Descobri que o caderno "patocida'' Comida (Folha, 24/11/11) faria outra pauta comestível com meu animal favorito e vim defendê-lo. Peço a todos que não comam carne de pato ou foie gras.

O pato, além de fofo, é o único animal que anda, nada e voa por seus próprios meios. Minha relação de amor com patos é da infância tenra. Lembro como se fosse hoje. Tinha uns quatro anos e estava à mesa, quando minha mãe colocou um objeto de cor esquisita no meu prato e começou a cortá-lo em pedacinhos: "Máma, o que é isso?", perguntei. "Carne", respondeu. "De quê?", repliquei, alarmado. "Carne de patinho", finalizou.

Meus olhos encheram-se de lágrimas. Depois, veio o ódio. Atirei o prato da mesa, que se estatelou em cacos. Saí berrando e me tranquei no banheiro. Soluçava e odiava minha mãe, com toda a inocência dos quatro anos. Que espécie de mãe canalha, pensei, serviria ao filho um patinho! Aquele! O amarelinho! Por isso é que aquilo tinha cor esquisita! Chorei, chorei.

Do lado de fora, ouvia minha mãe encostada à porta tentando falar, mas ela não conseguia. Ria tanto que só balbuciava algo e caía na gargalhada de novo. Eu respondia com mais raiva chutando a porta. Que decepção!

Fiquei lá trancado um bom tempo, até que tive de sair. A casa estava vazia, só restava meu nono Antônio, que, meio atônito, me ensinou duas coisas: 1) patinho é o nome de um pedaço do boi; 2) agora fica quieto, moleque, que você fez sua mãe ir para o pronto-socorro: riu tanto que ficou sem ar, teve arritmia e precisou ser medicada.

No dia seguinte, lembro da minha mãe ainda com olhos inchados e risonhos, me levando pela mão ao açougue, onde pediu que seu Agostinho me mostrasse o que era o tal "patinho'' do boi. Bem, seja como for, o caso serviu de epifania para mim. Hoje, defendo patos aqui e em perfis da minha Campanha Salvem os Patos, no Facebook.

Esqueça esse ingrediente. Não comam patos!

Texto escrito originalmente para o caderno Comida, da Folha, 24/11/2011