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Como o Snapchat está ajudando vítimas de abuso sexual na Índia

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Selo BBC Brasil

Os filtros do Snapchat são geralmente usados como forma de diversão, mas um jornalista em Mysore, no sul da Índia, decidiu usá-los com um propósito bem mais sério: ajudar vítimas de abuso sexual no país a contarem suas histórias.

Olhando para a câmera, as vítimas podem falar abertamente, sem medo de sofrerem represálias - isso porque um filtro da rede social "esconde" quem sofreu o abuso e, ao mesmo tempo, dá voz a essa pessoa protegendo sua identidade.

Yusuf Omar, editor do jornal Hindustan Times, usou os filtros para cobrir os rostos das mulheres que entrevistou mas, ao mesmo tempo, deixou que fosse possível ver suas expressões faciais.

"Os olhos são a janela da alma", disse Yusuf. "A tecnologia do Snapschat permite que, mesmo com filtro, seja possível vê-los. " "O 'filtro de dragão' que uma das mulheres usou acentuava suas expressões e, ainda assim, não era possível ver claramente quem estava ali enquanto ela falava", explica.

Ferramenta poderosa

Estima-se que pelo menos 27,5 milhões de mulheres já tenham sofrido abuso sexual no país.

Muitos casos acabam não sendo denunciados, já que várias mulheres têm medo de falar sobre o assunto.

Além disso, é ilegal identificar vítimas de abuso sexual na Índia - assim como em muitos outros países.

Tecnologias como o Snapchat permitem que as pessoas consigam falar abertamente sobre um tema que ainda é um grande tabu e, ao mesmo tempo, preservar sua privacidade.

Mulheres protestando em Nova Déli contra o caso de estupro que chocou o país em outubro de 2015
Mulheres protestando em Nova Déli contra o caso de estupro que chocou o país em outubro de 2015 - BBC

 "Eu tinha cinco anos quando tudo aconteceu", disse uma das jovens entrevistadas, que usou filtro de dragão. "Alguém me sequestrou em Hyderabad (cidade ao Sul de Nova Déli, a capital) e me levou a Mysore e me fechou em um quarto.​ Me torturaram e não me deixaram sair", relembra ela.

Yusuf Omar disse que as mulheres entrevistadas por ele escolheram seus próprios filtros, o que lhes dava uma "sensação de controle e segurança".

"Elas gostavam do fato de poderem ver a imagem final antes e não ter de apenas confiar em mim para esconder sua identidade", comentou.

O editor configurava o aplicativo e deixava cada uma das mulheres sozinha para que gravassem suas histórias.

"As meninas com quem conversei se sentiam muito à vontade usando smartphones e aplicativos como o Snapchat", disse. "Elas estão familiarizadas com isso, já que o usam com seus amigos, no dia a dia."

Omar acredita que suas entrevistadas se sentiam como se estivessem contando aquilo que tinham vivido a um amigo, "com dignidade e discrição".

O jornalista do Hindustan Times espera que, ao dar voz a essas mulheres, "ajude a romper o estigma associado às vítimas de abuso sexual não só na Índia, mas no mundo todo."

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