Estilistas e empresários traçam um panorama da 'identidade de moda brasileira'
Do último desfile do extinto Morumbi Fashion, no final do ano 2000, até a edição que começa neste domingo (27), a São Paulo Fashion Week se tornou retrato dos altos e baixos da moda brasileira. São poucos os estilistas que conseguiram manter uma linha constante de apresentações.
Murilo Lomas, Lorenzo Merlino, Bianca Ranucci, Fabia Bercsek, Marcia Gimenez são exemplos de nomes incensados em curtos espaços de tempo e que, em um mercado volátil como é o do consumo de moda, foram engolidos por planilhas e números.
Das grandes estrelas do final dos anos 1990, hoje poucas desfilam e atuam em marcas. São cada vez mais raros casos como os de Alexandre Herchcovitch, que pela primeira vez desfila fora da programação; Valdemar Iódice, cujo desfile, neste domingo (27), às 16h, abrirá programação oficial no Palácio Tangará, no Morumbi; e a estilista Raquel Davidowicz, da Uma.
A partir da análise da quantidade de desfiles, da origem das marcas e das idas e vindas na passarela, a Folha procurou estilistas e empresários para traçar um panorama da "identidade de moda brasileira", na qual sobram marcas do eixo Rio-São Paulo e faltam nomes perenes.
Por que desfilaram? Por que saíram? Qual a autocrítica a moda deveria fazer? Perguntas que martelam há 22 anos o núcleo criativo da moda e ainda não encontram respostas concretas.
VALDEMAR IÓDICE "Procuro estudar e entender o que o consumidor deseja. Temos de oferecer o que fazemos de melhor e fazer a diferença. Não deixo de desfilar porque hoje, o evento proporciona uma grande visibilidade para quem quer se comunicar com o todo o país".
RONALDO FRAGA "Devemos repensar os modelos de varejo e atacado. A moda brasileira vive em um conformismo absurdo, numa mania de se agarrar às "tendencinhas". As novas marcas são a cara desse tempo: um "pelo amor de Deus, me comprem". Há pouco experimento".
ALBERTO HIAR "O Brasil não é reconhecido como um país com potencial de moda. Perdemos espaço para países que investem na economia criativa. A taxa de juros e a carga tributária nos desfavorem. É um país sem infraestrutura, além de ter uma classe desunida que enfraquece o setor".
MARIO QUEIROZ "Deveríamos retomar a animação. Quando pensamos no que foi o evento, vemos que havia vontade de inovar. Isso se apagou, talvez por um comodismo. Antes as pessoas batalhavam por um convite como se fosse um show de rock. Precisamos trazê-las para perto mais uma vez".
LINO VILLAVENTURA "Com a economia que temos, qualquer profissional tem problema sério. A corrupção de hoje só aumenta impostos, encargos. Ou se revolta e desiste ou vai em frente. Eu fui. Agora vou voltar a fazer "showroom" em Paris, para alimentar as exportações. É assim que sobrevivi".
AMIR SLAMA "O problema é a economia. Brasileiro gosta de consumir, mas se não tem dinheiro, não há o que fazer. Conseguimos ser criativos com pouco recurso. Os últimos anos machucaram muito a indústria. Se continuarmos nesse ritmo, não haverá mais mercado de moda nacional".
LORENZO MERLINO "O que a gente deveria se perguntar é se o modelo de promoção das roupas que foi concebido há 60 anos ainda tem validade. Não acho que tenha, por isso parei de desfilar. É ultrapassado esse formato clássico de desfiles. Devemos pensar outro tipo de apresentação".
FERNANDA YAMAMOTO "Parei de desfilar porque decidi repensar meu formato de apresentação, porque a moda brasileira precisa repensar muitas coisas. A ideia é voltar no próximo ano, se as coisas melhorarem. A passarela é um investimento altíssimo que às vezes não tem retorno justificado".
FERNANDA YAMAMOTO "Parei de desfilar porque decidi repensar meu formato de apresentação, porque a moda brasileira precisa repensar muitas coisas. A ideia é voltar no próximo ano, se as coisas melhorarem. A passarela é um investimento altíssimo que às vezes não tem retorno justificado".
RAQUEL DAVIDOWICZ "Precisamos parar de lidar com tantos egos. Não cabe mais separar a moda entre grupos influentes e não influentes. Deveríamos ser mais democráticos e enxergar a moda como um todo, entender o mercado sem sair do prumo, estar mais perto uns dos outros e dos clientes".
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