HUMOR: Retrospectiva 2013 - O ano da Revolução do Busão
E 2013 voou. O embarque foi confuso, o portão estava errado e teve atraso na decolagem. Mas voou. Não tão alto quando a inflação, mas nem tão baixo quanto o PIBinho do Mantega.
O ano mal tinha começado e o Papa Bento 16 aproveitou que todo mundo estava na sacanagem do Carnaval e decidiu renunciar. O alemão não aguentou a pressão. Ou então precisava de mais tempo para restaurar a "Ordem dos Sith" e esmagar a Aliança Rebelde. Vai saber.
Mas isso foi bom, porque aí o Conclave elegeu o Papa Francisco e o mundo inteiro voltou a ter fé. Afinal, se Deus é capaz de fazer um argentino humilde, Ele é capaz de operar qualquer milagre!
Quem também renunciou foi a Luana Piovani. Ela anunciou que não tinha maturidade para redes sociais e abandonou o Twitter. Ah, Luana, volta. Ninguém tem maturidade para rede social. Se tivesse não daria "curtir" em foto de gato, não faria "selfie" em funeral e nem publicaria frases cretinas atribuídas a escritores famosos.
"Quando começo a dançar, eu te enlouqueço, eu sei..."
Clarice Lispector (1920-1977)
Enquanto isso, em Brasília, o pastor Marco Feliciano ganhava a presidência da Comissão dos Direitos Humanos e entrava na avenida disposto a fiscalizar a vida sexual de todo mundo. Mas isso, em contrapartida, reavivou uma grande tradição brasileira: a cantora sapatão. Daniela Mercury assumiu seu amor por Malu Cavalcanti. E isso foi muito lindo. Claro que seria muito mais lindo se fosse Fernanda Lima com Camila Pitanga. Ou Gisele Bündchen com Adriana Lima. Mas, você sabe, a vida não é justa.
Já no lado de cima do subcontinente, a Venezuela foi reconhecida oficialmente pela ONU como um esquete do "Zorra Total". O presidente Nicolás Maduro é mais imaturo que a Luana Piovani no Twitter. Ele diz que viu Hugo Chávez na forma de passarinho, depois como fantasma flutuante nas montanhas de Caracas e por fim gravado em pedra numa escavação de metrô. Não contente, Maduro ainda decidiu que o Papai Novel devia chegar em novembro. Assim ele podia dizer que o velhinho vestido de vermelho era o Hugo Chávez.
E em junho, quando a gente imaginava que não dava pro ano ficar mais ridículo, eclodiu a já gloriosa "Revolução do Busão". Tomados de intenso ardor cívico e muito fogo no rabo, milhões de brasileiros foram para as ruas protestar contra... Bem, eles não sabiam. Mas garantem que não era contra o aumento do ônibus em R$ 0,20. Ainda bem. Experimenta dar R$ 0,20 para um mendigo para você ver onde ele manda enfiar...
Na esteira da "Revolução do Busão", surgiram duas novas escolas de samba: o Black Bloc e a Mídia Ninja. A primeira tem uma bateria que quebra tudo como se fosse uma "SA nazista". Ninguém gosta deles, a não ser intelectual da USP, que se empolga com qualquer coisa.
Já a Mídia Ninja, comandada por Bruno Capilé e Pablo Torturra, foi saudada como uma renovação sem precedentes na comunicação, mas, na verdade, ela apenas perpetua outra longeva tradição brasileira: o discurso empolado que não diz nada. Era uma tal de "guerra de memes", "overcrítica", "mídia-livrismo", "militância autoral", "crise narrativa" e o que mais pintasse na cabeça das "Organizações Torturra-Capilé". Já explicar de onde vinha a grana, ninguém queria. Parece que tem a ver com "cubos cósmicos".
E olha que isso foi só metade do ano. Semana que vem tem mais: a festa continua com a Mocidade Dependente do Eike Batista, Paula Lavigne e Chico Alzheimer de Hollanda, Barack Obama e seus arapongas amestrados e a resistível ascensão do "The Voice Brasil". Fique ligado.
ABC DA POLÍTICA
Hoje: letras G, H, I, J
Golpe: Tem de dois tipos: o "militar" e o "financeiro". O primeiro põe gorilas no poder. O segundo põe raposas no poder. Nenhum dos dois golpes presta, mas o militar é muito mais desagradável.
Golpista: Tem de dois tipos: o "autoritário" e o "malandro". O primeiro gosta de autoridade, desde que seja só a dele. O segundo só respeita autoridade se for em benefício próprio.
Herói: Tem de dois tipos: o "da pátria" e o "do povo". No geral, ele confunde "povo" com "pátria" e "aliados" com "povo". Mas tudo bem, pois um herói é julgado pela história e não pelos homens.
História: Tem de dois tipos: a "verdadeira" e a "ficção". A primeira é... pensando bem, só tem um tipo: é tudo ficção.
Homem: Tem de dois tipos: o "gênero" e a "espécie". O gênero é um saco, pois só tem homem. A espécie é mais legal: inclui a mulher, logo, nem sempre é um saco.
Impunidade: Tem de dois tipos: a "deles" e a "nossa". A "nossa", quando ocorre, não é mais impunidade, é "justiça".
Injustiça: Tem de dois tipos: a do "sistema" e a da "sociedade". Se condenado, o herói deve erguer o rosto ao céu, sempre de perfil, e pronunciar: "Isso é uma injustiça do sistema, mas a sociedade me absolverá!". Dica: a frase ao contrário não tem o mesmo impacto.
Julgamento político: Tem de dois tipos: o "das urnas" e o "do Judiciário". O das urnas é quando a sociedade cansa de ser roubada por determinado político e decide votar em outro gatuno. O do Judiciário só é bacana se garante a nossa impunidade. Veja o verbete "Injustiça".
Justiça: Tem de dois tipos: a "dos homens" e a "de Deus". A dos homens é falha, mas às vezes funciona. A de Deus nunca falha, mas também não funciona.
EDSON ARAN é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.
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