Minha amiga Zelite me ligou. Zelite é filha do Zelito com a Brigite. Começou como manicure, mas casou bem várias vezes e hoje está milionária. Mora aqui no meu condomínio, o "Le Jardin Des Stupides".

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A Zelite, eu dizia, me ligou porque quer que eu escreva a biografia autorizada dela. Diz que não suporta mais sofrer bullying nos blogs e no Facebook. "Tudo nesse país é culpa da Zelite!", diz ela que, além do mais, tem a péssima mania de falar de si mesma na terceira pessoa.

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O problema da Zelite é o seguinte. Ela foi casada com o Zé Dirceu. Foram felizes durante alguns anos. O Zé fazia tudo o que a Zelite queria, a Zelite retribuía com o carinho e a atenção de uma mulher loucamente apaixonada.

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Mas aí o Zé Dirceu se deu mal. Umas negociatas mal explicadas levaram o cara ao banco dos réus e, desde o feriado de 15 de novembro, à prisão. Só que o Zé é homem influente. Muitos amigos devem favores a ele e todos começaram a esbravejar nas redes sociais: "O Zé é gente boa! Isso tudo é intriga da Zelite, aquela lambisgoia!"

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A Zelite, indignada, argumenta que não tem nada a ver com isso e quer esclarecer a história toda. "Quem jogou sujeira no ventilador foi a linguaruda da Mídia!", ela diz. A Mídia também mora aqui no condomínio. É filha do Milton com a Lídia. Muito amiga da Zelite. Só que a Mídia é a maior fofoqueira do bairro. Da cidade. Talvez do país. Fala de todo mundo. Inclusive da amiga Zelite.

Quando as falcatruas do Zé vieram à tona, a Mídia espalhou a notícia pra deus e o mundo. Já vi gente lá no Orkook, perdão, no Facebut, escrevendo que a Mídia inventou tudo a mando da Zelite, que já estava de casinho com o Aécio. Mas eu me lembro bem dos fatos. Quem denunciou a tramoia do Zé Dirceu foi o sócio dele, o Roberto Jefferson. Foi briga interna lá na empresa, coisa de divisão de dividendos. A Mídia só fez a história circular.

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A Zelite jura que ainda ama o Zé: "E adoro todos os amigos dele também. Até aquele que bebe...". Eu acredito. Afinal, o Zé ajudou muito a Zelite. Ela já era rica, é verdade, mas, casada com ele, conseguiu empréstimos a perder de vista, poços de petróleo a preços camaradas e ajuda para expandir os negócios já vultosos.

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Ainda me lembro, como se fosse ontem, de ver a Zelite passeando de mãos dadas com o Zé Dirceu. Os dois no maior "love". Até a Mídia falava bem do jovem casal. O Zé era o tal, mandava até mais que o chefe, diziam. Tudo era festa e curtição até o Roberto Jefferson abrir o bocão.

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É por isso que a Zelite não se conforma em ser vista como ex-esposa encrenqueira e intrigueira, capaz de fazer tudo para prejudicar o marido. "Quero contar minha versão da história! Você não quer escrever minha biografia, hein, Aran?", ela pergunta.

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Explico para a Zelite que nunca escrevi biografias, ainda mais autorizadas. Passo o telefone de alguns conhecidos que talvez possam ajudá-la e encerro a ligação. "Sé besta!", como se diz lá na minha terra. Eu nunca me meteria nessa confusão.

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Acho que o Zé caiu sozinho, não foi intriga da Zelite. Por outro lado, eu também conheço muito bem essa mulher e sei que ela não vale nada. A Zelite vive humilhando o pessoal que trabalha aqui no condomínio. Esculacha as empregadas. Dá patada nos faxineiros. Trata mal todo mundo que é mais pro escurinho.

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Para ser bem sincero, acho uma pena que o casamento da Zelite com o Zé Dirceu tenha acabado por causa dos problemas judiciais dele. A Zelite e o Zé foram feitos um para o outro.

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EDSON ARAN é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.