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Televisão

'Binarismo não cabe mais em uma caixa', diz Carol Duarte sobre debate de gênero na novela

Atriz interpreta Ivana que se transforma em Ivan em 'A Força do Querer'

Carol Duarte e Gabriel Stauffer gravando cenas finais de 'A Força do Querer' na Praia de Ipanema

Carol Duarte em cena com Gabriel Stauffer no final de 'A Força do Querer' Isabella Pinheiro / TV Globo

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São Paulo

Os atores de "A Força do Querer" (Globo) afirmam que ainda têm receio de que forma o público vai encarar a trama de Ivana/Ivan (Carol Duarte). Na história, após ser criada como uma princesa pelos pais, Ivana resolve fazer sua transição de gênero pelo qual se sente mais identificada.

Intérprete de Eugênio, pai de Ivana/Ivan, Dan Stulbach demonstra pessimismo sobre a forma como o tema da transsexualidade pode ser entendida em 2020 –o folhetim de Gloria Perez foi exibido em 2017, com bons índices de audiência. "Nosso país piorou de lá para cá. Se alguns tinham vergonha de mostrar sua intolerância, hoje têm orgulho. Eu errei. Falava para Carol [Duarte] que sairíamos diferentes de tudo isso, mas a reação, hoje, será ainda mais violenta. O lado da intolerância está mais barulhento."

Mesmo assim, ele diz achar importante a trama desafiar. "Orgulho de no Brasil a novela provocar seu público. Há uma minoria que pratica estupidez por orgulho. E em 2017 talvez elas não estivessem em evidência e não estivessem tão protegidas pela impunidade."

Na história, Eugênio tenta contemporizar todo o preconceito destilado por sua esposa e mãe de Ivana/Ivan, Joyce (Maria Fernanda Cândido). "Alguns personagens, como a Joyce, estão em núcleo mais conservador, individualista. E eu percebia no passado que não exista eco. Na época não teve feedback negativo, as pessoas se identificaram, inclusive. Não fui odiada."

Carol Duarte estreou na TV com a personagem Ivana/Ivan. Ela diz que ainda se lembra de sua primeira vez no estúdio. Na época, ela recebeu um abraço de toda a equipe e os votos de que tudo daria certo. No final do folhetim, Ivan, um homem trans, mostra quem ele era, corta o cabelo, namora e tira a camiseta em uma das sequências mais marcantes de finais de novelas.

"É importante voltar com esse discurso agora, com tanta gente trans assumindo seus espaços. Legal ver o quanto já andamos e o quanto precisamos caminhar. Ver onde estamos e para onde queremos ir. Estamos em um momento de teorias tão loucas que eu não sei o que o público vai dizer", diz Duarte.

A atriz revela que na ocasião muitas pessoas a paravam nas ruas para tentar discutir e entender mais sobre a transexualidade da personagem. O engraçado, ela lembra, é que parte do público achava que a atriz era transexual. Sinal de que sua primeira atuação já havia começado do jeito certo, era convincente.

Mas engana-se quem pensa que foi fácil. Carol Duarte começou a se preparar para esta personagem um ano antes ao entrevistar pessoas trans e ver inúmeros vídeos das transições pelas quais elas passavam. Ela sabia que ao fim teria de chegar a Ivan e quis entender como isso aconteceria da melhor maneira.

"Neste mergulho de entender o que é gênero eu comecei a pesquisar o que é ser mulher. E fui entendendo o que eu era. Teve uma transformação profunda em mim no sentido de começar a questionar o motivo de eu ter de estar sempre maquiada ou de salto. Essa questão do binarismo não cabe mais em uma caixa. Evolui", afirma a atriz.

Para o ator Emilio Dantas (traficante Rubinho), apesar de o tema ter aparecido só há três anos, existem muitos assuntos que ainda podem ter novas perspectivas. “Acima de como vai ser interpretado, os temas estão muito além do atual. A pandemia colocou todo mundo no seu lugar. Nas próprias cabeças as pessoas estão pensando sobre isso. Trouxe muitos entendimentos.”

TRANSFORMAÇÃO POR COMPLETO

Mas não foi só Carol Duarte que se transformou com os estudos e com a busca pela melhor performance. Paolla Oliveira também. Na pele de Jeiza, a policial forte e firme que é vencedora de MMA, a atriz conta que evoluiu muito pessoalmente e até intelectualmente com a personagem.

“A maior transformação não foi física. Vim para esse lugar para tentar sair do caminho de Paolla para encontrar a Jeiza. No início, as pessoas falavam que não daria certo eu fazer lutadora e policial, que eu não tinha nada a ver. Como se o ator não fosse capaz de atender a certos lugares", revela.

Paolla Oliveira, inclusive, foi a responsável por mudar os figurinos de sua personagem. "A Globo veio com figurino mais despojado, capuz na cabeça. Mas em que lugar está escrito que mulher em um contexto masculino teria que ser masculinizada? Só por causa das lutas? Acreditava que ela poderia ser feminina e forte. Foi legal me transformar e mudar as opiniões envolvidas de pessoas diante dessas situações."

De acordo com ela, existem muitas Jeizas pelo Brasil, mulheres fortes, empoderadas e que podem ser e estar onde elas bem entenderem. "Essa mulher está mais presente hoje. E as pessoas passarem por mim até hoje e falarem da major Jeiza e que eu representei as mulheres, isso me gratifica.”​

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