Disse aqui na semana passada que não sabia o que escrever depois do fim da Copa, mas era coisa de junkie em plena síndrome de abstinência: relevem, por favor. O mundo é um lugar tão cheio de gente falando e fazendo bobagem (por exemplo, eu escrevendo isto aqui e vocês perdendo tempo com a leitura) que a coluna quase se faz sozinha: o colunista só tem o trabalho de levar o laptop pro sofá –lugar de onde julga os vivos e os mortos– e selecionar os melhores momentos.

Eu me sinto uma espécie de sommelier de chorume, também conhecido como chorummier ("notas de ignorância com retrogosto de falta absoluta de superego"). Embora preferisse experimentar aqueles vinhos caríssimos que o Renato Machado bebe, às vezes é divertido. Mas seria mais fácil se, assim como sites geológicos advertem quando acontece um terremoto, a gente recebesse um e-mail avisando que um CERUMANO ultrapassou os 9 graus na escala Richter da cretinice.

Enquanto o progresso da ciência não se materializa nesse cretinômetro, aqui vão os meus highlights da última semana:

O manifesto dos "ómi cencíveu"

Saiu na Ilustrada, em matéria da amiga Giuliana Vallone: a campanha "Homens, Libertem-se", que reivindica o "direito à sensibilidade" para os seres dotados de cromossomos XY. Quem quiser participar deve doar uma calça para, em troca, receber uma saia estampada com as diretrizes do manifesto (já não curti; preferia um chemisier, que é mais elegantezinho). Além disso, será feita uma queima de objetos que, ahn, "simbolizam o conceito de masculinidade", como gravatas, cintos e dinheiro -só que esse último é de mentirinha (pô, por que não de verdade? Afinal, 'cês são homens ou não são?).

Aí você vai ler o manifesto dos caras e descobre que uma porção de coisas que muitos já fazem eram "proibidas" –e, olha só, ninguém sabia. Por exemplo: "posso brochar". Sério que antes não podia? Como é que todos nós –com a exceção do Ziraldo, que nunca brochou– escapamos da multa ou do curso obrigatório de reciclagem no Boston Medical Group? Outra: "posso não gostar de futebol". Amigo, quem te OBRIGA? Mais uma: "posso me maravilhar diante da beleza de uma flor". Juro que não fazia ideia de que gay é um homem que aprecia flores (achava que fosse um cara que gosta de cupcake).

Em suma: se você foi criado pela sua avó, é hora de se libertar. Mas não precisa necessariamente vestir as anáguas dela.

COTAÇÃO: quatro Caetanos Velosos de saia, de cinco possíveis.

O deputado e a teoria com piração

Aquele deputado que ganhou o BBB, e que alguns de vocês insistem em levar a sério, resolveu compartilhar sua SABEDORIA sobre a tragédia do voo que caiu na Ucrânia, matando quase 300 pessoas –a principal suspeita é que os separatistas pró-Rússia que dominam a região tenham derrubado o avião por engano, acreditando que era uma aeronave militar.

Como entre os passageiros havia pesquisadores e ativistas que viajavam para uma conferência sobre Aids, o deputado com nome de jipe –logo secundado por esse outro CÉLEBRO brilhante que é Tico Santa Cruz; "great minds think alike"– levantou a hipótese de "ataque homofóbico" ao avião. Claro, é tudo muito plausível: separatistas nos cafundós da Ucrânia, ou seja lá quem tiver disparado o míssil, têm acesso prévio à lista de passageiros de um voo que sai da Holanda, identificam os pesquisadores e dizem "num gostamo de gay; vamo derrubá esse avião que senão esses cara aí vai curá os gay tudo" (como se a Aids não fosse, há muito tempo, uma doença que afeta pessoas de todas as orientações sexuais).

COTAÇÃO: cinco sorvetes na testa, de cinco possíveis.

O retorno do técnico anão

Aí a CBF escolhe de novo um técnico que deveria ter sido cortado pela seleção natural se coubesse ao Darwin escalar o time da espécie humana. Como é o macróbio Marin, que também não passa ileso pelo mata-burro, ele chamou o Dunga. Em se tratando da CBF, nada mais esperado, mas eu li gente falando A SÉRIO em "Guardiola na seleção". E essa gente se acha no direito de tirar sarro de quem acredita em duende. Ou da carta da dona Lúcia, aquela que o Parreira leu. Francamente.

COTAÇÃO: sete gols da Alemanha, de cinco possíveis (só no primeiro tempo).

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RUY GOIABA só é cretino socialmente, mas evita sê-lo nas redes sociais. Nem sempre consegue.