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Menos violência e lixo nas ruas: Crianças dizem em cartas o que querem para o mundo no futuro

Pedidos foram feitos a pedido da reportagem pelo Dia das Crianças

Tereza Viana, 8, é escoteira e pede um mundo de paz e segurança
Tereza Viana, 8, é escoteira e pede um mundo de paz e segurança - Ronny Santos/ Folhapress
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Beatriz Fialho
São Paulo

Como seria o mundo se, com uma varinha de condão e um pozinho mágico, os desejos de todas as crianças se realizassem? Certamente seria mais doce, mais colorido e com muitas brincadeiras, mas também seria um mundo “cheio de alegria, amor e paz”.

Este é o desejo de Bruna Bozza, 7, autora de uma das cartinhas que a reportagem da Folha recebeu com o tema “o mundo que quero para o futuro”, em uma comemoração antecipada do Dia da Criança, a ser festejado nesta sexta-feira (12).

“Gostaria que não tivesse mais violência e que as pessoas se respeitassem”, acrescenta ela. Acompanha o textinho feito por Bruna um desenho que mostra duas crianças de mãos dadas, dentro de um coração. Nas palavras dela, a imagem representa o amor e o carinho entre todos os seres humanos.

Os desejos de Bruna são compartilhados pelo estudante Raul Moreira, 10, que também gostaria de que as pessoas fossem mais empáticas, ou seja, soubessem se colocar no lugar umas das outras. Incentivado por uma atividade de sua escola, ele elaborou o poema “Empatia e Cooperação”. Em três estrofes, a criança dá uma aula sobre atitudes socialmente positivas. “Se uma pessoa o outro ajudar, um mundo novo podemos criar”, escreve, em trecho do trabalho apresentado.

Quando questionado sobre sua inspiração para os versos, ele explica que escreveu “rapidinho”, mas que os pedidos são sinceros. “Eu sonho com um mundo sem desigualdade nem corrupção, onde as pessoas possam ser felizes e as crianças possam brincar na rua sem medo. A gente precisa colocar isso em prática, ter empatia, compreensão e sempre respeitar o próximo.”

Para Denise Franco, psicóloga especialista em disciplina positiva, as crianças cultivam esses desejos justamente por terem a percepção de que algo está fora do lugar. E uma das maneiras de demonstrarem suas preocupações é escrevendo ou desenhando sobre o assunto.

“A criança apresenta os sentimentos e as emoções, tudo o que está no interior dela, por meio dos desenhos e das cartinhas. Ela produziu aquilo, colocou a energia dela ali e está fazendo algo para o mundo. Por isso, é sempre importante dar atenção aos desenhos dela, mesmo que sejam rabiscos. Ali estão os sentimentos mais puros desse ser humano.”

Walkiria Bozza Linardi, mãe de Bruna e psicóloga, acredita que os desejos sejam inspirados na própria vivência da filha. “Às vezes, falamos para ela sair logo do carro à noite porque é perigoso. Então, ela pede que acabe a violência, porque gostaria de se sentir mais protegida”, diz.

Quem também percebe alguns desajustes na sociedade é Tereza Viana, 8. “De vez em quando, o mundo fica muito violento. As pessoas deveriam pedir desculpas mais vezes”, comenta ela, que é uma “lobinha” do grupo Escoteiro Ventos do Sul 119 SP, da zona leste de São Paulo.

Na carta enviada pela escoteira, um dos pedidos é que as pessoas não joguem mais lixo na rua. Logo abaixo, o desenho da Terra exibe um sorriso grande. E, para que o planeta fique feliz assim, ela dá algumas dicas. 

“De vez em quando, eu acho algumas coisas sujas na minha escola, no chão, e pego para jogar fora, para mostrar para os meus amigos [como se faz]. Com os escoteiros, às vezes vamos em praças para recolher o lixo. É importante reciclar também e recolher o lixo dos cachorros quando for passear com eles”, ensina.

A psicóloga Denise Franco explica que é natural que as crianças tenham esse pensamento positivo para o futuro, mas afirma que é importante, ainda, ver os pais nutrirem essa postura esperançosa, para não deixar que os filhos se contaminem com as diversas desilusões dos adultos.

“Se a gente cultivar neles esse olhar de gratidão pelas pequenas coisas do dia a dia, a criança tende a desenvolver esse olhar mais otimista e, no futuro, pode ser um adulto melhor”, finaliza ela.

FIZERAM HISTÓRIA

Muitas crianças que entraram para a história começaram suas jornadas com papel e caneta à mão. Vale lembrar nomes como Anne Frank (1929-1945), vítima do Holocausto que escreveu aos 13 anos o famoso diário que virou livro e leva seu nome, e Mattie Stepanek (1990-2004), poeta americano que publicou seu primeiro livro aos 11 anos.

A paquistanesa Malala Yousafzai foi a pessoa mais jovem a receber um Prêmio Nobel da Paz, aos 17 anos. Mas sua luta por educação e direitos das mulheres começou aos 11 anos, ao escrever um blog à emissora BBC. Ela ganhou mais de 15 prêmios internacionais e, em um discurso ao fazer 16 anos, disse: “Vamos pegar nossos livros e canetas. Eles são nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem mudar o mundo”.
 

ESTÍMULO A BOAS AÇÕES

Para cultivar atitudes positivas nas crianças é indispensável que os pais reforcem, em doses diárias, pequenas lições de cidadania. Erika Viana, mãe de Tereza Viana, 8 anos, que escreveu cartinha pedindo um mundo mais limpo e sem brigas nem fome, diz que a filha fica atenta a quem a cerca. “Ela comenta quando passam por farol vermelho, se a música tem palavrão, o colega que não respeita a professora...”

Segundo a psicóloga Denise Franco, em situações assim é importante relembrar os filhos do que seria correto fazer, reforçando exemplos positivos. “Pais ajudam a criança a ajustar o olhar às pequenas alegrias, a perceber o que existe em sua vida e é muito bom.”

Diante de erros, eles devem ir além da correção: “É preciso mostrar comportamentos saudáveis e outras formas de reagir às adversidades”.

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