Apesar do preconceito, mulheres comemoram crescimento do mercado plus size; confira dicas
A marceneira Fernanda Amalino Sanino, 32, cansou de passar vontade por querer comprar uma roupa e ouvir da vendedora que a peça não tinha sido fabricada no seu tamanho --ela veste manequim que varia de 48 a 52.
“O meu desejo de emagrecer vinha muito mais disso, porque eu queria usar uma roupa ou um estilo, mas não conseguia encontrar para mim”, comenta.
De uns anos para cá, no entanto, ela e outras mulheres gordinhas comemoram uma mudança significativa nesse cenário, observando na prática uma oferta muito maior de lojas que atendem ao público plus size. E mais: que oferecem peças modernas e antenadas com as principais tendências da moda.
“Eu gosto de roupas coloridas, estampadas, shorts. E hoje em dia tenho muito mais facilidade em encontrá-las”, afirma Fernanda.
Essa virada é reflexo de dois aspectos. O primeiro deles faz parte de um movimento crescente pelo fim de tabus da moda, como o de que mulheres acima do peso não podem usar listras, roupas coloridas ou que marquem o corpo.
Os próprios consultores e especialistas em moda afirmam que tudo pode, sim, desde que a pessoa se sinta bem e que respeite os seus gostos e o seu estilo. “Quem disse que não pode usar branco? Há alguns anos, a revista ‘Elle’ francesa fez uma capa com uma modelo plus size toda de branco e o resultado ficou lindo”, salienta o consultor de moda Arlindo Grund.
O outro aspecto é que muitos lojistas e fabricantes perceberam que esse mercado pode ser bastante lucrativo. Em meio à crise econômica, enquanto o setor de vestuário adulto de modo geral, apresentou queda na produção de 1,5%, o plus size cresceu 2,9%, segundo dados da empresa Iemi (Inteligência de Mercado). E as estimativas para este ano são de aumento ainda maior, de 8,2%.
Lojistas e fabricantes chegam a registrar crescimento de 30% a 35% nas vendas, como a marca Elegance, voltada ao público plus size. “É um mercado promissor, que ainda tem muito espaço vago”, destaca Daniel Fonseca, diretor comercial e de marketing da marca.
Marcelo Prado, diretor do Iemi, salienta que a procura por roupas plus size ainda é maior do que a oferta oferecida no mercado. “A demanda é grande e crescente, e os fabricantes só começaram a abrir os olhos para isso recente mente, como uma saída para a crise.”
Diretor executivo da ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), Edmundo Lima destaca que as grandes marcas também estão de olho nesse segmento. “Foi-se o tempo em que esses consumidores tinham opções apenas em lojas especializadas e que não acompanhavam as tendências da moda. Os investimentos do varejo na ampliação da grade de tamanhos e modelagens estão em evolução”, afirma.
O aumento do segmento plus size em lojas populares, como Lojão do Brás, Marisa, Renner, Pernambucanas e Riachuelo, atende a uma reclamação antiga desse público, que só encontrava roupas em marcas mais caras. “Há dois anos, observamos que a procura por peças plus size vem aumentando muito”, comenta Maxwelle Dutra, auxiliar de visual do Lojão do Brás.
Apesar dos avanços, as mulheres gordinhas destacam que ainda há muito a melhorar. Faltam, principalmente, opções para tamanhos acima do 52, além de lingeries e peças para academia, por exemplo.
Marcelo Prado, do Iemi, concorda. “Nós temos hoje uma população muito grande que está acima do peso, mas que se vira com roupas ajustadas em costureiras. Ainda há muita coisa produzida pelos fabricantes que não pensam nas especificidades desse setor. O público se sente rejeitado, e a maior parte não está interessada em perder peso, porque é feliz do jeito que é.”
A maquiadora Niége Benedito, 26 anos, é exemplo disso. “Passei a vida inteira tentando emagrecer e me sentindo inadequada por ser do jeito que eu sou. Em 2015, o meu pai morreu de repente, em um acidente de carro, e isso foi um divisor de águas para mim. A vida é muito curta, e eu percebi que não podia mais perder tempo me odiando.”
Como a marceneira Fernanda, ela afirma que o mercado plus size melhorou nos últimos anos. “Mas ainda tenho dificuldades na hora de comprar.” A modelo plus size e consultora de recursos humanos Katia Dornellas, 34, acredita que a moda mudou também pelo crescimento do movimento feminista e de valorização dos diferentes tipos de corpos das mulheres.
“Mas ainda enfrentamos muito preconceito. As pessoas se sentem ofendidas por a gente estar bem vestida. Qual é o problema de nós usarmos uma roupa bonita, uma transparência? O meu corpo deixa de ser bonito só porque eu sou grande? A mulher plus size pode tudo, desde que respeite o seu corpo”, destaca ela, que começou a carreira de modelo em 2014, ao participar de um concurso de Miss Plus Size. “Eu tinha muita dificuldade de me aceitar, e essa foi a forma que encontrei. A gente precisa ser feliz hoje, com o peso que tem, e não projetar a felicidade para o futuro, quando emagrecer”, destaca.
Professora do núcleo de criação da escola de moda Sigbol Fashion, Mayara Behlau concorda com Katia e destaca que a mais importante dica de moda é o autoconhecimento. “Siga o seu próprio estilo e seja criativo para adaptar as tendências ao seu corpo e ao que você gosta de vestir”, ensina a especialista.
OPORTUNIDADE
A empresária Sandra Regina Gomes, 48, é outro exemplo de mulher plus size que é feliz com o próprio corpo. “Durante muito tempo, eu quis emagrecer, mas já há alguns anos que não tenho mais essa preocupação. Eu quero curtir com a minha família. Não vou deixar de viajar e usar biquíni na praia porque estou acima do peso”, conta.
Foi a partir dessa sua percepção e de se dar conta de que havia muitas mulheres que pensavam como ela, mas não encontravam opções de roupas no mercado, que ela resolveu investir no segmento e hoje comemora o sucesso da sua loja multimarcas Miss Taylor.
“Comecei a acompanhar esse mercado em 2010 e percebi uma oportunidade de negócio. Fui estudar moda e, em dezembro de 2015, inaugurei a primeira loja, em São Bernardo do Campo [ABC]. Foi dando tão certo que me chamaram para abrir uma filial no shopping Paulista, inaugurada há oito meses e que também vai muito bem”, destaca.
“Hoje, já há bastante coisa legal no mercado, mas ainda há muito a crescer. Vejo muitas mulheres que vêm de longe porque não encontram peças adequadas em outros lugares. Fico feliz de ver que a gorda não é mais tratada como aquela pessoa relaxada”, conclui.
OS NÚMEROS DO MERCADO PLUS SIZE
No Brasil - Comparação entre 2015 e 2016
- A produção de vestuário plus size feminino cresceu 2,9%
- Enquanto isso, o vestuário adulto em geral (*) teve queda de 1,3%
Estimativa para 2017
- O plus size deve ter crescimento de 8,2%, com destaque para o setor feminino, com 9,3%
- Já o vestuário adulto em geral deve registrar aumento de produção de 4,7%
- Existem hoje 19.439 empresas que produzem moda feminina e 30,4% delas produzem plus size feminino
(*) Não inclui meias e acessórios.
Fonte: Estudo do Mercado Potencial de Moda Masculina, Feminina e Plus Size 2017 do Iemi - Inteligência de Mercado
Onde encontrar: Lojão do Brás: tel. (11) 2696-5133; Mama Biju: tel. (11) 95998-1718; Marisa: SAC (11) 3383-7222; Pernambucanas: SAC 0800-7249200; Renner: lojasrenner.com.br; Riachuelo: tel. (11) 3003-4342; e Usaflex: tel. (51) 3549-8100.
Agradecimentos: À modelo Katia Dornellas, à marceneira Fernanda Sanino e à maquiadora Niége Benedito, que posaram para este ensaio; e à maquiadora e cabeleireira Karla Fernandez (karlachs.wixsite.com/karlamake-up ou tel. (11) 98481-0853 - WhatsApp)
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