Saiu no NP

Profetas do 'NP' previram de catástrofes a fim de casamentos

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Engana-se quem pensa que os jornais só dão as notícias de ontem. Durante três décadas o "Notícias Populares" trouxe aos leitores uma previsão dos eventos futuros de cada ano, contando com a ajuda de diversos especialistas em profecias, desde os sofisticados intérpretes franceses de Nostradamus até jogadores de búzios do Rio de Janeiro.

As previsões quase sempre tratavam de desastres e morte de famosos. Em dezembro de 1966, o jornal recorreu pela primeira vez aos estudiosos de Nostradamus de Paris para lançar luzes sobre o ano de 1967: "Johnson, De Gaulle e Franco vão sumir: Jackie Kennedy casará e BB será infeliz". A notícia previa ainda que a humanidade finalmente chegaria à lua naquele ano, representada por uma equipe russa da qual participaria uma mulher.

Crédito: Folhapress
Um funcionário público, vidente nas horas vagas, anunciou em dezembro de 1968, no "NP", que o Brasil ficaria menos populoso em poucos anos

Infelizmente, o astrólogo do século 16 errou feio: a lua só registrou a primeira pegada humana em 1969 e apenas homens caminharam ali. Os estadistas Charles de Gaulle, Lyndon Johnson e Francisco Franco morreram na década de 1970, e a ex-primeira dama dos EUA Jackie Kennedy só se casou de novo em 1968, com o magnata grego Aristóteles Onassis (a profecia cravava que o noivo seria um italiano). Quanto à infelicidade de Brigitte Bardot, não há dados suficientes para desmentir a previsão...

Catástrofes, desastres naturais e a Terceira Guerra Mundial também foram personagens recorrentes nas profecias do "NP". Em 14 de dezembro de 1968, os leitores se sobressaltaram com a previsão de que metade da população brasileira morreria em 1974. Quem tivesse comprado o jornal naquele dia, portanto, tinha mais cinco anos para aproveitar. A causa? A Terceira Guerra, que envolveria todos –isso mesmo, todos– os países do mundo. O profeta? O funcionário público Antonio Lemos, famoso por prever a morte do ex-presidente Castello Branco.

Alguns augúrios se repetiam ano após ano e diziam mais sobre as obsessões da equipe do "NP" do que sobre o alvo das profecias. É o caso da morte do líder comunista chinês Mao Tsé-Tung, antecipada várias vezes antes de se consumar em 1976. Naquele ano, aliás, o jornal também arriscou o chute, mas o parapsicólogo uruguaio Juan Rocha de Acevedo, conhecido como professor Aladim, errou por questão de meses: Mao morreu em setembro, e não em dezembro conforme o previsto.


Certos videntes se tornaram famosos nas páginas do jornal, a exemplo da astróloga Marlene Deon. Sob o título "Astros indicam um ano de muitas desgraças no mundo", ela discorria em 2 de janeiro de 1980 sobre as catástrofes dos próximos meses. Naquele ano a "face negra da lua" predominaria e traria péssimas influências sobre a Terra, dentre elas as dificuldades de Paulo Maluf à frente do governo de São Paulo e os problemas de saúde de Frank Sinatra e Chacrinha.

Outro astrólogo de renome, Evaristo Seródio, era mais abrangente nas suas profecias e cravou em abril de 1980 que a posição dos planetas indicava o fim do mundo. "Os planetas do sistema solar estão dispostos de maneira bastante peculiar no plano da eclíptica", característica do "alinhamento relativo" que ocorre a cada 179 anos, segundo o profeta. O desequilíbrio astral, portanto, era inevitável e certamente traria a Terceira Grande Guerra. O fato de ela não ter dado as caras mais de 30 anos depois indica erro ou atraso, dependendo do ponto de vista.

Crédito: Folhapress
Saber dos atuais pormenores da vida alheia não era o bastante: os videntes do "NP" também queriam prever o futuro das celebridades

O charlatanismo de alguns videntes irritava os leitores e a equipe do "NP" quando o assunto era futebol e, mais especificamente, a seleção brasileira na Copa do Mundo. Em julho de 1982, após a derrota do Brasil para a Itália na segunda fase, o jornal bradava: "Búzios fajutos de Jair de Ogum: outro vexame da Copa via satélite". O pecado de Jair foi ter previsto, em rede nacional de TV e na véspera do jogo, que a seleção ia levantar a taça naquele ano. "A 'vidência dos painhos' foi pro brejo", reclamava o jornal. "Provaram que chutam mais que os canarinhos em matéria de enganação."

Mas as profecias não foram todas furadas. Apostar no fim do casamento de celebridades era um chute quase certo e os colunistas adoravam consultar os videntes para saber quando e o porquê. Em 21 de fevereiro de 1986, na seção "TVenenos", comemorava-se a previsão certeira de Robério de Ogum, que no ano anterior anunciara o fim da união entre a atriz Cristiane Torloni e o psicanalista Eduardo Mascarenhas.

Se para alguns essas profecias eram mau-olhado, para outros pode ter sido informação de utilidade pública ou, pelo menos, a esperança de receber notícias interessantes ao longo do ano que se iniciava. E para os incrédulos sobrava bastante motivo para rir das crendices dos brasileiros.

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