Pé de maconha vira árvore de Natal na casa de viciado
É Natal! E 25 de dezembro é a data oficial do feriado religioso que celebra o nascimento de Jesus Cristo, a figura central do cristianismo. Para criar clima especial neste período, em quase todos os países do mundo, as comemorações incluem a presença de diversos símbolos, como a árvore de Natal, o presépio, a ceia e o Papai Noel.
Nas páginas do "Notícias Populares", porém, a celebração, a tradição e os símbolos natalinos muitas vezes ganharam em 25 de dezembro retratos de pobreza, violência e até humor.
Um dos exemplos foi o jornal de 1982, em que a árvore natalina, normalmente representada por um pinheiro, rendeu manchete irônica: "Maconha era a árvore de Natal na casa do viciado".
A reportagem trouxe relato de vizinhos de R.H., que afirmaram que o rapaz, então com 20 anos, queria transformar um de seus pés de maconha em árvore de Natal. Inconformado com o alto preço da Cannabis sativa, o jovem decidiu plantar a erva no fundo do quintal de sua casa, no bairro dos Pimentas, em Guarulhos (Grande São Paulo), e viu a plantação prosperar, atingindo um metro de altura.
Indignados, os vizinhos resolveram denunciá-lo à polícia, que o prendeu no local do plantio. R.H. alegou que não era traficante: "Eu não estava mais conseguindo sustentar meu vício. A maconha está cada vez mais cara. Por isso, resolvi fazer essa plantação". O rapaz foi levado à Cadeia Pública de Guarulhos, onde acabou passando as festas de fim de ano.
E o "NP" também reproduziu o desdém de "crentes" com o Natal. Sem se importar com símbolos, testemunhas de Jeová quebraram um presépio, que representa o nascimento de Jesus, com uma manjedoura, os animais, os reis Magos e os pais do menino.
"Crentes chutam o presépio", publicada no "NP" em 1995, relatou que membros das Testemunhas de Jeová afirmaram que comemorar o nascimento de Cristo era besteira. "Sempre comemorei o Natal com toda a família. Montava árvore de Natal, fazia presépio e tinha comida e bebida na ceia. Mas, neste ano, não vou fazer nada, pois senti que tudo isso não tem necessidade. Hoje eu tenho certeza de que o Natal não existe, é uma festa pagã", afirmou à época o funileiro Luís Gomes, 25, que se tornara Testemunha de Jeová.
Paulo de Tarso, 31, também se manifestou na ocasião: "Não comemoramos o nascimento de Cristo. Só lembramos a morte, na Páscoa. Jesus mandou comemorar a morte, que leva à vida eterna".
Tão inusitado quanto as divergências religiosas em relação ao Natal, o criador e agricultor Calixto Rodrigues Neto, 46, também parou nas páginas do "NP" por ter celebrado a data defendendo uma ceia sem peru, ou pelo menos sem o seu peru. O fato de ele ter deixado de assar a ave para a festa motivou em 1998 o título: "Ficou amigo do peru e cancelou a ceia".
Morador às margens da represa Billings, o agricultor Calixto cuidava de perus em sua casa _um, em especial, grandão, que era o reprodutor da criação, uma perua e outros quatro peruzinhos. Além de ter aberto mão de assar o bicho, o dono do peru chamava a atenção por ter preparado um banquete para a ave no dia da festa. A partir dali, na ceia de Natal da vizinhança, a presença e participação do peruzão se tornara obrigatória. "Estou preparando até uma churrascada. Mas peru a gente vai ter de pegar dos outros", afirmou, à época, Calixto ao "NP".
Ao longo de todo o período da circulação do jornal, de 1963 a 2001, foram muitas as notícias natalinas, e o Papai Noel, o responsável pelos presentes das criancinhas, foi o mais assíduo nas páginas do jornal.
Em 1974, "58 Papais Noéis em cana" foi a manchete que destoava da figura inspirada no bispo chamado Nicolau, homem de bom coração que ajudava as pessoas pobres, deixando saquinhos com moedas próximas às chaminés das casas.
A história veio de Copenhague, e os protagonistas do episódio foram 58 profissionais do grupo dinamarquês "Solvogan" (carro do sol), de inspiração marxista. Eles entraram em uma grande loja da cidade, vestiram roupas de Papai Noel, apoderaram-se de brinquedos e começaram a distribuí-los gratuitamente ao público. "Sirvam-se", gritavam eles aos transeuntes, diante das vendedoras das lojas. "Vocês são os produtores, e a vocês somente pertence a produção".
Os bons velhinhos dinamarqueses, porém, tiveram a atuação interrompida pela polícia, mas a ação não foi considerada "roubo", uma vez que os papais noéis se limitaram a distribuir a mercadoria, sem se aproveitar de nenhum objeto de valor.
Outro Papai Noel que ficou famoso, não por deixar ou distribuir presentes, foi Domingos Sávio de Siqueira, 25, que acabou preso quando assaltava a casa do juiz Arildo Barbos, em Campos do Jordão (SP).
Siqueira se inspirara em Papai Noel e decidira entrar na casa pela chaminé. O resultado: ficou quatro horas entalado e virou protagonista de "Papai Noel assado na chaminé", manchete publicada no "NP" em 1991.
Depois de queimar na brasa, ele gritou por ajuda, e uma vizinha chamou a polícia. Contudo o Corpo de Bombeiros também teve que ser acionado para quebrar a chaminé e tirar o ladrão. Assim, da chaminé Siqueira foi direto para a delegacia de Campos do Jordão (SP).
E você é capaz de imaginar como seria o Natal na terra batizada com o nome do bom velhinho?
O "NP" tentou responder a essa pergunta em 2000, quando apresentou aos leitores a manchete "Papai Noel está pobre e esquecido". Engana-se, porém, quem pensa que se tratava da personalidade associada a renas, presentes e trenós. A reportagem versou sobre um bairro pobre da capital paulista, o Jardim Papai Noel, na região de Parelheiros, onde a curtição de Natal, à época, era apenas um sonho para a maioria dos 1.500 moradores.
Sem asfalto, luz nas ruas e apenas com a água, que começava a chegar a algumas moradias no local, o Jardim Papai Noel, criado em 1956, não se preocupava com a ceia ou presentes. Lá uma roda velha era o único brinquedo, evidenciando que viver no Papai Noel era um desafio, fosse Natal ou não, e que as crianças não conheciam o bom velhinho.
Com esses e outros relatos, o "NP" sempre apresentou sua versão do Natal –diferente de ceias fartas ou estouro de champanhe– e expôs duras realidades, até de onde se faltava o pão.
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