Factoides

HUMOR: Este mundo é um pandeiro

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Se você está lendo este texto em plena terça-feira de Carnaval, é porque ou não gosta desse negócio de gente se divertindo, com aquele bom humor insuportável, ou a ressaca —física e, talvez, moral— é tanta que não dá nem pra se arrastar até a praia. (Se é que você encarou dez horas de trânsito pro litoral; se não encarou, pode trocar "praia" por "piscininha Regan".)

Seja como for, meu amigo, não há como escapar do Carnaval nesta época -seja no Brasil, seja no mundo. Antes você podia se esconder no túmulo do samba, mas agora até a sua bisavó lituana sai num dos 2 milhões de blocos carnavalescos de SP. Você foge para os Euá e, na festa do Oscar, tem gente distribuindo comida e fazendo "selfie", que nem nos blocos (e o Leonardo DiCaprio, que é uma espécie de Portela da estatueta dourada). Aí você se manda pra Europa e encontra o Bloco Soviético arrasando na Crimeia, com o auxílio luxuoso dos Filhos de Putin.

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Já que não há escapatória —no Rio, parece que até os garis estão todos sambando em vez de varrer as ruas; e eu que pensava que fosse só o Renato Sorriso—, o negócio é cair no samba mesmo, rapá. Embora meu suingue e manemolência na hora de dançar sejam um misto de escandinavo com Coisinha de Jesus, gosto de verdade de samba (e de marchinhas). Quando crianças, eu e meus irmãos inventamos um samba-enredo que não devia nada em surrealismo aos verdadeiros. Não me lembro mais da letra; só lembro que incluía uma ode ao ventilador, "maravilha da tecnologia". Melhor que "lá se foi o bacalhau pelos mares da paixão", admitam.


(Aliás, uma decepção da infância: eu achava que "abadá", como os do Carnaval baiano, fosse uma coisa étnica, uma roupa diferente. Aí descubro que, em geral, são camisetas feias pra burro, que parecem de time de futebol da terceira divisão, e caríssimas. Pagar quase dois paus pra ser esmagado enquanto vê Ivetão cantando não é exatamente minha ideia de diversão.)

Seja como for, nada impede que você se divirta mesmo sendo, como eu, um escandinavo do samba. Até já fundei blocos: o Tira a Tanga que Eu Sou Antropólogo, para sambar a dois (ou, sei lá, três, dez ou vinte, se houver PESQUISADORES suficientes), e o Derrida ou Desce, único bloco de Carnaval desconstrucionista do mundo -ele reúne todo mundo que não sai de casa porque não quer ver gente e fica no quarto ouvindo Smiths ou Velvet Underground. E ainda fui convidado pro Me Bate que Eu Sou Jornalista, que deve sair em SP na Quarta-Feira de Cinzas.

Resistir ao Carnaval é inútil, brasileiros e brasileiras. Ele sempre vence. Lembrem-se de que, como diria Oscarito, este mundo é um pandeiro -e quem fornece o couro somos nós.


RUY GOIABA é o maior fundador de blocos de Carnaval imaginários do Brasil -seu currículo inclui também o Filhos de Gramscy. E tem saudades eternas dos carnavais televisivos da finada Manchete e da Bandeirantes. Fecha na Prochaska!

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