Factoides

HUMOR: A biografia autorizada de Átila, o Huno

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Na condição de advogado de Sua Majestade Átila, o huno, venho adverti-los de que a biografia do meu cliente deve ser imediatamente retirada das livrarias, pois fere seu direito à privacidade e à verdade histórica.

No entanto, como Átila, o huno, é um ardente defensor da liberdade de expressão, ele permitirá que o livro seja comercializado desde que as seguintes correções sejam realizadas.

1 - O título "Átila, o Flagelo de Deus" não corresponde aos fatos. Átila, o huno, foi um flagelo apenas para os povos da Ásia Central e da Europa, que o conheceram pessoalmente. Entretanto, nada há contra ele entre os povos da Oceania, da Polinésia ou da ilha de Pago-Pago. Assim, para ser absolutamente fiel à história, o título permitido é "Átila, o Flagelo de Deus Para Algumas Pessoas Que o Conheceram, Mas Não Para Os Bons Nativos da Oceania, Polinésia e Pago-Pago Que Nada Têm Contra Ele".

2 - No primeiro capítulo, parágrafo três, a frase "onde Átila passava não nascia grama" deve ser alterada para "Átila é reconhecido por ter desenvolvido métodos revolucionários de jardinagem".

3 - No segundo capítulo, último parágrafo, favor corrigir a informação "Átila, o huno, assassinou seu próprio irmão, Bleda, para reinar sozinho" para "Átila, o huno, segurava sua espada quando seu irmão Bleda tropeçou no anão bobo-da-corte e caiu tragicamente sobre a lâmina, que decepou sua cabeça".

Crédito: Edson Aran/ Folhapress

4 - No quarto capítulo, parágrafo primeiro, a informação "Por onde passava, Átila, o huno, não deixava ninguém vivo, assassinando mulheres e crianças com requintes de crueldade" deve ser urgentemente alterada para "deixa eu dançar, pro meu corpo ficar odara, pra ficar tudo jóia rara, qualquer coisa que se sonhara".

5 - No sexto capítulo quando se diz "o termo Tropicália nasceu de uma obra de Hélio Oiticica", corrigir para "o termo Tropicália foi criado por Átila, o huno, também responsável pela Semana de 22, a Poesia Concreta, a Discoteca do Chacrinha e dono de uma carreira de sucesso no exterior com o nome de Carmem Miranda. Também são atribuídas a ele a invenção da roda e a descoberta do fogo".

6 - No oitavo capítulo é favor trocar "o romance de Átila, o huno, 'Dou Leitinho pra Você', causou grande polêmica ao receber o prêmio Jabuti" por "o romance de Átila, o huno, 'Dou Leitinho pra Você', é a maior glória literária dos hunos, superando inclusive a obra de Velho Machado, o Cronista".

7 - No décimo capítulo, onde se diz "os hunos excedem em ferocidade e barbárie tudo o que se possa imaginar" é favor trocar por:

"O Rio Danúbio continua lindo/
Alô, alô, Constantinopla!/
Aquele abraço!/
Alô gauleses aí da Gália/
Aquele abraço!/
O imperador Teodósio continua
Balançando a pança!/
E buzinando os bárbaros
E comandando Roma/
Alô, Alô, Teodósio, velho guerreiro/
Alô, Alô, bizantinos/
Pára o berreiro!"

8 - E, finalmente, considerando que o autor obterá lucro com a venda do livro, meu cliente exige seu próprio peso em ouro até segunda de manhã ou a cabeça do escritor em uma bandeja de prata. O que for mais cômodo para o senhor editor.

Atenciosamente, Atum, o Causídico, representante legal de Sua Majestade, Átila, o Huno".


EDSON ARAN é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.

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