HUMOR: Tem culpa eu? Ô, se tem!
Todo dia é assim: mal acordo e, antes que eu consiga lavar o rosto e escovar os dentes, antes mesmo que eu possa tomar café e me sinta minimamente apto a encarar este mundo hostil, colunistas de jornais e sites –essas reservas morais da nação– vêm esfregar ALTAS VERDADES na minha cara. Outro dia, como já escrevi aqui, fui acusado de cumplicidade em corrupção na Petrobras, sem nunca na vida ter aderido a esse costume, supostamente brasileiríssimo, da "cervejinha pro guarda" –e sobretudo sem ter recebido nem meio litro de gasolina gratuita de Paulo Roberto Costa e sua turma.
Mais recentemente, descobri que a culpa por Andressa Urach, nossa querida vice-Miss Bumbum, ter sido internada por injetar hidrogel nas pernas é minha: não só minha como da "raça macha" a que pertenço desde o nascimento. Nunca vi a Andressa pessoalmente, não tive nenhuma namorada parecida com ela e muito menos pressionei qualquer uma a mudar o que quer que fosse no corpo delas (pra mim estava tudo ótimo, chuchu-beleza). Não importa: tenho que assumir meu quinhão de CULPA por ter imposto um padrão de beleza impossível de atingir. Sem contar todas as vezes em que acordo e descobri que cometi algum homicídio enquanto estava dormindo, como reclama o amigo Guy Franco neste texto.
Caras, deem um tempo. Já tenho dificuldade pra expiar meus pecados individuais –quanto mais os coletivos referentes a meu sexo, minha raça ("macha", branca, seja qual for), minha classe social, minha profissão. E juro que o mundo já estava desse jeito quando cheguei. Estou me esforçando pra melhorar, mas é chato que essa gente de bem do colunismo nacional continue metendo o dedo na minha cara e soltando perdigotos enquanto discursa. Pelo visto saiu de moda aquele conselho de tirar a trave do próprio olho antes de apontar o cisco no olho alheio: apontar dedos tornou-se uma profissão rentável.
Agora, com licença, que vou ao self-service colocar no meu prato pelo menos meio quilo de culpa pequeno-burguesa.
Saudade do Twitter analógico dos meus tempos de faculdade. Naquela época, gigantescos répteis caminhavam sobre a Terra e a internet comercial no Brasil ainda estava alguns anos distante. Os tuiteiros do século passado escreviam na parede do banheiro. Asseguro a vocês que o conteúdo era o mesmo, com a vantagem de não ter foto no Instagram pra ilustrar.
A melhor lição de política que já recebi está numa conversa entre dois interlocutores anônimos –nunca soube quem eram os autores– nessa parede de banheiro. Um deles escreveu que Fulano, figura proeminente e, com justiça, detestada pelos alunos da faculdade era "burro". Outro foi lá e respondeu: "Fulano não é burro. Burro é você, que não sabe a diferença entre um canalha e um burro". Eu me lembro disso a cada eleição no Bananão, mas a lição ficou para toda a vida.
RUY GOIABA acha que a culpa é da sociedade por ele ainda não estar milionário com suas colunas. Vocês me devem isso, brasileiros!
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