Factoides

Magali Impliquete e o sobe e desce dos elevadores

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Não me dou bem com elevadores de prédios residenciais. Se você é uma caixa de metal que sobe e desce, desculpe, não quis ofender. O problema, na verdade, são todas as situações envolvendo os condôminos no elevador.

Se você acha que essa minha implicância é com os papos sobre o tempo e temperatura, saiba que o problema começa muito antes. No prédio onde eu moro, por exemplo, esse papo nem tem a chance de acontecer.

Quem chega primeiro na garagem corre uma mini maratona até o elevador e aperta o botão às pressas, para não cruzar outro morador. Ou então ele acha que perder trinta segundos a mais é tempo demais para ser investido em um vizinho. Ou todas as pessoas que moraram nos mesmos prédios que eu chegam em casa loucas para fazer xixi. Mas eu prefiro acreditar que as pessoas não têm bexigas tão pequenas assim.

Dos prédios que morei, quanto mais ricos eram os moradores, pior. Já tentei reverter a situação várias vezes, mas não devo ser uma companhia agradável para elevadores.

Outro dia esperei e esperei um morador que acabara de chegar, mas nada. Até que resolvi chamar alto, ouvindo apenas que ele estava com compras do supermercado. Aposto que era mentira, a não ser que ele fosse na verdade entregador, o que até justificaria a desculpa frequente.

Mas também já aconteceu de, ao meu chamado, uma executiva vir correndo e me agradecer, quase de joelhos, como se ela estivesse presenciando a subida de Jesus no elevador. Como eu não tenho barba e nem uso túnicas, acho que a gentileza andava em baixa.

Quando a subida conjunta acontece, a situação constrangedora pode piorar. Nada me surpreende mais do que a quantidade de halls de entrada cafonas. Ao que me parece, em muitos deles ficaram tudo aquilo que não se encaixava na parte de dentro da casa.

Assim, quase sempre vemos um espelho com uma moldura chamativa, uma planta seca esquisita em um vaso da dinastia Ming no canto e alguns cacarecos meio nonsense para a porta do elevador. Em alguns casos, o toque final vêm com uma parede texturizada na cor ocre, mostarda ou roxo escuro.

Crédito: Alessandro Shinoda/Folhapress Você já viu o hall do seu vizinho hoje?
Você já viu o hall do seu vizinho hoje?

Nessas horas, o melhor é virar delicadamente para o espelho para analisar a oleosidade da pele ou tentar atender o telefone e reclamar da óbvia falta de sinal. Só não esqueça de se despedir do vizinho, afinal, qualquer dia pode ser a vez dele de ver o seu hall.

Mas o meu ódio de elevadores piora mesmo quando, depois de esperar por dez minutos, no hall, desço à garagem e descubro que esqueci alguma coisa, fazendo com que toda a situação acima se repita. Haja oleosidade na pele.


MAGALI IMPLIQUETE : há 26 pensando demais, costumo ser motivo de chacota por relatar meus problemas cotidianos como "muito difíceis". Reclamona profissional e piadista amadora, dou risada sozinha nas horas vagas. Meu hobby é corrigir a pronúncia e outros erros de vocabulário de qualquer um, do motorista ao cobrador, além de ouvir a conversa alheia para escrever aqui.

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