Todo fim de ano é assim: a internet é tomada por esses teens de mais de 30 anos que, oh meu Deus, não suportam o Natal. "Ai, que horror ter que ouvir as opiniões da minha família conservadora." "Ai, não aguento mais a conversa das tias perguntando pelos namoradinhos/as." "Ai, é tudo uma hipocrisia tão grande." "Ai, eu sempre me senti horrivelmente deslocado/a e quero fazer um Festivus à moda de 'Seinfeld', mas não encontro quem seja tão louco/a por séries quanto eu."

Na boa, meu amigo, minha amiga: sejam quais forem as tais "opiniões conservadoras" dessa sua família, tenho certeza de que todos os seus parentes merecem um lugarzinho no céu por aturar, Natal após Natal, uma pessoa CHATA como você. E não só aturar como, muitas vezes, servir generosas porções de peru com maionese, bebida à farta e aquela maravilhosa invenção do engenho humano que são as rabanadas (um 25/12 que inclua café com rabanadas na hora em que acordamos, nem que seja às 17h, tem de ser um Natal feliz). Aí vai você lá, com a barriga cheia, choramingar nas redes sociais. Ingrato.

Não me entendam mal: compreendo inteiramente gente para quem o Natal é uma data triste, por variados motivos –tenho exemplos próximos, inclusive. Posso imaginar que pessoas sem sentimento religioso não vejam na data a beleza da vida nascendo e se afirmando em circunstâncias adversas (o Verbo se fazer carne e habitar entre nós não é coisa banal, mas a tradição é ainda anterior ao cristianismo: em dezembro os antigos romanos, por exemplo, festejavam o Dia do Sol Invicto e trocavam presentes durante a Saturnália, como sinal de que o pior do inverno já havia passado e a primavera estava a caminho). Posso até supor que haja um ou outro maluco que, sei lá, simplesmente não goste de ganhar presente.

Mas não tenho paciência nenhuma para essa turma que deveria ter saído da adolescência há anos e faz questão de mostrar pela internet o quanto é cool, diferentão e antinatalino. Se eu fosse a avó deles, ficaria muito chocado mesmo -e expulsaria os malas da ceia a bengaladas. Deixem o peru, a maionese e principalmente as rabanadas pra quem merece.

Fora do mundo do F5, o acontecimento da semana foi o reatamento das relações diplomáticas entre EUA e Cuba. A melhor tradução da notícia para os leitores deste site apareceu no Twitter de alguém cuja arroba não lembro: é como o Silvio Santos recontratando Hebe Camargo pouco antes de ela morrer (que a Hebe me perdoe pela comparação, já que ela sempre foi muito mais gracinha que o Fidel –exercia sua ditadura apenas nos nossos corações. Assim como o Patrão é mais legal que o Obama: manda aviãozinho de dinheiro na cabeça das pessoas em vez de mandar drone, ma oeeee!)

Vou nem fazer com Cuba a piada de quinta série que começa com "Brasil já lançou foguete" porque a) cerca de 150 mil tuiteiros engraçadões já fizeram e b) minha mãe anda me lendo (oi, mãe) e ela detesta que o filho fale palavrão: "Não foi pra isso que eu te criei, menino!". Verdade, ela me criou pra ser um lorde –goiaba, porém lorde. É que o Brasil desencaminha a gente, né? Ninguém sobrevive à avacalhação brasileira sem desenvolver um mínimo de casca grossa.

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RUY GOIABA tem absoluta certeza de que 2015 será um ano ímpar. Felizes entradas, leitores!