Celebridades

Juliana Paes supera título de símbolo sexual e sente 'angústia' com velhice

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Juliana Paes chegou às 8h30 ao Projac (complexo de estúdios da Globo, no Rio) na quarta-feira. Demorou duas horas para pôr roupa, maquiagem, peruca. E a expectativa era sair às 21h. Continuará fazendo tudo sempre igual até o fim do mês, quando terminam as gravações da novela "Meu Pedacinho de Chão".


Com Catarina, sua personagem na história do horário das seis, a atriz de 35 anos acredita exorcizar de vez os estereótipos que a acompanham há anos, como o título de símbolo sexual e a suposta vocação exclusiva para papéis provocantes. "Graças a ela, as pessoas lançaram um novo olhar sobre mim", diz a fluminense ao repórter Joelmir Tavares, por telefone, durante um intervalo no camarim naquela tarde.


O papel, primeiro após a sensual protagonista de "Gabriela" (2012), tem sido considerado por críticos de TV um dos melhores da carreira dela. Juliana prefere não dizer se concorda com a avaliação ("isso parece insolente"), mas afirma que vai "com muito prazer" trabalhar. "Nunca tive tanta liberdade criativa."


Livre para aventuras, ela surge de cara limpa no longa "A Despedida", do diretor Marcelo Galvão ("Colegas"), que estreia no mês que vem no Festival de Cinema de Gramado. A coluna acompanhou uma tarde das filmagens em São Paulo, em janeiro.


Ao surgir de camisola na casa na Lapa (zona oeste) que servia de cenário para o longa, ela avisa à produção que não quer ser fotografada naquela hora. Depois, se justifica: "Ele [fotógrafo] tem um material, artisticamente falando, muito mais bonito com a roupinha anterior [blusa azul florida e calça jeans]. Ela compõe mais o quadro. Tem mais a ver com o personagem. Só por isso".


Ao fim do dia, de roupão, encosta o cotovelo na lataria do motor-home estacionado na rua para ser usado como camarim e diz que "é lisonjeiro" ser "sonho de consumo" masculino. "Não me sinto incomodada, mas agraciada. Ficaria triste se só sobrassem para mim esses papéis [sensuais]. Como não é o que tem acontecido, fico confortável", afirma, de pé, na calçada.


Nos sonhos que nutre para a carreira, surge a vontade de fazer uma mulher politicamente incorreta, "que diz absurdos". Com nove novelas no currículo, pensa que a "caretice está tolhendo a criatividade e a graça". "Se a enfermeira pratica um crime, aí entra o sindicato achando um absurdo. Mas peraí: enfermeira, cozinheira, empregada, todo mundo comete crime!"


Por ora, o que se avizinha no horizonte profissional é um papel em uma minissérie da Globo, sobre o qual ela diz ainda não poder dar detalhes. Também negocia participação no musical "A Garota de Ipanema - A História da Bossa Nova", com direção de Dennis Carvalho e previsão de estreia para 2015 ou 2016.


Em "A Despedida", com pequenas intervenções de maquiagem para parecer mais velha, encarna Fátima, uma entristecida dona de casa de 37 anos que vive uma história de amor com um homem de 90, Almirante (Nelson Xavier).


Dentro do motor-home, ela conta que durante a preparação foi atrás de casais reais com grande diferença de idade. "Vi que existe sempre um buraco nessas mulheres. Algo que justifica essa paixão. Vai além da aparência física. É uma atração sincera." E segue: "Uma menina me contou que ficava fascinada pelas histórias que ele [companheiro] contava, pelo jeito, pela erudição. Que ela achava um tesão tudo que o cara dizia. É aquilo: a mulher se apaixona pelo que ouve".


De tanto ouvir sua beleza sendo elogiada, Juliana diz que o tema sempre a fez pensar. "E aí, quando acaba a juventude, fica o quê? Você fica vivendo de passado? O que vê no espelho não é mais o que importa?" Nessas reflexões, sente-se "angustiada" ao pensar que falta "energia" ao idoso. "Deve ser sofrido a mente estar lúcida, jovem, mas o corpo não responder."


Enquanto para ela essa hora não chega, é aos filhos Pedro, de três anos e meio, e Antônio, de um, que Juliana –autodefinida como "mãe extremamente participativa"– dedica o vigor. "A passagem de tempo fica mais [apalpa a mesa com força] tátil quando você vira mãe. Você não quer perder nenhum momento."


Gravar vídeos no celular é uma forma que encontrou para guardar memórias: "Meu filho [Pedro] fica de saco cheio: [fazendo voz de criança] 'Ai, mãe, não quero falar!'. Você quer guardar cada risada num vidrinho!". Com o menino, dividiu a torcida pelo Brasil na Copa do Mundo. "A animação dele me contagiou. Agora estou com abstinência", brinca.


Fã do esporte, Juliana é casada com o empresário de jogadores de futebol Carlos Eduardo Baptista, 37. A relação de quase seis anos, ela conta, passa por desafios desde a chegada dos filhos: "A intimidade [do casal] fica meio machucada. Acabam os momentos de ficar a sós, bater um papo longo. O papo é muito filho". Em setembro, os dois vão sozinhos para a Europa.


Na comparação com o marido quando o assunto é aptidão para os negócios, a atriz diz perder de goleada. "Meus ganhos como empresária são frustrantes [risos]", afirma ela, que empresta o nome a uma rede de quatro salões de beleza no Rio, com mais de cem funcionários, administrada pela irmã Rosana.


Suas grandes fontes de renda ainda são o contrato com a Globo, que vai até 2015, e as campanhas publicitárias. "Abri os salões para a minha família. Os pró-labores [retiradas] todos são deles. Não meto a mão. Isso é sagrado para mim." A participação dela se resume a "pitacos" sobre tendências. "Mexo na parte artística. Da burocrática eu corro!"


Êxito mesmo Juliana parece ter acumulado na arte de, em 15 anos na TV, construir uma imagem sem arranhões. "Não tenho que mascarar nenhuma situação na minha vida. Sou natural." Por isso, diz ter sido "fácil" manter a linha que tornou seu nome produto com valor de mercado. "Não é porque agora existe um empresariado e todo esse 'nome' [faz cara de desdém], que eu precise ser diferente."


No que depender de sua vontade, os olhares alheios é que vão continuar se transformando. "Na minha vida, nunca mudei. E acho que não mudo mais", diz, fazendo lembrar o que é popularmente conhecido como "síndrome de Gabriela" –aquela do "eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...".

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