Factoides

HUMOR: Uma aventura de Cornão, o Bárbaro

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A literatura não morreu. Só piorou bastante.

Cornão, o bárbaro da Ciméria, estava cansado de cavalgar pelas estepes frias da Frígia. Ele queria amar mulheres e devorar leitões. Ou amar leitões e devorar mulheres. O que fosse mais fácil. Então ele avistou a coluna de fumaça que saía da estalagem "O Ciclope Caolho".

"Vamos, cavalo filho de uma égua!", ele disse e saiu galopando em direção ao local. O cavalo foi atrás, ainda ofendido com as palavras duras do bárbaro.

Cornão empurrou a porta da estalagem e entrou. O lugar estava cheio de babilônios e bizantinos, beócios e capadócios, sumérios e sumários, sodomentos e gomorrentos. O bárbaro já havia se enfiado em buracos piores. Mas era uma coisa muito íntima e ele não queria falar sobre isso.

Cornão, o cimério, se acomodou numa mesa próxima à lareira e ordenou:

"Por Cráu, estalajadeiro! Traga-me uma caneca de cerveja, uma mulher macia e um leitão assado! Ah, e pode trazer o couvert também!"

O estalajadeiro aproximou-se da mesa e foi taxativo:

"Nós não servimos porcos da ciméria aqui, bárbaro!"

Cornão sentiu o sangue primitivo ferver em suas veias selvagens. Enfurecido, ele empunhou a espada e ficou de pé em um salto.

"Por Cráu, cão sarnento da Frígia! Por acaso julga-me um morfético moribundo da Mauritânia, seu pérfido patife do Peloponeso?! Vou parti-lo ao meio, asno asmático da Assíria!"

Quando perceberam que a coisa terminaria em tragédia, os babilônios e os bizantinos, os beócios e os capadócios, os sumérios e os sumários, os sodomentos e os gomorrentos jogaram-se todos juntos sobre o bárbaro black bloc incivilizado e cafajeste.

Mas o violento Cornão meteu a espada em todos eles, decepando braços, baços, pernas, pés, cabeças, troncos e membros. A estalagem ficou banhada em sangue e enfeitada de vísceras.

Ainda faminto e com frio, mas com o ódio em seu peito saciado, Cornão guardou a espada, saiu porta a fora e partiu galopando, sempre seguido por seu fiel cavalo.

Estatelado no chão, o estalajadeiro ensanguentado apenas murmurou:

"Por Ishtar, que freguês difícil! Os porcos da Iskândia são muito mais saborosos..."

Crédito: Edson Aran Edson Aran
Edson Aran


EDSON ARAN é autor de seis livros. O mais recente, "O amor é outra coisa" (Jardim dos Livros), fala sobre o sentido da vida e tem mais de duzentos pensamentos cretinos. Também é roteirista. Seu site é o www.sitedoaran.com.br

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