Viva Bem

A dieta da moda que pretende ajudar no combate ao aquecimento global

Ser flexitariano significa comer alimentos de origem vegetal, mas não exclusivamente isso

Uma dieta baseada em produtos de origem vegetal é apontada como chave para ajudar a reverter impactos no meio ambiente e no clima
Uma dieta baseada em produtos de origem vegetal é apontada como chave para ajudar a reverter impactos no meio ambiente e no clima - BBC News Brasil/Getty Images
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Descrição de chapéu BBC News Brasil

Novas evidências científicas indicam que as mudanças climáticas estão se acentuando e estamos ficando sem tempo para arrumar uma solução e evitar uma catástrofe. Mas não se desespere ainda –podemos limitar o impacto do aquecimento global, da escassez de água e da poluição mudando nossos modelos de produção e consumo de alimentos e nos tornando "flexitarianos", de acordo com um novo estudo.

Para reverter o impacto negativo e alcançar um futuro sustentável, o desperdício de alimentos precisará ser reduzido, até 2050, pela metade, e as práticas agrícolas terão de melhorar, assim como a nossa alimentação. Adotar uma dieta flexitariana também é um passo fundamental para alcançar esse objetivo, sugerem os cientistas.

MAS O QUE É UMA DIETA FLEXITARIANA?

Ser flexitariano significa comer principalmente alimentos de origem vegetal –como frutas, verduras, legumes, grãos, nozes e produtos de soja –mas não exclusivamente isso. Carnes podem ser consumidas ocasionalmente - é por isso que o flexitarianismo também tem sido chamado de "vegetarianismo casual", e está se tornando cada vez mais popular –mas isso significa uma grande redução em relação ao que entra no prato atualmente.

De acordo com os pesquisadores, no caso da carne bovina é preciso haver uma redução de consumo da ordem de 73%. Para a carne de porco, seriam quase 90% a menos. Isso reduziria pela metade as emissões de gases de efeito-estufa da pecuária –e uma melhor gestão das fezes desses animais permitiria uma diminuição ainda maior.

IMPACTOS

O estudo mostra uma lista com 25 produtos e, desse total, 12 têm a ampliação do consumo recomendada. Além de feijão, nozes e sementes, há, por exemplo, mais soja, óleos vegetais, frutas e peixes. Por outro lado, prevê grandes reduções nos volumes também de ovos, arroz, açúcar, trigo, raízes, milho, azeite de oliva, leite e aves.

A ideia é reduzir o impacto de sistemas de produção que geram maiores danos ambientais –porque emitem mais gases de efeito-estufa (como a pecuária, que fornece carne, leite e ovos), desmatamento ou escassez de água (em culturas agrícolas) - por outros menos "ambientalmente intensivos".

Os pesquisadores descobriram que uma mudança global para esse tipo de dieta é necessária para manter a mudança climática abaixo de 2ºC, se não de 1,5ºC –que é a meta atualmente estabelecida. Além disso, segundo os cientistas, ser flexitariano pode melhorar a saúde e ajudar a economizar dinheiro.

QUE BENEFÍCIOS ESSA DIETA FLEXITARIANA TRAZ À SAÚDE?

Essa dieta defende a adição de uma maior variedade de alimentos às refeições, o que pode ser extremamente benéfico para a saúde. A nutricionista britânica Emer Delaney aconselha a escolha de alimentos de origem vegetal que sejam boas fontes de proteína, como lentilhas, feijões, ervilhas, nozes e sementes.

A fibra solúvel encontrada em lentilhas e feijões também ajuda a combater o colesterol alto. Nozes e sementes –como linhaça, pinhões, sementes de gergelim e sementes de girassol –são ricos em gorduras poliinsaturadas, que ajudam a manter os níveis de colesterol saudáveis e fornecem ácidos graxos essenciais.

Além disso, a pesquisa mostrou que a combinação de atividade física regular com uma dieta flexível pode promover um estilo de vida de acordo com as recomendações para reduzir os riscos de câncer de mama e de próstata.

QUAIS SÃO AS CARNES MAIS SAUDÁVEIS PARA INCLUIR?

Carnes magras de boa qualidade, como frango ou peru, são melhores para a dieta. Carnes processadas - como bacon, salsichas, salame, presunto e patês –devem ser consumidas esporadicamente, pois são ricas em gordura saturada e sal, e fornecem poucas vitaminas e minerais.

De acordo com pesquisa da Organização Mundial de Saúde, comer 50g de carne processada todos os dias pode aumentar o risco de câncer colorretal, aquele que acomete um segmento do intestino grosso (o cólon) e o reto.

COMO SABER SE A DIETA FORNECE TODOS OS NUTRIENTES NECESSÁRIOS?

A recomendação de especialistas é incluir alimentos à base de plantas em todas as refeições –pelo menos cinco porções de frutas e vegetais por dia e alimentos integrais. Como o consumo de carne vermelha está sendo reduzido, é preciso assegurar que você vá ingerir ferro o suficiente.

Boas fontes alternativas são cereais matinais enriquecidos com ferro e vegetais verde-escuros - como espinafre, repolho, couve e brócolis. Vale a pena saber que a vitamina C aumenta a absorção de ferro, por isso é recomendável também comer pimentões, alface e tomate, ou tentar beber um copo pequeno (150 ml) de suco de frutas.

POR QUE OS CIENTISTAS ESTÃO TÃO PREOCUPADOS?

Os autores do estudo dizem que se quisermos parar de prejudicar o planeta e ter uma fonte sustentável de alimentos para o futuro, é urgente mudar. O desperdício de alimentos tem de ser cortado pela metade e as práticas agrícolas precisam melhorar e se tornar mais eficientes.

A forma como os alimentos são produzidos atualmente tem uma série de impactos ambientais significativos. Ela se tornou um impulsionador das mudanças climáticas, esgotando a água doce e contribuindo para a poluição por meio do uso excessivo de nitrogênio e fósforo.

O estudo diz que, levando em conta o crescimento da população e da renda esperado entre 2010 e 2050, esses impactos podem aumentar entre 50% e 90%. Isso poderia pressionar o planeta além de seu limite, que os autores dizem representar um "espaço operacional seguro para a humanidade em um sistema estável da Terra".

POR QUE VOCÊ DEVERIA LEVAR ISSO EM CONSIDERAÇÃO?

Esse estudo vem a público poucos dias depois do impressionante relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês), quando os cientistas disseram que era a última chance de salvar o mundo de uma "catástrofe climática".

Foi o alerta mais abrangente já feito sobre os riscos de aumento das temperaturas globais –indicando que o mundo está agora totalmente fora do rumo da meta desejada de limitar a elevação das temperaturas globais a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.

A menos que haja uma mudança no comportamento humano, os cientistas dizem que, em vez disso, caminharemos para um aumento de 3°C. Ainda há uma janela de oportunidade para reverter a tendência e salvar o planeta, mas isso exigirá mudanças radicais e será extremamente caro.

BBC News Brasil
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