Depois de briga com operadoras, canais abertos descobrem que não são indispensáveis
No dia 1° de abril, Record, SBT e Rede TV! sumiram da grade de quase todas as operadoras de TV paga de São Paulo. Com o desligamento do sinal analógico na cidade, as três emissoras aproveitaram uma brecha na lei e passaram a exigir remuneração por seus sinais digitais. Como Net, Vivo, Oi e Sky se recusaram a pagar por uma programação que sempre foi gratuita, criou-se um impasse.
Os três canais se uniram numa empresa chamada Simba e começaram a jogar pesado. Convocaram seus elencos para sugerir ao público que cancelasse suas assinaturas de TV paga. Acharam que a pressão seria tão grande que logo as operadoras concordariam com suas condições.
Eu mesmo acreditei que essa estratégia daria certo, e escrevi uma coluna comentando que a briga chegava num momento ruim para as operadoras. Afinal, os três canais correspondiam a cerca de 20% da audiência delas. Perdê-los num momento em que ainda enfrentam a concorrência de plataformas de streaming como a Netflix parecia complicado.
Só que não foi. O contrário aconteceu. O Ibope de Record, SBT e Rede TV! desabou, perdendo até 35% em alguns horários. Enquanto isto, a audiência dos canais pagos aumentou em 14%.
Ou seja: o espectador simplesmente mudou de canal. Não houve aumento significativo no cancelamento de assinaturas de TV paga, o que significa que a imensa maioria não quer abrir mão do extenso cardápio oferecido pelas operadoras só porque três canais abertos não fazem mais parte do line-up. Canais, aliás, que podem ser sintonizados com antena externa de forma totalmente gratuita.
O resultado é que agora a Simba voltou a negociar com três das operadoras (menos com a Sky, que se mantém irredutível). Precisou baixar o preço exigido antes e está disposta a oferecer novos canais fechados - como, aliás, Globo e Band já fazem há muito tempo.
A lição que sobra é que, nestes tempos de hiper-oferta de opções de entretenimento, nenhuma emissora pode se dar ao luxo de fazer greve. Com centenas de canais pagos, mais os serviços de streaming, mais os filmes e séries que podem ser vistos ou baixados da internet, legalmente ou não, ninguém fica sem ter o que ver.
Record e SBT são queridas por seus públicos, e a Rede TV! seria mais se não alugasse a terceiros mais da metade de sua grade. Mas essa briga desgastante com as operadoras de TV paga mostrou que, pelo menos entre o segmento de maior renda, elas estão longe de ser indispensáveis.
Agora é correr atrás do prejuízo.
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