Já vi gente colecionar sabonete. Papel de carta, selo e dente de leite dos filhos. Mas ultimamente surgiu uma moda nova, vocês devem ter reparado. Vou chamar de moda, por dois motivos: primeiro, porque tem moda que também é brega, né? Segundo porque, confesso, não sei do que chamar. Não é um movimento, porque ninguém combinou de fazer. Não é uma mania, e não tem sequer uma hashtag! Mas está acontecendo, diante dos nossos olhos.

Estou falando da síndrome da foto-com-morto-fresco. A síndrome foto-com-morto-fresco vem tomando as redes sociais. Basta morrer alguém e, voilà, é dada a largada pra postagem de foto-com-morto-fresco. Existe nessas postagens uma regra subjetiva: quanto mais rápido se posta a foto, maior é o grau de intimidade com o morto. Demorou para postar, ih, a foto é de 1998 e estava salva em um CD de 2002, quando você escaneou para postar no álbum "It's My Life" do Orkut.

Curiosamente, há algumas décadas, o negócio era pegar autógrafo. Aí acontecia um mercado de autógrafo-do-morto-fresco e olha, havia quem fizesse fortuna! As pessoas pegavam autógrafo e guardavam o pedaço de papel, guardanapo, camiseta, por anos. Planejavam festa de casamento, viagem e troca de carro. Planejavam sem data, claro: era para assim que o autografante não pudesse mais autografar.

Com o autografante vivo, não valia muito —afinal, sempre havia a chance de conseguir um autógrafo também, por mais remota que fosse. Mas depois, as máquinas fotográficas ficaram mais acessíveis, digitais, e foram parar no celular. E desde então essa prática de postar fotos com famosos tomou conta da internet, até chegarmos ao tema desse texto: a foto-com-morto-fresco.

A foto-com-morto-fresco virou figurinha, se você não tem, não completa o álbum 2014. Parece cartela de bingo, rola uma competição silenciosa. Quem postar três fotos-com-morto-fresco seguidas, pede música no "Fantástico". Uma loucura! Isso sem contar que a foto-com-morto-fresco rende muito mais "likes" que a foto do almoço, né? Só vantagem. Deve ser por isso que aquela cantora cobra pelas fotos. Ela é um futuro morto-ostentação.

Até porque é claro que isso só vale para famoso (acho até bom mudar o nome, vamos chamar de foto-com-famoso-morto-fresco) e às vezes, no fim dos shows, algumas pessoas pedem pra tirar foto comigo. Claro que acho um barato, mas morro de medo de morrer!

E se eu morro antes de ficar famosa, minha foto vai parar numa pasta qualquer de backup depois de alguma formatação no seu notebook? Espero ficar famosa antes, mas aí tem o outro lado da história: quem tem a foto, posta e marca o ponto. E daí, bem, só quem não tiver foto comigo é que vai ficar inconformado que eu morri.

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CRISS PAIVA é uma das principais representantes do sexo feminino na comédia stand up. Faz parte do grupo Humor de Salto Alto e integra o elenco rotativo de humoristas do programa "Fritada", no canal pago Multishow. Também participou de quadros de humor no "Tudo É Possível" (Record) e no humorístico "A Praça É Nossa" (SBT), entre outros programas de TV.