Factoides

HUMOR: Ele é rico. Ele é idiota. Ele é o Rico Idiota

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O jornalismo brasileiro se reinventa continuamente. Depois da editoria "Caetano estaciona carro no Leblon", praticamente toda semana veículos impressos ou on-line trazem aquele tipo de reportagem que uma amiga batizou de "alá o rico idiota". A receita para fazê-la é bem simples: a) vá a um lugar onde se reúne gente endinheirada, de preferência dondocas; b) espere começarem a falar merda, o que leva em média 30 segundos; c) grave tudo —se for possível, filme; d) coloque no ar.

Sempre bomba, nunca falha: é só dar corda que as entrevistadas se enforcam. Na verdade, é o tipo de coisa que funcionaria do mesmo jeito se você deixasse soltos, com o superego desligado, taxistas, fashionistas, indignadinhos do Twitter, eu, você e a torcida do Corinthians. Basta uma edição competente das melhores cretinices —ditas ao longo de uma hora, um mês ou uma vida inteira— e voilà: suas videocassetadas mentais estão prontas para servir, para a gargalhada do resto do mundo.

Mas, claro, é sempre mais legal ver a dondoca endinheirada ou o rei do camarote sendo imbecis porque nós —classe média esclarecida, mas nem por isso imune ao ressentimento— nos sentimos VINGADOS. O sujeito vai pra balada levando no pulso um relógio que custa o PIB de pequenos países africanos, mas é uma anta: eu lato no quintal para economizar cachorro, mas não me exponho ao ridículo assim, ufa. "Os ricos têm mordomos e não têm amigos, nós temos amigos e não temos mordomos", como escreveu o poeta Ezra Pound (mentira, os ricos têm muitos amigos e sabem até onde comprá-los baratinho).

Crédito: Luciana Whitaker - 10.fev.13/Folhapress Narcisa e uma amiga usando máscaras de Narcisa no baile do Copa. Ai, que loucura! Também quero uma!
Narcisa e uma amiga usando máscaras de Narcisa no baile do Copa. Ai, que loucura! Também quero uma!

(Às vezes as reportagens também servem para que a gente se sinta politicamente validado: "Ah, mas é ÓBVIO que a rica idiota tinha que votar no Fulano, ou na Sicrana". Lamento dizer, amiguinho, que também está assim de gente imbecil votando no seu candidato —no meio de milhões de votos, seria estatisticamente impossível que isso não acontecesse. E, se você olha à sua volta e não vê ninguém assim, recomendo espelho: grandíssima possibilidade de o imbecil ser você.)

Noto que o rei do camarote é uma exceção: em geral, os alvos desse tipo de matéria são mulheres, e não homens. Fico pensando se, numa disputa eleitoral hoje liderada por duas mulheres, isso não acaba por estimular o sexismo dos comentaristas de internet —esses seres abissais— reforçando o estereótipo contrário: a "mulher fútil", esse ser que merece execração generalizada (e ainda por cima RICA, o que um inglês chamaria de "add insult to injury" —em tradução criativa, jogar sal na ferida). Que muitas sejam fúteis mesmo não muda o fato de que são alvos fáceis. Os alvos difíceis, afinal, estão longe das câmeras, financiando as campanhas, e vão continuar mandando no Bananão seja qual for o resultado do pleito.

Um brinde, portanto —com sidra—, à nossa notável esperteza.


É muito fácil de saber quando uma discussão passou dos limites: quando aparece MAIS UMA versão engraçadinha daquele filme com o Hitler dando chilique. Vale para qualquer assunto, da Copa à eleição, das ciclovias à imposição da depilação pela sociedade patriarcal. Na impossibilidade de abater a tiro os autores das paródias —o que é crime e dá cadeia—, vou seguir a sugestão de um amigo e fazer vídeo do Hitler dando chilique por causa da profusão de vídeos do Hitler dando chilique. Se não pode vencê-los etc.


RUY GOIABA, entre uma conta a pagar e outra, gosta de se compadecer daqueles que vivem muito melhor que ele.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias