Menstruação se transforma e deixa de ser tabu para a Geração Z
Jovens buscam alternativas aos absorventes e falam abertamente sobre isso
Jovens buscam alternativas aos absorventes e falam abertamente sobre isso
Quando Sapna Palep, 43, era mais jovem, qualquer conversa sobre a menstruação era embaraçosa. "Eu preferia não falar sobre o assunto, e saía da sala o mais rápido que pudesse", ela disse. Bastava mencionar menstruação para que Palep, mãe de duas meninas, "sentisse medo e embaraço puros".
Já Aviana Campello-Palep, de 9 anos e filha de Palep, aborda o tópico sem qualquer embaraço ou hesitação. "Quando minhas amigas falam sobre menstruação, elas simplesmente falam a respeito", disse Aviana. "É algo normal na vida de uma menina".
Essas conversas francas levaram Palep e suas filhas, Aviana e Anaya, 8, a criar a Girls With Big Dreams, uma linha de roupas de baixo para pré-adolescentes que inclui peças especiais para a menstruação, oferecendo uma alternativa mais correta ecologicamente aos absorventes higiênicos.
A marca que elas criaram foi lançada no começo de fevereiro, e será vendida online. "Com alguma sorte, vamos fazer diferença na vida de alguém, para que a pessoa não venha a se sentir embaraçada em algum momento por algo que é tão normal", disse Aviana.
As garotas Campello-Palep são representativas de duas tendências emergentes que se tornaram claras para os ativistas da menstruação e qualquer pessoa que acompanhe casualmente o #PeriodTok: os membros da Geração Z e as pessoas ainda mais novas tratam a menstruação de forma mais direta do que as gerações passadas, e é mais provável que se incomodem com a sustentabilidade ambiental dos produtos que usam nesses períodos.
A convergência desses dois ideais pode sinalizar uma virada cultural na abordagem dos jovens com relação à menstruação. Mais opções de produtos reutilizáveis para menstruação, como roupas de baixo absorventes, coletores, absorventes e protetores de calcinha de tecido e absorventes internos sem aplicadores, estão mais disponíveis no mercado agora do que em qualquer momento do passado –e diversos desses produtos são dirigidos especificamente a adolescentes e pré-adolescentes.
"Todo esse movimento é conduzido pelos jovens", disse Michela Bedard, diretora executiva da Period Inc., uma organização sem fins lucrativos cujo foco é oferecer acesso a suprimentos para menstruação, e combater o estigma associado ao ciclo. "As jovens que menstruam estão passando por uma experiência completamente diferente em termos de administrar seus períodos, optando por produtos reutilizáveis para uso prolongado".
Os reutilizáveis representam apenas uma fração dos produtos para menstruação vendidos nos Estados Unidos –consumidores americanos gastam US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 9,3 bilhões) em absorventes externos e US$ 1 bilhão (cerca de R$ 9 bilhões) em absorventes internos a cada ano, e isso supera por larga margem as vendas combinadas de todos os demais produtos do segmento.
Mas a fatia de mercado dos produtos reutilizáveis deve crescer ao longo da próxima década, de acordo com projeções de mercado, alimentada principalmente pela aceitação e disponibilidade mais amplas de coletores menstruais, nos países ocidentais.
Ainda assim, a usuária média empregará milhares de absorventes em sua vida. E os produtos menstruais plásticos descartáveis demoram cerca de 500 anos para se decompor, de acordo com um relatório do Programa Ambiental das Nações Unidas em 2021.
Os integrantes da Geração Z, que segundo estudos apresentam probabilidade maior de aderir a esforços de sustentabilidade e de combate à mudança do clima do que gerações anteriores, estão ensinando à geração precedente maneiras novas de lidar com o ciclo menstrual mensal de forma aberta e sustentável.
"Eu costumava conversar com pacientes sobre como esconder um absorvente na manga, na bermuda ou nas calças", disse a pediatra Cara Natterson, autora da série de best-sellers "The Care and Keeping of You", para o grupo American Girl, e fundadora da Oomla, uma empresa que fabrica sutiãs e produtos para a puberdade inclusivos em termos de gênero e porte físico. "Mas não tenho mais esse tipo de conversa, porque a garotada logo me pergunta por que deveria esconder os absorventes. E elas têm 100% de razão".
A filha de Natterson tem 18 anos e a educou sobre novos produtos disponíveis no mercado, alguns dos quais descobriu por meio de influenciadores no Instagram ou vídeos do #PeriodTok. "Os adolescentes estão em busca de conversas que girem em torno das experiências das pessoas, e não de resenhas cinco estrelas na Amazon", disse a pediatra.
Natterson recentemente voltou a considerar o uso de absorventes de tecido, depois de uma experiência fracassada com eles anos atrás, por insistência de sua filha adolescente. "Eles não funcionavam superbem quando foram inventados e lançados inicialmente", ela disse. "Mas minha filha rebateu que era hora de eu tentar de novo".
A sustentabilidade ambiental e a menstruação podem estar passando por um momento de sincronia, mas não é a primeira vez que isso acontece, de acordo com Lara Freidenfelds, historiadora da saúde, reprodução e criação de filhos e autora de "The Modern Period: Menstruation in Twentieth-Century America".
Absorventes feitos em casa para menstruação eram a norma na virada do século 19 para o 20, até que a Kotex se tornou a primeira marca de absorventes higiênicos com sucesso de massa, em 1921. Modernidade passou a ser sinônimo de descarte, e o acesso à marca Kotex se tornou uma aspiração das consumidoras, ela disse.
As primeiras discussões robustas sobre sustentabilidade nos cuidados com a menstruação surgiram na década de 1970, quando algumas pessoas passaram a experimentar absorventes de tecido e esponjas. "Sempre houve jovens idealistas e dispostas a pensar sobre esse tipo de coisa, mas os produtos disponíveis no mercado provaram não ser práticos", ela disse.
A sustentabilidade foi sacrificada, historicamente, a bem da conveniência, acrescentou Freidenfelds. Hoje, as mães de jovens da Geração Z se beneficiam de melhoras na tecnologia dos produtos para menstruação. Os absorventes de tecido do passado não eram como os atuais; e a roupa de baixo para menstruação, por exemplo, é feita de tecidos altamente absorventes mas não volumosos.
As jovens que começam a menstruar muitas vezes recorrem às mães em busca de produtos e conselhos –e agora as mães têm como recomendar algo mais que um absorvente descartável, o que pode reduzir a pilha de mais de 15 bilhões de produtos descartáveis que chegam aos aterros sanitários dos Estados Unidos a cada ano.
"O mundo que teremos quando os progressistas da Geração Z se tornarem pais, dentro de 20 anos, será fascinante", disse Nadya Okamoto, ex-diretora executiva da Period Inc. e uma das fundadoras da August, uma marca de produtos sustentáveis para menstruação.
A despeito dessas mudanças culturais e avanços tecnológicos, existem barreiras significativas ao uso mais generalizado de produtos reutilizáveis ou recicláveis. "Quando a pessoa passa pela primeira menstruação, absorventes descartáveis são a coisa mais fácil de encontrar e comprar", disse Anaya Balaji, 13.
"Se você vai ao banheiro da escola, há sempre Always à disposição", ela disse, mencionando uma marca de absorventes facilmente acessível em sua escola de segundo grau na Califórnia. Como líder de uma comunidade online do Inner Cycle, um fórum virtual da marca August, Anaya se conecta com adolescentes na mídia social para educá-las e conscientizá-las.
"Há produtos disponíveis que se encaixam bem ao seu corpo e são bons para o meio ambiente", ela disse. Mas algumas pessoas jovens não têm condição de arcar com os preços dos produtos reutilizáveis, especialmente em comunidades nas quais existe escassez de produtos para a menstruação.
"Mesmo que investir US$ 25 (R$ 130) em uma roupa de baixo ou US$ 60 (R$ 313) em um coletor represente economia em longo prazo, muita gente não tem esse dinheiro todo mês", disse Bedard, cuja organização atende a pessoas desfavorecidas economicamente.
Como os produtos descartáveis, os produtos reutilizáveis e recicláveis também são alvo do "imposto do absorvente" –aplicado a produtos considerados não essenciais–, em muitos estados americanos. Ativistas argumentam que esses impostos são sexistas e discriminatórios, e lutam por sua revogação em todo o país por meio de ação legislativa. Em 2021, diversos estados, entre os quais Louisiana, Maine e Vermont, revogaram o imposto.
O estigma cultural que cerca a menstruação também persiste teimosamente, a despeito dos grandes esforços da geração mais jovem para normalizar o tema. Os tabus patriarcais associados à virgindade, pureza e "sujeira" em muitas culturas e religiões desestimulam o diálogo e podem impedir a adoção de produtos para menstruação de uso interno, como absorventes internos e coletores.
As mensagens de marketing ainda enfatizam principalmente a discrição e a limpeza, o que faz com que a menstruação pareça suja ou ruim, disse Chella Quint, ativista, educadora e autora de "Own Your Period: A Fact-filled Guide to Period Positivity", um guia para ajudar a encarar a menstruação positivamente. "Por muito tempo, a indústria de produtos menstruais era fortemente responsável por perpetuar os tabus negativos que assustam e deprimem as pessoas", ela acrescentou.
A saúde menstrual é uma questão de saúde pública e não tem gênero, disse Natterson. Para combater os tabus referentes ao assunto, todo mundo –mesmo as pessoas que não menstruam– deveria poder falar livremente sobre menstruação, ela disse.
Natterson afirmou que ensinou seu filho, que tem 16 anos, a oferecer seu casaco a uma colega que por acaso tenha uma mancha de sangue nas calças, e aconselhou que ele sempre tenha um absorvente disponível para ajudar uma amiga. "Ensinar todo mundo a respeitar o corpo dos outros é uma conversação da qual todos precisam tomar parte", ela disse.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci
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