manuzita (Isabelle Drummond).

Ela aproveita a trama para reviver a liberdade e alegria da década, fatores que acredita não existirem mais. “Acho que a gente 'involuiu', infelizmente. Andamos para um falso moralismo, para muito preconceito, para retrocesso. Essa maldade não era comum nos anos 1990, pelo contrário. Você dava a mão, ajudava o outro. E as redes sociais mascaram muita gente. Por isso que essa novela é tão importante nesse momento", diz Claudia. 

Ela comenta que sente falta da dinâmica carioca, de ver as pessoas na praia e de marcar encontros no baixo Leblon no começo da noite. “As pessoas se viam, frequentavam lugares, amavam. A novela é um resgate das relações humanas que se perderam um pouco no caminho.”

É apenas no campo da moda e beleza que Claudia acredita ter melhorado. Depois dos brincos grandes dos anos 1980, dos cabelos crespos e cores fortes dos anos 1990, e das 480 capas de revista, ela diz que se enxerga melhor atualmente. “Era muito exagero. Hoje a gente é mais sequinha, mais magrinha. Eu acho que a gente melhorou.”

Claudia e Lidiane têm mais em comum do que apenas a vida de artista: as duas têm uma profunda relação com a dança. A personagem da novela dá aulas de jazz e revive ritmos como a lambada, que eram comuns na época.

Fora das telas, Claudia dança balé e cultiva corpo de bailarina há mais de 40 anos. Ela diz que, mesmo aos 52, chega a treinar a dança por quase duas horas seguidas. A alimentação também é regrada.  “Sempre comi muito, mas sempre fui muito disciplinada com comida. Fazia marmita”, explica. "Saio da dieta de vez em quando. Mas é mais pela saúde. Você é o que você come, e se dá vontade de comer, eu como.”

Ela diz que a nutricionista costuma ser rígida, mas que está acostumada, uma vez que desde os 10 anos sua mãe a fazia tomar suco verde. ”Já tomava quando ninguém mais tomava”, brinca.

O corpo esbelto e o foco na mídia a garantiram alguns títulos. “Fui musa de tudo. Até do verão, com essa cor”, brincou a atriz que chegou a fazer 480 capas de revista em 35 anos de carreira. “Era uma coisa que funcionava: musa dos anos 1980, musa dos anos 1990, musa do Brasil, a musa do verão... Fui musa de qualquer coisa.”

‘FAZER COMÉDIA É UMA TAREFA ÁRDUA’

Ao que parece, os 38 anos de televisão só tornam os novos trabalhos mais difíceis para Claudia Raia. Ela mesma diz que seu grande desafio é se reinventar e fazer algo diferente, mesmo depois de tantas novelas no currículo.

Em “Verão 90”, a dificuldade é a dosagem do humor de Lidiane. "Ela é uma personagem extremamente rica, que tem muitas emoções ao mesmo tempo. É difícil de fazer, porque ela vai do choro ao riso em poucos segundos. Muito emocional e muito engraçada. E fazer comédia é uma tarefa árdua, difícil."

O trabalho acaba sendo ainda mais fatigante com a exigência de qualidade e a seletividade dos novos públicos, acredita a atriz. "Antes as pessoas sentavam na sala e assistiam à novela, sendo boa ou ‘mais ou menos’. Hoje não. As pessoas estão mais exigentes e querem novela boa. Diria que hoje é mais difícil de agradar o público."

Claudia Raia também diz que a sociedade está mais polarizada, mas que não acredita que os canais pagos tenham deslocado o público das novelas. Para ela, a teledramaturgia é algo inerente ao brasileiro, que consegue desenvolver enredos e produções muito bem. “A gente não tem que ter vergonha da telenovela. Tem que ter orgulho”, diz. “Isso é cultural, está no nosso DNA”.

​​Lidiane viverá um romance com Patrick (Klebber Toledo), um jovem tímido que veio da Bahia para buscar uma vida melhor no Rio de Janeiro. Surfista e prestativo, ele trabalha como eletricista e chama a atenção das mulheres, mas acaba se encantando mesmo por Lidiane.

“É só risada, do começo ao fim”, diz Claudia sobre a relação com Klebber nos sets. “Ele é um ótimo ator, um ótimo companheiro, alegríssimo. A gente está se divertindo. E o casal é uma delícia.”

Apesar de encontrar com Lidiane já como um jovem adulto, Patrick era um antigo fã da pornochanchada e já via os filmes da atriz na adolescência. “É uma relação muito improvável, aparentemente, mas muito importante para a gente falar sobre essas diferenças e sobre como isso pode dar certo”, diz Claudia.

“Acho muito necessário ter esse casal, apesar da novela ser uma comédia, para a gente poder falar de um amor verdadeiro de um jovem por uma mulher mais madura, uma mulher como a Lidiane.” Klebber, por sua vez, se limitou a dizer que “vai na onda da atriz”.