Donadon. Isso lá é nome de deputado? Está mais para monstro de filme japonês. "Godzilla versus Donadon", um troço desses. Gente correndo desesperada enquanto a criatura vai pisando e arrasando tudo. "Karaiô! É Donadon! Sayonará!"

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Mas essa é uma característica comum aos corruptos brasileiros: o nome pitoresco. Pitoresco da Matta, por exemplo. Evangélico, ruralista e membro da base governista.

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Repare: no meio de todo escândalo tem sempre um Zuleido, um Vigaristo, um Bodiarma, um Ronivon. Fica pior ainda quando o nome é uma bizarrice composta: "O deputado Megalodon Escravocrato (PQP-PI) desviou 100 milhões da merenda escolar para construir uma pirâmide particular na sua fazenda".

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O único jeito de melhorar esse país sem futuro é impedir a candidatura de gente com nome esquisito. Sério mesmo. É uma eficiente medida profiláxica.

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"Qual o seu nome, candidato?"
"Profiláxico Proxeneta, meu bom homem"
"Candidatura negada. Próximo!"
"Sou eu! Próximo Protozoário, a seu dispor"
"Negada! Seguinte!"
"Aqui! Seguinte Sacripanta, sim senhor"
"Negada! Outro!"

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Outro ponto é aquele que todo mundo apontou: Natan Donadon é, agora, criminoso e deputado, o que cria um evidente conflito de interesses entre suas duas facetas. Uma desrespeita a lei e só pensa em si mesma. A outra está presa na Papuda.

Além disso, a situação peculiar cria um sério problema para os colegas de presídio do parlamentar: qual o pronome de tratamento adequado? Vossa Indecência? Vossa Inconseqüência? Vossa Excrescência?

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Chamar de "excelência" não parece adequado ao descontraído ambiente prisional. Imagine a cena. "Aí, Vossa Excelência, o nobre colega Chicão Ranca-Tripa, dono aqui da nossa aprazível cela, mandou lhe informar que o seu nome a partir de agora é Zuleyde com 'y'. Assine, por obséquio, as três vias na linha pontilhada."

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Não dá. É por essas e muitas outras que não me entra na cabeça que um boliviano possa buscar asilo no Brasil. Isso não faz o menor sentido. Só se o cara pensou que estava pulando o muro da embaixada da França e acabou na Dilmolândia por engano.

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Cubano não tem opção, coitado. É isso ou a balsa das seis pra Miami, desviando de guarda costeira, furacão e tubarão. Boliviano não. É só apertar a campainha dizendo que tem pó pra vender e, quando abrirem, enfiar o pé na porta e pedir asilo.

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Mas ainda resta uma esperança, pois mesmo escapando da cassação, Donadon foi afastado do Congresso e será substituído pelo Suplemente. Suplente Saponáceo, latifundiário, pecuarista e membro da base governista.

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EDSON ARAN é autor de cinco livros. O mais recente, "Delacroix Escapa das Chamas" (Editora Record), é uma sátira futurista passada na São Paulo de 2068. Sua série de cartuns "O Totalmente Dispensável Almanaque Inútil do Aran" é publicada mensalmente no "Folhateen". Ele foi diretor das revistas "Playboy", "Sexy" e redator-chefe da "Vip". É um tuiteiro compulsivo e sua conta é @EdsonAran.