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Cenas que poderiam ser bregas funcionam bem em 2ªparte de 'Os Dez Mandamentos'

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A estreia da nova temporada de “Os Dez Mandamentos” serviu para confirmar que o pessoal da Record não brinca em serviço quando o assunto é teofania.

Esse termo em grego serve para designar as manifestações diretas do poder de Deus na Terra, e elas não faltaram nesse primeiro capítulo. O próprio Senhor escreveu os mandamentos nas placas de pedra, Moisés (Guilherme Winter) foi literalmente tocado pela mão de Deus e, como resultado desse contato, adquiriu temporariamente uma face tão resplandecente quanto a de um anjo.

O risco de cenas assim se tornarem simplesmente bregas é grande mesmo em Hollywood, mas elas funcionaram bem —em parte porque os atores parecem ter levado as teofanias a sério. Os diálogos com sabor anacrônico e banal que destoavam da grandiosidade da trama também foram bastante reduzidos nesse primeiro capítulo, o que melhorou muito o ritmo geral da história.

 

Genocídio Com Motivo

O primeiro capítulo da nova temporada teve 19 pontos na audiência —a novela “Velho Chico”, da Globo, teve 30 pontos (média em SP; cada ponto equivale a 197 mil espectadores). A estreia também deu pistas importantes a respeito de como os autores da novela vão lidar com alguns dos aspectos mais sombrios e polêmicos do texto bíblico.

Afinal de contas, a Terra Prometida para a qual se dirigem os israelitas não é uma ilha deserta: já está ocupada por reinos e cidades-Estado que não têm o menor interesse em ceder seu território ao povo de Moisés. O preço para que Israel ganhe um lar permanente, portanto, é a guerra e o genocídio.

Por isso mesmo, é significativo que o folhetim prepare psicologicamente o público para esse confronto mostrando que os inimigos de Israel são quem, no fundo, deram motivo para a briga.

Uma das cenas marcantes retrata o sacrifício de bebês em honra do deus pagão Baal de Peor, enquanto o sogro de Moisés, Jetro (Paulo Figueiredo), assiste a tudo horrorizado. (Estudos arqueológicos mostraram que a prática de fato acontecia e as imagens da novela são reproduções cuidadosas.) Fica implícito que a invasão israelita terá o mérito de acabar com esses ritos abomináveis.

Ao mesmo tempo, os detalhes da história criados para a novela provavelmente vão transformar, ao menos em parte, o confronto entre Israel e os povos nativos numa luta pessoal entre Moisés e o novo grande vilão da narrativa, Balaque (Daniel Alvim), rei pagão de Moab.

Essa estratégia de “personalizar” os conflitos esteve presente em vários outros pontos do capítulo, nos quais pequenas sementes de inimizade, inveja ou amor não correspondido são plantadas.

Para quem conhece bem o texto bíblico, esses gérmens de destruição ajudam a entender por que certos personagens-chave se voltam contra Moisés e contra o próprio Deus —nos livros da Bíblia, que se caracterizam por sua narrativa extremamente seca, tais motivações psicológicas quase nunca são exploradas.

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