Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Viva Bem
Descrição de chapéu BBC News Brasil

Como saber se você está em uma relação tóxica, e por que é importante sair dela

Comportamentos tóxicos não permeiam apenas o mundo dos relacionamentos amorosos, destacam especialistas
Comportamentos tóxicos não permeiam apenas o mundo dos relacionamentos amorosos, destacam especialistas - BBC Brasil/ Getty Images
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cristina Escobar
BBC News Brasil

"Meu relacionamento com Tom* parecia um conto de fadas, daqueles que você só vê em filmes." Assim começava o relato chocante de Anna*, que contou à BBC News como uma relação que parecia uma história de amor pode se transformar em pesadelo.

Com o tempo, o que parecia ser carinho e atenção se mostraram, na verdade, em maneiras de o parceiro controlá-la. "Foram tantos sinais de alerta que deixei passar nessa época..."

O caso de Anna é o exemplo clássico do que os especialistas chamam de relação tóxica, que pode culminar em violência física e até em feminicídio.

Ainda que nem todos os relacionamentos abusivos terminem de forma trágica, eles são o ponto inicial de praticamente todas as formas de violência doméstica, alertam psicólogos ouvidos pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Por isso, é preciso entender como é possível identificá-los e, mais importante, como sair deles.

'TOXICIDADE SUBESTIMADA'

Qualquer pessoa pode apresentar comportamentos considerados tóxicos, independentemente da orientação sexual ou da identidade de gênero.

Todos podemos em algum momento tomar atitudes para tentar evitar que outra pessoa nos abandone ou que "prefira outro".

E não apenas aqueles que estão em um relacionamento amoroso —a relação tóxica também existe entre amigos ou colegas de trabalho.

"Deve-se ficar atento para perceber quando essas características, que todo mundo tem em alguma medida, começam a ganhar proporções cada vez maiores", diz o psicólogo e sexólogo mexicano César Galicia.

Emma Puig de Bellacasa, consultora do programa Spotlight, da ONU Mulheres, acrescenta que o relacionamento tóxico envolve comportamentos distintos que, muitas vezes, a vítima não consegue identificar.

São atitudes "que aprendemos a partir do modelo romântico e patriarcal de relacionamento, que normaliza e às vezes glorifica muitas delas", afirma Galicia. Como consequência, em muitas situações "se subestima a toxicidade de uma relação".

Por isso, a ONU Mulheres, braço das Nações Unidas com a missão de promover a igualdade de gênero e o empoderamento feminino, criou o "violentômetro", que ajuda a identificar comportamentos abusivos por parte de parceiros.

De acordo com ele, as mulheres devem ficar atentas:

- Se o parceiro as intimida ou ameaça;

- Se as humilha ou ridiculariza;

- Se é muito ciumento;

- Se mente;

- Se destrói objetos;

- Se controla amizades ou a relação da parceira com a família;

- Se diz como a parceira deve se vestir ou se maquiar.

O "violentômetro" também sugere às mulheres quando devem reagir:

- Se o parceiro a insulta;

- Se a empurra ou belisca;

- Se bate em você "brincando";

- Se controla as finanças ou os bens da parceira;

- Se a proíbe de usar métodos contraceptivos.

Ainda segundo a organização, as situações de maior alerta, quando a mulher deve procurar imediatamente sair da relação, acontecem quando:

- Ele a agride fisicamente;

- Obriga-a a manter relações sexuais;

- Ameaça-a de morte;

- Cerceia sua liberdade ou a afasta de pessoas que lhes eram próximas.

FIM TRÁGICO

A questão é ainda mais grave na América Latina, em que os relacionamentos abusivos muitas vezes têm fins trágicos, ressalta Puig de la Bellacasa.

"Não esqueçamos que 14 dos 25 países com os maiores níveis de feminicídios no mundo estão na América Latina e Caribe. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que entre 27% e 40% das mulheres de 15 a 49 anos na região já tenham sofrido alguma violência por parte do parceiro."

Tanto para ela quanto para o psicólogo César Galicia, os comportamentos abusivos derivam, em certa medida, dos modelos de amor romântico que vemos em filmes e histórias infantis.

Puig associa essa origem aos primeiros anos da infância, com a atribuição de papéis de gênero baseados em estereótipos.

"As meninas crescem acreditando que seu lugar no mundo está relacionado a tarefas domésticas, à maternidade, enquanto os meninos recebem mensagens de masculinidade, às vezes acompanhadas de atitudes violentas", afirma a especialista.

"Delas se espera que sejam tranquilas, que não façam barulho, que sejam delicadas, enquanto eles são incentivados a ocupar os espaços públicos e a praticar esportes e outras atividades", acrescenta.

Esse modelo cria ainda uma dependência grande do parceiro, diz Galicia, porque é em geral por meio deles que buscamos aceitação social.

"É por isso que muita gente, às vezes inconscientemente, prefere ficar em um relacionamento tóxico do que sozinho."

PORTA DE SAÍDA

Galicia afirma que, como ponto de partida, é importante aprender a escutar o que o corpo nos está dizendo.

"Ainda que o abuso esteja quase normalizado, o corpo sente que está sendo agredido. Você deve prestar atenção a esses sinais."

Também é fundamental contar com a família e com os mais próximos, dividir com eles o que está acontecendo. Um dos primeiros desdobramentos das relações tóxicas é, inclusive, a perda dos grupos de apoio.

E esse isolamento é um dos fatores que depois dificultam a saída desse tipo de relacionamento, "porque (os que sofrem) não têm ninguém para pedir ajuda ou mesmo apoio financeiro", diz Galicia.

Muitas vezes, são organizações de apoio às mulheres que acabam acompanhando as que são vítimas de violência. "Continua sendo um desafio, já que as estruturas do Estado que devem garantir a proteção das mulheres com frequência estão debilitadas ou simplesmente não funcionam."

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem