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Para 'Rainha da sucata' do interior, perseverança é o segredo dos negócios

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A decisão de trocar um bar modesto por um ferro-velho no final da década de 1960 fez com que muita gente achasse que Zulmira Achite Carreira, 75, e o marido, Antônio Carreira Filho, até então frentista de um posto de combustíveis, estivessem loucos.

Pois a troca revelou-se um sucesso: hoje, ela é uma grande empresária em Ribeirão Preto (313 km de São Paulo). A Zulmira Sucatas tem 120 funcionários, 23 veículos próprios (vários deles caminhões, alguns com garras e caçambas basculantes) e ocupa uma área de 35 mil m² na zona norte da cidade.

O bar que originou a fortuna foi trocado pelo casal em 1969. O boteco ficava na Vila Tibério e dele Zulmira e Antônio tiravam parte do sustento da casa.

A ideia da troca partiu do ex-dono do ferro-velho, que ficava na rua Pernambuco, nos Campos Elíseos, e tinha 400 m².

Segundo Zulmira, ele já tinha idade avançada e se dizia cansado para continuar na administração do ferro-velho.

Como o marido de Zulmira era frentista e seu salário baixo e a renda do bar não eram suficientes para o sustento da família, o casal aceitou correr o risco e concluiu a troca.

Crédito: Edson Silva/Folhapress Zulmira Achite Carreira, 75, dona de ferro-velho em Ribeirão Preto (SP) que a transformou em grande empresária do setor
Zulmira Achite Carreira, 75, dona de ferro-velho em Ribeirão Preto (SP) que a transformou em grande empresária do setor

Na época, os três filhos do casal eram pequenos: Aparecida tinha nove e os gêmeos José e Marco Carreira, dois anos.

Naquele ferro-velho da rua Pernambuco, eles compravam e vendiam de tudo: ferro, vidro, plástico, osso de animal, papelão e sucata. E logo nos primeiros meses, a família começou a sentir a transformação da troca.

LUCRO RÁPIDO

Zulmira diz que, apesar de pequeno, havia grande circulação de dinheiro. "Ao mesmo tempo que a gente comprava e pagava a sucata na hora, também vendia rápido e via o lucro surgindo."

Como naquela época não havia tantos ferros-velhos, as pessoas que coletavam recicláveis nas ruas iam com seus carrinhos na porta do galpão de Zulmira para vendê-los.

Quando o pai morreu, em 1982, os gêmeos estavam com quase 15 anos e começaram a ajudar a mãe com o ferro-velho. A filha trabalhava e fazia faculdade de direito. "Eles temiam passar fome e se empenharam muito para conquistarmos uma vida melhor."

Mas apesar de ir bem, o negócio quase foi perdido. Após a morte do marido, a empresária vendeu o ferro-velho para o cunhado. O objetivo era, segundo Zulmira, melhorar as condições financeiras da família e bancar os estudos dos gêmeos na faculdade.

Logo depois, porém, ela percebeu que cometera um erro. Arrependida, voltou atrás da decisão dias depois, e propôs o dobro ao parente para ter posse do negócio.

"A gente [eu e os gêmeos] via os clientes na rua com carretas transportando sucata e dava vontade de voltar a coletar os recicláveis. A nossa vida estava sem graça [sem o ferro-velho]."

NOVA SEDE

Nesse mesmo período, Zulmira comprou um caminhão e contratou um motorista para transportar os materiais. Eles começaram a comprar sucata de porta em porta nas empresas e em fornecedores.

No galpão, eles separavam o papelão do plástico, o cobre e o alumínio da sucata com as próprias mãos.

Com o tempo, o negócio foi ganhando grandes proporções e Zulmira decidiu sair da rua Pernambuco e alugar um novo espaço maior na rua Major de Carvalho esquina com a José de Alencar, também nos Campos Elíseos.

"Eu queria trabalhar, vender e ganhar dinheiro para não deixar nada faltar em casa", diz a empresária.

Com esse pensamento, em 2000 a empresa de Zulmira deu um salto enorme: mudou do seu galpão de pouco mais de 400 metros para uma empresa de 35 mil m², na rua Peru, Vila Mariana.

O terreno já pertencia a Zulmira e o espaço onde estavam já não comportava o trabalho. Na nova empresa, imensamente maior, cabia o material que passaram a coletar em usinas e indústrias e podiam entrar caminhões.

PERSONAGEM DE TV

Em parte, a história de Zulmira lembra a saga de Maria do Carmo, personagem vivida por Regina Duarte na novela "A Rainha da Sucata", exibida em 1990 na Globo. Como Maria do Carmo, Zulmira passou perrengues na vida. Chegou a passar um dia na cadeia por comprar, sem saber, materiais roubados.

Hoje, colhe os resultados da carreira bem sucedida. Possui cinco fazendas e vários imóveis pela cidade. Ela não revela os lucros da empresa, mas conta que vende por mês cinco toneladas do material reciclável que coleta -95% são sucata metálica e os outros 5% papelão, plástico e material não ferroso.

Um cálculo feito no mercado em Ribeirão mostra que uma empresa desse porte pode faturar R$ 400 mil por mês com a venda de cinco toneladas de material usado para fundição -o quilo desse produto varia de R$ 0,70 a R$ 0,80 na cidade.

"Eu não imaginava chegar onde cheguei", diz. "Mas posso dar a dica: perseverança é o segredo do sucesso."

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