Celebridades

"A paternidade vai muito bem, muito melhor que a ficção", diz Lázaro Ramos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Na reta final da novela "Insensato Coração" (Globo), o ator Lázaro Ramos, 32, diz que os homens mentem quando falam que são iguais ao personagem André Gurgel.

Veja mais fotos de Lázaro Ramos

"O negócio do André é que ele fala na lata, na cara. Na vida real às vezes 'mentiras sinceras me interessam', como diz a música. As pessoas que eu conheço, que dizem que são assim, mentem. Muita gente na rua vem falar que é igualzinho ao André. A primeira coisa que eu pergunto é se falam a verdade absoluta. Aí já dizem que é demais, que senão perdem a mulher. Falar a verdade, às vezes, agride", disse.

Para o autor Gilberto Braga, André não sabe dosar as palavras.

"Ele parece não ter sensibilidade para entender até onde o outro, seja ele qual for, está pronto para ouvir certas verdades. Não é preciso mentir, mas delicadeza, educação e bom senso são essenciais", disse ao F5.

Crédito: Paula Giolito/Folhapress Lázaro Ramos defende o seu personagem: "O negócio do André é que ele fala na lata"
Lázaro Ramos defende o seu personagem: "O negócio do André é que ele fala na lata"

E depois de ter despedaçado corações com sua língua afiada, parece que André aprontará mais uma com Carol (Camila Pitanga). Ele vai trair a executiva com Leila (Bruna Linzmeyer) e depois contar para a mãe de seu filho.

"Essa é uma das coisas que tinha na sinopse que achei que não ia acontecer. Acho que é crise de monogamia. Ele nunca experimentou isso, quer saber o que é", defende o personagem.

Mas Lázaro acredita na reconciliação e que a traição pode sim ser perdoada.

"Traição tem perdão, deslealdade não. A traição primeiro tem que passar pela crise para saber quais são os motivos. Geralmente eu dou muito pouca opinião sobre isso porque acho que é uma coisa tão íntima que quem está de fora não sabe. Já a deslealdade é quando faz para machucar, para destruir, por maldade, para menosprezar, diminuir, humilhar".

PATERNIDADE

Há pouco mais de um mês ele e a atriz Taís Araújo tiveram João Vicente e, desde então, Ramos vê o mundo com outros olhos.

"A paternidade vai muito bem, muito melhor que a ficção", conta, sorrindo.

Sempre discreto, o casal ainda não apresentou o filho à imprensa e foge os flashes. Protetor, Lázaro revela medos e preocupações pelo menino.

"Eu queria ter o poder de proteger meu filho de tudo para que ele não passasse pelas mesmas dores que eu passei, que o Brasil já tivesse mais bem resolvido com os preconceitos para ele não sofrer nada disso. Dá vontade de ser super-herói para colocá-lo numa redoma, mas a coisa mais nobre que eu posso fazer é fornecer as armas para ele se defender do mundo e ser feliz. Acho que isso é até mais libertador do que tentar protegê-lo de todos os males."

GALÃ NEGRO

Logo no início da novela muito se falou sobre um negro fazer um galã bem-sucedido em uma novela.

Para o ator o público não percebeu que há uma ousadia ainda maior na trama do que o tema.

"Acho que as pessoas nem se tocaram que a ousadia desses autores foi muito maior. Eles investiram em um ator como eu, com as minhas características, inclusive negra, para fazer um personagem que não é exatamente um galã, mas um novo arquétipo de telenovela. Eles fizeram um cara arrogante, com um complexo que eu não saberia nem explicar em relação à paternidade, que fala coisas que apesar de absolutamente sinceras são agressivas e que não se acomoda no formato tradicional de família porque não teve isso oferecido na sua casa. Com todas as outras coisas, não dá pra falar que se trata de um galã negro", disse.

Para Ricardo Linhares, que assina a autoria o folhetim com Gilberto Braga, o fato de André ser um negro rico, bem-sucedido e que faz sucesso com as mulheres mexeu com o racismo de parcela do público e da imprensa.

"É uma vitória sua trama não ser sobre preconceito. O André poderia ser interpretado por um ator negro, branco, asiático ou indígena", disse ao F5.

Braga explica que Ramos foi escalado pela qualidade de seu trabalho, não pela cor da pele. "A discussão de sua trama não é o preconceito", explica.

"A rubrica negra é uma coisa que faz parte de mim também, mas em primeiro lugar eu sou ator, então isso pra mim [de ser um galã negro] soa estranho", disse Lázaro.

Galã ou não o personagem de Ramos deu uma reviravolta na novela. Começou desinteressado, sem compromisso com família ou mulheres, teve um filho, revelou-se um grande pai e resolveu assumir o amor por Carol, ainda que com restrições. Mas os autores garantem que a trajetória dele estava traçada desde o início.

"Uma das maiores tolices que escrevem sobre a novela diz respeito a uma suposta transformação do personagem. A trajetória de André está prevista desde a sinopse, incluindo uma reviravolta reservada para a última semana. A paternidade, o amor por Carol e a morte do pai fizeram com que André mudasse de pegador a pai de família. É como na vida real, quando determinados acontecimentos fazem com que as pessoas repensem seus valores. André mudou e amadureceu. Mas não virou outra pessoa", disse Linhares.

ALCOOLISMO

Se André nunca foi um exemplo de chefe de família muito se deve ao pai, Gregório (Milton Gonçalves), um alcoólatra pouco presente na vida do filho.

"Eu fiquei sensibilizado por viver isso com ele, uma relação de pai e filho conturbada. Contracenar com o Milton já foi tocante por ser ele. Já fiz três trabalhos com ele, mas nunca havia contracenado. E eu fiquei muito tocado porque é um cara admirável, contribuiu muito para a história cultural desse país e é uma referência", disse.

Mas o tema não só tocou o ator por sua seriedade. Ao falar das cenas finais, em que filho se reconcilia com pai em seu leito de morte, Ramos se emocionou ao lembrar um amigo de infância que se entregou ao álcool.

"Toda vez que volto para a cidadezinha onde a gente cresceu [Ramos nasceu na Bahia], vejo que ele está destruído pelo álcool. Dá uma dor no coração tão forte porque eu vejo que ele não consegue sair disso. Teve um dia especial, quando a maioria das cenas foi feita num mesmo dia, eu ficava lembrando muito dele. Olhava para o Milton e enxergava ele", conta, com pesar.

SEM SABER O QUE FAZER

O futuro ainda é uma incógnita para o ator. Ele diz que não tem projetos e que vai pensar mais no programa que possui no Canal Brasil, Espelho.

"Estou com saudade de teatro. Tentei comprar o direito de uma peça, mas não consegui porque já tinham comprado e agora estou sem saber o que vou fazer", disse.

Enquanto não começa um novo trabalho, Ramos protagoniza dois filmes, que estrearão até o fim do ano. Em "O Grande Kilapy", uma coprodução Brasil, Portugal e Angola dirigida pelo angolano Zezé Gamboa, ele é um boêmio que, sem querer, participa da libertação de Angola. Já em "Amanhã Nunca Mais", do estreante em longo Tadeu Jungle, ele é um anestesista que se depara com diversos percalços para levar um bolo de aniversário para a filha.

Com mais de 20 filmes no currículo, o ator ainda acredita que o cinema nacional está engatinhando.

"A riqueza do nosso cinema é a diversidade e a gente ainda não entendeu que é esse o caminho que a gente deve seguir. Se a gente for pensar no que é possível o cinema está engatinhando sim. Quantos brasileiros têm no país hoje? Quantas salas de cinema a gente tem? Quanto tempo um filme nacional fica em cartaz?", indaga.

OBAMA

E foi justamente por causa de sua diversidade no cinema que uma carta do presidente americano Barack Obama chegou a Ramos.

"Eu fiz um documentário sobre as pessoas que estavam tentando chegar à posse dele e quando ele esteve aqui fui para o [Teatro] Municipal assistir seu discurso e aproveitei para entregar para a equipe dele o DVD. Aí ele mandou uma carta agradecendo e foi muito legal", disse, emocionado.

RECORDAÇÕES

A poucas semanas do fim da novela, Ramos se despede satisfeito com o papel e feliz pelas parcerias.

"O clima de trabalho é o melhor possível. Saio da novela levando um monte de companheiro e amigo. Encontrei [Antônio] Fagundes, que é um cara que está no meu coração. A Camila é uma grata surpresa. Ela é uma palhaça, está sempre de bom humor. Foram nove meses de trabalho de muito carinho e cuidado. Novela é uma pedreira e o maior medo que eu tinha era fazer uma coisa só", disse o ator, que está em sua terceira novela.

Amigos também revelam o prazer de trabalhar com Ramos.

"O Lazinho é um ator extraordinário. Eu já o admirava muito antes de conhecê-lo pessoalmente, por seu trabalho no cinema e no teatro. Sou suspeito para falar dele. Nos tornamos amigos, acompanho a vida dele, o nascimento do filho... Adoro o Lázaro", disse Fagundes ao F5.

"É estimulante e desafiador [trabalhar com o ator]. Lázaro é um ator inteligente, daí o prazer em escrever para ele, pensando nele, sem imaginar André sendo interpretado por nenhum outro ator", conclui Braga.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias