Movido pelo desafio de compreender a fé alheia, o jornalista Arthur Veríssimo vacinou-se com veneno de sapo no Acre, praticou vodu no Haiti, feriu seus pés correndo sobre pedras nos Andes, lutou para tirar sangue de indígenas na Bolívia e esperou três horas sob o sol de Salvador para presentear Iemanjá.

Protagonista de "Na Fé", misto de documentário e reality show que o Discovery estreia hoje, Verissimo diz que andou "no fio da navalha" nos nove episódios da série.

O atrito mais agudo entre os rituais religiosos que o programa aborda e as convicções íntimas de seu apresentador se deu na cerimônia de vodu. "O Haiti me chacoalhou."

A oferenda de uma vaca fazia parte do ritual. Ao se deparar com a perspectiva do sacrifício de um animal venerado no hinduísmo, religião com a qual tem estreita relação, Verissimo entrou em "crise existencial". "Fui à Índia 22 vezes. A Índia está no meu DNA", diz o jornalista, que se notabilizou pelas reportagens "gonzo" (em que o repórter mergulha de cabeça no tema investigado) que fez para a revista "Trip". Adepto também do budismo tibetano, Veríssimo, 54, orientou sua carreira para "farejar festivais religiosos, transes coletivos" pelo mundo.

Em "Na Fé", ele se entrega aos transes em frente à câmera, sentindo-se "o James Bond da espiritualidade" ou "o cara que realiza a missão impossível". A convicção de que "a experiência, como dizem os mestres, faz do conhecimento a verdadeira sabedoria" o ajuda a perder pudores.

No episódio de hoje, que trata da festa de Iemanjá, em Salvador, ao tomar um banho de descarrego, ele descreve: "Parece que um rastelo espiritual passa pelo seu corpo".

Dono de uma atuação intensa e palavrosa, Verissimo acha que seu jeito contribuiu para que ele fosse escolhido o protagonista da série.

"Tenho opinião, por isso me chamaram. Não fico em cima do muro. Participo mesmo das coisas", afirma.

Na Bolívia, ele participou até da violência que é inerente ao festival El Tinku, onde os indígenas se agridem com o objetivo de derramar sangue sobre a terra, como forma de agradecer a "pachamama" pela colheita obtida.

"Quando vi o grau de violência, falei: o que estou fazendo aqui? Essa briga não é minha", conta Veríssimo.

Ainda assim, vai em frente. "Mergulho com a minha intensidade, me contamino."

A escolha dos temas procurou evitar "a América Latina fácil" e partir "para ritos e fés que não são os clássicos, mas os mais controversos", diz Fernando Medin, vice-presidente sênior do Discovery Brasil. A série, segundo ele, "é a produção local mais importante" do canal em 2013.

NA TV
Na Fé
Estreia da série
QUANDO quarta-feira (17), às 22h30, no Discovery