HUMOR: 'Vocês qualquer 23 bilhãozinho roubado é nooossa'
Vocês são mesmo umas gracinhas. Não, não vocês —vocês aí, que passaram a papagaiar os discursos "todo mundo faz" e "a corrupção no Brasil não é de hoje" (cêjura?) assim que as revelações sobre a corrupção na Petrobras começaram a atingir com mais força aquele partido que 'cês adoram. Vou dizer uma coisa: é MUITO chato eu também ser culpado (como todos nós! Batam no peito e se penitenciem, brasileiros!) pelos desvios na estatal e acordar todo dia sem um tostão a mais na minha conta. "No bônus, yes ônus": me chamam de corrupto e nem me dão um apê em Paris pra chorar as mágoas.
Na semana passada, gente cuja opinião respeito compartilhou feliz aquele artigo do Ricardo Semler no "Tendências/Debates" (a propósito, como comentei no Facebook, não consegui descobrir até agora qual é a "turma global" citada por ele que estima a corrupção brasileira em 0,8% do PIB. Estou propenso a acreditar que são mesmo os illuminati), dizendo que era uma espécie de antídoto contra a "histeria". Agora vamos parar e meditar sobre essa palavra —sexista desde a origem, aliás.
De onde vem a histeria nesse caso? Da imprensa? Bom, nunca antes na história deste país empreiteiros foram para a cadeia, o que é MUITO notícia: é uma tradução exemplar de "homem mordendo cachorro". Da oposição ao PT? É óbvio que os oposicionistas, que já foram governo (e, nessa condição, também têm seu quinhão de malfeitos nas estatais), vão tentar se aproveitar politicamente do episódio –assim como o governo Dilma, que "manda investigar". E talvez nem possam se beneficiar tanto; afinal, pelo menos um grão-tucano já teve seu nome citado na delação premiada. A histeria viria então das redes sociais? Bom, elas já são histéricas SEMPRE; ninguém ali, incluindo vocês e eu, precisa de muito pretexto pra gritar.
Excluindo isso, o que sobra é achar que o cidadão comum é "histérico" ao se espantar com um roubo que, se confirmado, é mais que o Bolsa Família pago a 14 milhões de famílias no país todo por um ano. Isso é de um conformismo tão, mas tão bovino que faz os protestos de junho de 2013, vistos em retrospecto, parecerem cada vez mais um espasmo inexplicável.
É claro que o texto do Semler, como outros, toca em pontos importantes (embora não escape ao clichê extraordinariamente brega do "quem de nós nunca deu uma cervejinha a um guarda?". Fale por você, cara). Recentemente, Fernando Rodrigues publicou um post que mostra como os negócios das grandes empreiteiras brasileiras dispararam a partir da ditadura militar. E foram muito bem lembradas as ameaças da Petrobras, na gestão FHC, a Paulo Francis –pressão que teria precipitado a morte dele (entre parênteses, acho engraçado como gente que odiaria o Francis se ele estivesse vivo consegue usá-lo, sem grandes pruridos, como cadáver útil para bater em adversários. É meio que transformá-lo no coelhinho Sansão da Mônica).
A corrupção nas estatais do Brasil tem, sim, uma longa história. E agora eu lhes pergunto: e daí? Invertendo o sinal: vocês conseguem imaginar o ridículo que seria, por exemplo, um tucano dizendo "ai, gente, vamos parar de falar nesse cartel dos trens. Coisa mais histérica, hipócrita. Com Maluf e Quércia era muito pior"? Sem dúvida, até porque era bem difícil não ser melhor: por isso, aliás, os brasileiros foram votando em oposições (PSDB, depois PT) que, uma vez no governo, aderiram gostosamente ao que atacavam.
Que se faça a investigação na Petrobras recuando até o Pleistoceno, se necessário. Que quem roubou seja punido, seja qual for a filiação partidária. Mas não me venham com esse papinho de ressaltar a "responsabilidade de todos" para encobrir responsabilidades muito específicas e particulares. O nome disso em bom português é safadeza. E não no melhor sentido.
RUY GOIABA defende a safadeza no bom sentido, mas tem dúvidas sobre a viabilidade de uma Sacanagembrás.
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