Tony Goes

Série 'Carcereiros' é ótima, mas difícil de ver em maratona

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Desde quinta-feira (8), já estão disponíveis na plataforma GloboPlay os 12 episódios da série "Carcereiros", que a Globo só irá exibir a partir de abril de 2018. Foi a maneira que a emissora encontrou para ir gerando bochicho para um produto que foge de seu padrão habitual, e que teve a estreia adiada por um motivo de força maior.

Domingos Montagner estava escalado para o papel principal do seriado. Com sua morte, em setembro do ano passado, Rodrigo Lombardi assumiu o personagem. Só que o ator está no ar atualmente na novela "A Força do Querer". Para não tê-lo em dois programas ao mesmo tempo, a Globo preferiu deixar "Carcereiros" para mais tarde.

Por um lado, é uma pena. Rebeliões em presídios estão, infelizmente, na ordem do dia, e "Carcereiros" é um mergulho dramatúrgico nas manchetes atuais. Por outro lado, quem disse que o nosso problema prisional vai estar resolvido daqui a um ano? A série não vai ficar datada assim tão depressa.

De qualquer forma, é um prazer já poder assisti-la na internet. E também é um martírio. Porque, apesar de tudo funcionar muito bem em "Carcereiros" — roteiro, direção, elenco, acabamento — é difícil assistir aos episódios em "binge watching", a popular maratona.

Baseada no livro homônimo de Drauzio Varella, "Carcereiros" ficcionaliza casos reais e os entremeia com depoimentos de carcereiros de verdade, muitos deles já aposentados. O efeito é devastador: já no primeiro capítulo, que mostra justamente uma rebelião numa penitenciária, o espectador sai se perguntando o que leva alguém a escolher um trabalho como este.

E que primeiro capítulo, hein? Não me lembro, em tempo algum, da TV brasileira (aberta ou fechada) ter produzido algo mais freneticamente violento. A quantidade de mortes sangrentas rivaliza com a de uma batalha de "Game of Thrones" (HBO). Mesmo assim, são apenas facadas — na vida real é ainda pior, com gente decapitada ou queimada viva.

Só a partir do segundo episódio é que somos apresentados, pouco a pouco, à vida pessoal de Adriano, o protagonista vivido por Rodrigo Lombardi. Ficamos sabendo que ele tem uma mulher, um pai, uma filha do primeiro casamento. Também ficamos atônitos com o efeito que seu trabalho tem sobre seus entes queridos.

Há poucos atores famosos no elenco, o que é ótimo. Nomes como Matheus Nachtergaele, Caio Blat e Chico Diaz fazem rápidas (e excelentes) participações. Os demais se valem da pouca fama para tornar suas interpretações ainda mais convincentes. O próprio Lombardi está muito bem, longe da canastrice para onde resvala de vez em quando nas novelas.

Mas o universo de "Carcereiros" é sufocante. É sujo, hostil, tenso e repulsivo. Quem estiver buscando escapismo para os probleminhas do dia a dia deve procurar outra coisa. Só que vai estar perdendo um dos melhores e mais ousados trabalhos da nossa televisão.

Menos de um ano depois da malsucedida "Supermax", muitos da mesma equipe — como o diretor José Eduardo Belmonte, os roteiristas Marçal Aquino e Fernando Bonassi, e até vários dos mesmos atores — se redimem com uma série que pode fazer história. Portanto, coragem: "Carcereiros" vale a pena.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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