Factoides

HUMOR: Para onde vão os memes quando morrem?

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Vocês se lembram daqueles vídeos com as pessoas dançando Harlem Shake? São anteriores à Revolta da Vacina. Assim como o "Gangnam Style" do Psy, da mesma época em que os brasileiros usavam chapéu de palhinha e andavam de bonde. E aqueles textos nas redes sociais cheios de "quem curte?" e "seu lindo!" têm, por baixo, a mesma idade do Ruy Barbosa.

Nunca o passado recente foi TÃO antigo como depois que a internet apareceu. A ideia de que as coisas recentíssimas logo ficam velhas de séculos é do Nelson Rodrigues, santo padroeiro desta coluna —no fim dos anos 60, Nelson dizia que a notícia X ou Y, que acontecera no dia ou na semana anterior, já era "mais antiga que o primeiro espartilho da Sarah Bernhardt". Imaginem hoje, neste mundo em que as notícias mal acontecem (ou nem acontecem) e já BOMBAM NA INTERNET.

Quando conto às pessoas que comecei meu blog em 2001 (e 'fechei o lodjinha' em 2008), a reação é quase como se eu dissesse "só tinha mato nessa internet quando eu cheguei, cara! Abri espaço na base do facão". Acho superlegal se sentir bandeirante, desbravador e tal —e o melhor, sem precisar pegar malária nem escravizar nenhum índio, mantendo o traseiro firmemente assentado no sofá. Ao mesmo tempo, temo me tornar uma daquelas pessoas saudosistas que colocam na internet aquelas propagandas amareladas do Aquaplay com legendas do tipo LEMBRA DISSO!!! QUE SAUDADE???, com a pontuação toda erradinha. (Sim, eu me lembro do Aquaplay e tinha blog em 2001. Agora vamos mudar de assunto, OK?)

Brinks, não precisamos mudar de assunto: sou mesmo mais velho que o primeiro espartilho da Sarah Bernhardt. E tenho até saudades do Orkut e de quando as pessoas conversavam pelo MSN, mas não exerço —se por acaso você usa "seu lindo!" até hoje, prepare-se para ficar com a cara dos seus avós dizendo que alguma coisa é PRAFRENTEX. Minha pergunta é: para onde vão os memes e as modinhas de internet quando morrem? Existe na "nuvem" algum tipo de cemitério para eles?

E eu mesmo arrisco uma resposta: não morrem. Só hibernam por um tempo: quando aparece uma nova leva de "nativos digitais" que nasceram ontem, você sempre pode pegar um meme velho (tipo aquele do "você não é profundo, não é poeta etc.; só tem acesso à internet") e apresentar como se fosse criação sua. Felizmente —nesses casos específicos—, o Google não esquece.

Crédito: Divulgação Nelson Rodrigues previu a internet, ficou deprê e dormiu em cima da máquina de escrever
Nelson Rodrigues previu a internet, ficou deprê e dormiu em cima da máquina de escrever


A história é de fevereiro, mas voltou a circular recentemente: faxineira de uma galeria de arte italiana joga no lixo a obra de um artista americano. A obra consistia em jornal amassado, papelão e farelo de biscoito —e custava mais de R$ 30 mil. É lógico que vocês e eu somos solidários à faxineira: quem de nós, munido de balde, esfregão e da missão de limpar, não faria exatamente o mesmo, antes que o fruto da genialidade do artista se enchesse de baratas?

Vai ver o autor da obra até previu o que a moça da limpeza faria. Ou foi tudo combinado mesmo e é tudo ARTE, inclusive jogar a obra no lixo. De todo modo, um viva aos faxineiros-críticos: às vezes, uma boa faxina é a única crítica possível.

RUY GOIABA já fez muita arte, mas nunca expôs em galeria nenhuma.

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