HUMOR: 24-Hour Treta People
Vocês se lembram das eleições? Lembram da radicalização, das paixões políticas inflamadas, das pessoas praticando o que um amigo gaúcho chama de "briga de bugio" (umas jogando cocô nas outras)? Lembram como eu mesmo pensei –e devo ter chegado a escrever– que a política era a causa dessa animalização generalizada, visível sobretudo nas redes sociais?
Hoje sinto como se Compadre Washington estivesse incomodamente próximo, gritando SABE DE NADA, INOCENTE! no meu ouvido. A eleição acabou, mas o Facebook e principalmente o Twitter permanecem em ritmooo, ritmo de treta –non-stop, 24/24, eight days a week, sem tirar.
A adrenalina das brigas on-line é um troço tão poderoso que os brigões circulam pelas ruas virtuais naquela fissura pra fazer o pau quebrar, à procura de um pretexto –e NENHUM pretexto parece ridículo o suficiente para evitar o bate-boca. E nem são brigões profissionais: lembram aquele desenho do Pateta em que o pacato Sr. Andante, uma vez no carro, se transforma no monstruoso Sr. Volante. Você com internet na mão é um bicho feroz, feroz.
Exemplos? Pois não. Vou pular de propósito a treta que mais mobiliza a internet nos últimos dias, envolvendo dois lados que aparentemente creem que, quando a causa é justa, não existe linchamento (se for virtual, então, pode arregaçar que tá liberado). Mas o assunto é bem sério, esta coluna pretende ser de humor e gente mais qualificada que eu já vem tratando do caso.
Então vamos ao Chaves. Morre o Roberto Gómez Bolaños, comoção nas redes sociais, homenagens, memes etc. Aí alguém diz que "Chaves" era uma merda. Outro alguém, de uma geração anterior, traz o Didi de Renato Aragão –"melhor que Chaves"– pra conversa. Surge um terceiro indivíduo e decreta que tanto Didi quanto Chaves eram uma bosta. Pronto: pau comeu na casa de Noca. Nem sai sangue de verdade, como no MMA, nem é engraçado como se o Mussum (ou Seu Madruga) estivesse no meio do rolo, mas pode ser MUITO chato. E ninguém parece perceber o ridículo essencial de se engalfinhar por causa do fucking "Chavo del Ocho".
Minha amiga Sylvia Colombo, por exemplo, talvez pessoalmente ofendida pela existência de gente que gosta de Chaves (tipo o Iggy Pop toda vez que ouvia "California Dreamin'" no rádio), virou alvo de pedradas nas redes sociais por causa do texto em que chochava o personagem. Discordo de muita coisa ali –pra começar, a "divisão entre gente de bem e gentalha" na série vem do Quico, garoto rico e mimado que é claramente objeto de ridículo dos outros. Fora isso, indignar-se porque pessoas veem Chaves em vez de ler Octavio Paz é tão sem sentido quanto ficar irritado porque no mundo existem muito mais fãs da Miley Cyrus que do Saul Bellow.
Mas, como sói acontecer nas redes sociais, vi manifestações desproporcionalmente agressivas contra o texto dela, que afinal é só uma opinião divergente. Faltam-nos, cada vez mais, sábios como Carla Perez ("se nem Jesus Cristo agradou todo mundo, não é eu que vai agradar"). E quem não quiser fechar o Twitter e o Facebook pra sempre que se prepare para os próximos embates sangrentos: team biscoito contra team bolacha, "é pique" versus "é big", feijão por cima do arroz x feijão por baixo. Um deles será o estopim da Terceira Guerra. Quem viver verá.
RUY GOIABA é mais Renato Aragão que Bolaños, mas sente saudades eternas de Didi como Maria Bethânia e do Marlon Brando manteigando a Maria Schnaida.
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