Televisão

Sergio Chapelin se aposenta para curtir a família após quase 50 anos na Globo

Maju e Sandra Annenberg mudam de bancadas; lembre a trajetória dos jornalistas

Sergio Chapelin e Gloria Maria
Sergio Chapelin e Gloria Maria - Alex Carvalho/TV Globo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Com a saída de Dony de Nuccio e a aposentadoria de Sérgio Chapelin, a Globo vai promover uma grande mudança em seus telejornais a partir de setembro. 

O veterano Sérgio Chapelin, 78, que marcou o jornalismo da Globo ao formar dupla com Cid Moreira, 91, nos anos 1970, no Jornal Nacional, e passou 23 anos à frente do Globo Repórter anuncia a sua aposentadoria. Com isso, Glória Maria e Sandra Annenberg assumem o comando do programa. 

Sandra Annenberg é editora-chefe e âncora há quase 20 anos do Jornal Hoje, e comanda o programa Como Será?, aos sábados. Ela deixará a bancada para Maria Julia Coutinho, que recentemente entrou para o rodízio de apresentadora do Jornal Nacional e agora será titular da bancada do Jornal Hoje.  Coutinho fez sua estreia na bancada do Jornal Nacional em fevereiro e se tornou a primeira mulher negra a apresentar o programa da Globo. 

Chapelin trabalhou 47 anos na Globo. Estreou no Jornal Hoje em 1972 e um mês depois já estava na bancada do jornal Nacional. Ele participou da estreia do Fantástico em 1973, sem deixar a bancada do  Nacional e foi o primeiro apresentador do Globo Repórter, programa do qual esteve à frente até este mês.

Curiosidades na carta

Leia abaixo na íntegra

  1. Glória Maria começou na Globo como estagiária, em 1971; ela foi a primeira repórter a fazer um vivo no Jornal Nacional e a primeira mulher a cobrir uma guerra

  2. Sandra Annenberg começou a trabalhar no jornalismo da Globo em 1991. Estreou em rede fazendo a previsão do tempo no Jornal Nacional, quando Cid Moreira e Sérgio Chapelin

  3. Maju Coutinho recebeu menção elogiosa da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima por ter introduzido informações sobre sustentabilidade e mudanças climáticas na previsão do tempo

  4. No início dos anos 2000, Annenberg aceitou o desafio de chefiar o escritório da Globo em Londres

  5. Ainda na TV Cultura, Maju recebeu um prêmio de que se orgulha enormemente, com justiça: menção honrosa no Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos

Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, divulgou uma longa nota à imprensa contando toda a história de relevância dos jornalistas envolvidos nas atuais mudanças. Ele lembra ainda dos primeiros dias de Chapelin na Globo e das notícias mais importantes que cobriu. 

Há tempos, Chapelin queria se aposentar, mas o diretor tentava mantê-lo. "Mesmo apaixonado pelo que faz, Sérgio ponderou que é parte da sabedoria encontrar o momento de desacelerar e aproveitar mais a vida, o tempo com a família", afirma o diretor.

 

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA OFICIAL

Hoje é dia de homenagens e de lembrar histórias.
 
Cinco anos atrás, Sérgio Chapelin me procurou. Era a época de renovação do contrato. Sempre gentilíssimo, ele me disse que acreditava que era hora de parar. Sérgio adora o que faz, tem uma relação de décadas com o público, com o jornalismo, mas queria mais tempo para a família, para aproveitar a vida sem tantas obrigações. Eu discordei, e o carinho dele pelo público e pelo jornalismo é de tal ordem, que ele acabou se convencendo a ficar mais cinco anos e a voltar a conversar sobre o assunto no futuro. Esse futuro chegou, ele me procurou algumas semanas atrás e a conversa se repetiu. Mesmo apaixonado pelo que faz, Sérgio ponderou que é parte da sabedoria encontrar o momento de desacelerar e aproveitar mais a vida, o tempo com a família.
 
Conversar com Sérgio é sempre um prazer. Algo na natureza dele o faz ser o mesmo de quando começou na Globo, quase cinquenta atrás, um pioneiro: a vitalidade, a voz, a energia, o carisma são os mesmos (temperados pelos cabelos grisalhos). Com anos de diferença, eu e ele temos uma origem profissional comum, a Rádio Jornal do Brasil, e essa coincidência me alegra. Quem o trouxe para a Globo foi Dirceu Rabelo, a “voz” da Globo ainda hoje. Dirceu o chamou para um teste em 1972. Ele veio em roupas esportivas, o cabelo longo e se pôs à prova diante de nossa querida Alice-Maria e do editor Silvio Júlio. Foi aprovado, mas teve de voltar no dia seguinte com uma orientação expressa de Alice: “Venha com terno e gravata porque o Armando Nogueira vai ver tudo”. 
 

Armando adorou e Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), também. Boni o queria logo no Jornal Nacional, mas Armando precisava dele no Jornal Hoje, para substituir Ronaldo Rosas. Sérgio dividiria a apresentação com Sônia Maria e com Márcia Mendes. “E também com dois comentaristas muito jovens, Nelson Motta e Scarlet Moon”, Sérgio me contou, sorrindo, mas logo lamentando a morte precoce de Marcia e Scarlet. Ficou no Hoje apenas um mês, porém. O sucesso foi tão grande que quando o saudoso Hilton Gomes deixou o Jornal Nacional, Sérgio foi o escalado para fazer dupla com Cid Moreira, e essa dupla marcaria para sempre a história da Globo. Sérgio participou também da estreia do Fantástico, em 1973, sem deixar o Jornal Nacional, e foi o primeiro apresentador do Globo Repórter. Eu disse a ele que isso era um feito, mas Sérgio, sem nunca abandonar seu jeito simples, me disse: “É um orgulho, claro, mas naquela época, eu apresentava o Jornal Nacional, o Fantástico e o Globo Repórter, não tinha moleza, mas era tudo um grande prazer”. 
 
Em 1974, o grande Heron Domingues, que apresentava no fim da noite o Jornal Internacional, teve um enfarte fulminante que o matou tão cedo. Foi logo depois de divulgar aos brasileiros uma informação de repercussão mundial: a renúncia do presidente Nixon, o ápice do escândalo Watergate. Foi uma edição marcante. O satélite abriu antes do início discurso do presidente. Não estava no ar nas emissoras, somente em circuito fechado para quem tinha acesso ao sinal da Casa Branca. Nixon começou a brincar em frente à tela, fez caretas e sorriu. Armando Nogueira, com o jornal no ar, disse a Jorge Pontual, redator do telejornal, para usar as imagens e escrever um “boa Noite” com base nelas. Pontual correu para escrever a tempo o texto, que finalizava assim: “Como um ator antes da novela, como um político que fez sua carreira dominando a televisão e às vezes sendo vencido por ela, Richard Milhous Nixon se despediu do cargo mais visado da terra com um sorriso”. Pontual se agachou por debaixo da mesa de Heron e entregou o papel com o texto. E Heron leu a nota, com aquelas imagens exclusivas (Pontual viria a ser por muitos anos diretor do Globo Repórter e, hoje, é correspondente em Nova York). Era o dia nove de agosto de 1974, e, na noite seguinte, lá estava Sérgio substituindo o amigo morto na véspera. Ficou na função por nove meses, quando o Jornal Amanhã foi criado, com apresentação de Carlos Campbell e Marcia Mendes. Voltou para o Jornal Nacional, onde ficou até 1983, ao lado de Cid, apresentando também eventualmente o Fantástico, Globo Repórter e a primeira versão do Jornal da Globo.

 

Ficou um ano no SBT, mas logo voltou, a pedido de Boni e de Armando. Foi para o Fantástico até 1989, sozinho ou dividindo a apresentação com Valéria Monteiro e Bonner. Mas, em 1985, apresentou, sozinho, uma das edições mais marcantes do Jornal Nacional. E num domingo. Foi o JN especial sobre a morte do presidente-eleito Tancredo Neves, depois de 37 dias de internação e muitas cirurgias.

O Fantástico foi interrompido bruscamente, no meio de uma reportagem, para que o repórter Carlos Tramontina, hoje apresentador do SP2, anunciasse que o secretário de imprensa de Tancredo, Antônio Britto, faria o pronunciamento que ficou gravado na memória de todos: “Lamento informar que o excelentíssimo senhor presidente da República, Tancredo Neves, faleceu esta noite, no Instituto do Coração, às dez horas e vinte e três minutos”. Logo depois de uma rodada de repórteres, já no cenário do JN, Sérgio, emocionado, disse para aqueles que ligavam a televisão naquele momento: “O presidente Tancredo Neves está morto, como acaba de anunciar o secretário de imprensa, Antônio Britto”.

Mudou de câmera e leu, com o tom certo que fez dele um mestre, o editorial que visava a homenagear Tancredo e consolar o país, tomado por comoção. O início dizia assim: “Nessa hora de profunda tristeza, o Brasil se sente mais só. Todos nós brasileiros estamos sofrendo muito. O presidente nos deixa, entre lágrimas e saudades, a certeza de que haveremos de viver uma Nova República”. E, por horas, ancorou aquela cobertura histórica.
 
Em 1989, voltaria a se dedicar exclusivamente à apresentação do Jornal Nacional ao lado de Cid até 1996, quando passou a ser o titular do Globo Repórter. São 23 anos comandando o programa, campeão absoluto de audiência, num longo convívio com a genial Silvia Sayão, diretora do programa durante todo esse período (e por muitos mais).
 
Ano após ano, são inúmeros os episódios marcantes da carreira de Sérgio (caberiam em mais de um livro). Se escolhi esses para citar é porque brotaram na  conversa que tivemos (na memória dele e na minha, como espectador e admirador). Olhando para tudo o que Sérgio fez, para o seu pioneirismo (quem mais pode dizer que estava na estreia de dois fenômenos como o Fantástico e Globo Repórter?), para a sua imensa contribuição ao nosso jornalismo, foi impossível não me render aos argumentos dele.

Como dizer não ao desejo de se dedicar mais à família e à vida, tendo ele sido esse gigante para a Globo? Confesso que fiquei emocionado, na terça, durante a nossa conversa de arremate. Mas disse a ele que sim. Sérgio deixará o Globo Repórter no fim de setembro. Mas não deixará a Globo. Como Cid Moreira, continuará ligado à emissora que a ele é tão grata. Tenho certeza de que falo por todos nós, seus colegas, quando, em nome da TV Globo, agradeço seu trabalho magistral. Sérgio, muito, muito obrigado. Sua contribuição ao nosso jornalismo é imensurável.

 

 Como substituir alguém como Sérgio Chapelin? Com duas das mais completas e consagradas jornalistas da televisão brasileira, Glória Maria e Sandra Annenberg. Conversei com elas e fiquei imensamente feliz ao perceber o entusiasmo delas diante do novo desafio, tanto Sandra como Glória. O Globo Repórter, eu sei, empolga todos nós jornalistas, porque é um programa vitorioso, de altíssimo nível. 
 
Glória começou na Globo, uma menina, como estagiária, em 1971, quando se começava a estagiar no momento em que se chegava à universidade. Já em novembro daquele ano, foi protagonista de uma das mais importantes coberturas da Globo, a queda do viaduto Paulo de Frontin, que matou 29 pessoas e feriu 18. Numa época em que não havia telefone celular, internet, redes sociais, ela descobriu em sua ronda que o viaduto desabara, fez as primeiras apurações que já davam a dimensão da tragédia e, assim, permitiu que a Globo entrasse cedo naquela cobertura tão importante. Nos dias seguintes, participou dos trabalhos aprendendo com os repórteres mais experientes. Foi seu batismo de fogo. “Você imagina uma foca recebendo uma informação com aquela dimensão? No início do início da carreira!”, Gloria sempre me diz, como que incrédula.
 
Glória é uma pioneira: foi a primeira repórter a fazer um vivo no Jornal Nacional. Se, ainda hoje, um repórter experiente fica ansioso ao entrar no ar, dá pra imaginar o que foi a proeza quarenta e dois anos atrás, em 1977. E não foi fácil. Todos muito empolgados com a possibilidade de entrar ao vivo sem equipamentos enormes (mas gigantes em relação aos de hoje), a ideia foi fazer o vivo na Avenida Brasil, durante um enorme engarrafamento.

Tudo estava certo quando, cinco minuto antes de ir ao ar, os refletores desligaram. A saída foi criativa: Glória se ajoelhou e foi iluminada pelos faróis da Chevrolet Veraneio, então o carro de reportagem da Globo. “Foi um susto, todos ficamos apavorados. Tínhamos ali os faróis, o problema era que eles não iluminavam o meu rosto. Eu disse, calma, eu me ajoelho! E tudo saiu à perfeição”, Glória conta. Saber sair de situações difíceis é uma característica que ela sempre teve. Novamente pioneira, anos mais tarde, em 2007, fez a primeira transmissão em Alta Definição da TV Brasileira, na Cidade Proibida, em Pequim, para o Fantástico.
 
Foram muitas as coberturas importantes, e eu ressalto aqui três. Cobriu em 1976 a posse do presidente americano Jimmy Carter, apenas cinco anos depois de entrar na emissora como estagiária. Foi um acontecimento, um presidente do partido Democrata depois dos conturbados anos de Nixon e Gerald Ford. Glória foi a primeira mulher na Globo a cobrir uma guerra, e coube a ela anunciar o fim da Guerra das Malvinas, em 1982. “Muitos colegas foram mandados antes de mim, num trabalho muito rico.

Quando Armando Nogueira decidiu me enviar, eu tive a sorte de poder anunciar o fim do conflito”, Glória lembra. Em abril de 1997, Glória foi enviada ao Peru, onde cobriu o desfecho do sequestro de mais de 100 diplomatas que estavam numa festa na casa do embaixador do Japão, um drama que se iniciara em dezembro do ano anterior. Entre as vítimas, o embaixador brasileiro, Carlos Luiz Coutinho Peres, entrevistado por ela ao deixar o cativeiro. Foram dez dias tensos, que acabaram na morte dos 14 guerrilheiros do Movimento Revolucionário Tupac Amaru. “Foi uma cobertura muito intensa, tudo era imprevisível, os olhos do mundo estavam ali, em Lima, não esqueço nunca aqueles dias”, Glória me disse. Além disso, foram quatro Olimpíadas (Atlanta, Sidney e Atenas) e duas Copas do Mundo (Estados Unidos e Brasil).
 
Em sua carreira de repórter, Glória esteve em mais de cem países. Poucos jornalistas conheceram o mundo como ela: terremotos, vulcões, eleições, além dos programas para o Globo Repórter que fazem o brasileiro viajar com ela. Entrevistou o ex-presidente americano Gerald Ford, já fora do poder, o primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin e personalidades como Michael Jackson, Harrison Ford, Leonardo DiCaprio, Sophia Loren, Nicole Kidman, Fred Mercury, Madonna e dezenas de outras.

Apresentou o Bom Dia Rio, o Jornal das Sete (predecessor do RJ2), o Jornal Hoje e, de 1998 a 2007, apresentou o Fantástico, onde marcou época, seu nome está para sempre relacionado à história do programa. Inúmeros domingos históricos, todas as eleições presidenciais do período, apuração, passo a passo, noite adentro. Em 2003, com Pedro Bial, fez a primeira entrevista com o então presidente Lula no Alvorada, mostrando a vida dele em palácio com a família. “O Fantástico foi uma experiência maravilhosa na minha vida. Por quase dez anos, estive na casa dos brasileiros mostrando grandes reportagens, coberturas marcantes. Não houve um assunto de grande repercussão que não tenha sido tratado com zelo e competência pelo programa. Fico feliz de ser parte de sua história,”, me disse Glória. Desde 2010 está como repórter no Globo Repórter.
 
Ao lado de Sandra, agora será apresentadora do programa. E continuará a mostrar ao público a profissional extraordinária que é: tem alma de jornalista e, como poucos, empatia absoluta com o telespectador. 
 
Quando convidei Sandra Annenberg para apresentar o Globo Repórter, ela fez uma observação curiosa: de todos os programas da Globo, era o único que ainda não tinha apresentado. Ao todo, ficou 18 anos à frente do Jornal Hoje, pelo qual tem um carinho sem medidas. “É onde me encontrei, sou feliz, adoro o seu público. Vou sentir saudades, mas sou movida a desafios, e o Globo Repórter é irrecusável”, Sandra me disse.
 
Sandra começou a trabalhar no jornalismo da Globo em 1991. Estreou em rede fazendo a previsão do tempo no Jornal Nacional, quando Cid Moreira e Sérgio Chapelin eram os titulares. Foi a primeira mulher a estar toda noite no JN, na estreia da fase mais profissional da previsão do tempo. “Foi uma transformação radical, o tempo ganhou espaço, ganhamos uma assessoria de técnicos, desenvolvemos uma linguagem própria, o clima virou notícia diária”, lembra Sandra. Na mesma época também apresentava o São Paulo Já Primeira Edição, um telejornal que, de 1990 a março de 1994, ia ao ar no horário do Jornal Hoje. Em 93, também seguindo os passos de Sérgio Chapelin, foi titular do Fantástico, ao lado de Fátima Bernardes e Celso Freitas, onde ficou até 1996. 
 
A maior emoção foi o domingo em que Ayrton Senna morreu, em 1 de maio de 1994. “Eu e Fátima Bernardes entramos ao vivo ao longo de todo o domingo, com boletins ao vivo. Seguramos a emoção. Durante o programa, combinamos de não nos olharmos porque sabíamos que íamos desabar. Ao fim do programa, olho no olho, dever cumprido e muito choro”, Sandra se recorda. Outro programa difícil foi o da morte de Lady Di, em 31 de agosto de 1997. Sandra tinha feito o Jornal Nacional na véspera, quando o mundo soube do acidente depois das dez da noite: a notícia foi dada em primeira mão. No domingo, o mundo inteiro estava em choque. “O programa tinha de refletir a comoção mundial. Todos nós nos preparamos e foi uma das edições mais marcantes do Fantástico”, Sandra me contou. 
 
Em 1996, voltou para São Paulo para ser a apresentadora do Jornal da Globo e editora-executiva do jornal até 1998, quando teve seu primeiro contato com o Jornal Hoje: tornou-se apresentadora e editora executiva do telejornal. Nessa primeira fase no Hoje, ficou até o ano 2000, e avalia: “O carinho pelo Hoje foi imediato. É um jornal na hora do almoço, quando tudo ainda está acontecendo, o desafio de dar a notícia em desenvolvimento é enorme”. Ela deu então uma guinada em sua carreira.

Aceitou o convite para a chefia do escritório da Globo em Londres e relembra: “A cobertura do 11 de setembro, em 2001, foi a mais difícil. Londres era vista como o próximo alvo. Trabalhávamos quase 24 horas por dia, praticamente morávamos no escritório. Parte da equipe foi para o Paquistão, de onde cobríamos a Guerra no Afeganistão”. Fora esse evento, participou da cobertura da eleição de Putin, da segunda Intifada, da chegada ao mercado do Euro, entre tantas outras. Além do trabalho de coordenação, Sandra fazia reportagens para todos os telejornais, para o Globo Esporte, Globo Rural e ancorava de Londres o noticiário internacional para o JH. 
 
Na volta, em 2002, apresentou o SP1, da qual foi também editora-executiva. E, em 2003, assumiu novamente o Hoje. Participou das coberturas dos dois últimos conclaves, o que escolheu Bento XVI e Francisco. “Foram grandes desafios em minha carreira. A fumacinha branca anunciando os novos Papas saíram sempre quando eu estava no ar. É emocionante dar essa notícia em primeira mão aos brasileiros”, Sandra lembra com orgulho.

Nesses anos todos, muitas vezes entrou no ar para dar um “plantão” e permaneceu horas no ar ancorando a cobertura. Para citar apenas dois de dezenas de exemplos: o acidente aéreo que matou o então candidato à Presidência Eduardo Campos (que levou o Hoje a ser indicado ao Emmy) e o brutal assassinato dos estudantes da escola em Suzano. “Não tem jeito, nesses dias, tudo é susto, tudo é surpresa, tudo começa num boletim e pode se alongar por horas a fio. É uma adrenalina grande, e difícil, porque os assuntos são pesados. Mas é nossa obrigação informar”, diz Sandra.
 
Por oito anos, ancorou a edição matutina do Globo Notícia, um boletim que resumia os assuntos da manhã, mas que crescia de tamanho toda vez que a notícia se impunha. Em 2014, surgia um novo programa do jornalismo, o Como Será, que completa amanhã cinco anos. Duas horas que conquistaram o público nas manhãs de sábado só com boas notícias.  No Esporte, cobriu as Olimpíadas de Atlanta, em 1996, quando ancorava as notícias da noite ao lado de Fernando Vanucci, e, a do Rio, em 2016. E ancorou para o Hoje as Copas da Alemanha, da África do Sul e da Rússia. 
 
No Globo Repórter, como apresentadora ao lado de Glória Maria, vai continuar a brilhar, a emprestar o seu talento para um dos programas mais queridos da televisão brasileira.
 
Glória e Sandra não abrem mão da reportagem. Glória continuará a fazer as suas e Sandra as dela. Enquanto uma estiver em campo, a outra apresentará sozinha e vice-versa. Provavelmente o esquema será assim: um terço com Glória, um terço com Sandra e um terço com Glória e Sandra, juntas. É sucesso garantido. O formato do Globo Repórter vai ser modificado para essa nova fase.
 
E como substituir Sandra Annenberg no Jornal Hoje, ela que deu rosto e voz de forma tão intensa por tantos anos? Com o talento de Maria Júlia Coutinho, cuja trajetória tivemos todos o prazer de acompanhar e de aplaudir desde que chegou à Globo, há doze anos.
 
Da TV Cultura, onde começou como estagiária, Maju chegou à casa nova com aquele currículo ideal das carreiras de sucesso no jornalismo. Porque o primeiro passo na TV pública paulista foi como estagiária. E a caminhada prosseguiu pela escuta, pela apuração, pela pauta. Dessas atividades de importância fundamental nos bastidores do telejornalismo, Maju migrou para a frente das lentes. E caminhos novos se abriram imediatamente. Primeiro como repórter, depois como apresentadora, ao lado de Heródoto Barbeiro.

“Foi muita rua, muito chão, um aprendizado diário. E desde cedo senti a importância do trabalho dos jornalistas. Como numa matéria que começou cobrindo um acidente numa obra civil, desdobrou-se mostrando as condições ultrajantes em que os serventes de pedreiros trabalhavam e terminou com a Delegacia Regional do Trabalho obrigando a empresa a não somente melhorar as condições, mas a pagar a passagem para aqueles que desejavam voltar para o Nordeste. O jornalismo torna isso possível”, diz Maju.

E foi ainda na TV Cultura que Maria Júlia recebeu um prêmio de que se orgulha enormemente, com justiça: menção honrosa no Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. “Foi uma ideia simples, mas reveladora. Saí às ruas perguntando às pessoas qual era a cor da minha pele. Diziam tudo, menos que eu era negra. Quando perguntava por que, algumas diziam que não queriam me ofender. Um jeito simples, mas contundente de mostrar o racismo”, lembra.
 
À Globo, ela chegou em 2007 para a reportagem dos telejornais locais de São Paulo. “Foram 6 anos de rua, antes de me escalarem como substituta na previsão do tempo do Globo Rural e do Bom dia Brasil”, ela conta, com orgulho mais que justificado. Porque a chegada ao “Mapa Tempo”, em 2013, foi um marco para Maju e para os telejornais em que atuou. Um ano depois do Globo Rural e do bom Dia Brasil, quando estreou o nosso Hora 1, a previsão do tempo rapidamente se tornou um momento especial, na interação perfeita de duas profissionais talentosas: Monalisa Perrone e Maria Júlia Coutinho proporcionaram ao telejornal caçula da Globo um clima perfeito (e o trocadilho é involuntário).

As duas ofereceram aos brasileiros um jeito informal, descontraído e natural de informar “com que roupa” deveriam ir pra rua no dia que começa. E essa citação de Noel Rosa foi se tornando marca de Maju. E também os neologismos para designar fenômenos meteorológicos, como a “chuvica”, e termos técnicos quase impronunciáveis aos não-íntimos dessa área do conhecimento. Até que, em 2015, semanas antes da estreia de um novo cenário do Jornal Nacional, chegou o momento de introduzir no horário nobre o estilo de apresentação da previsão do tempo que Maju tinha imprimido com sucesso ao Hora Um. E ao vivo, como nunca havia sido feito no Jornal Nacional. O sucesso não foi surpresa para ninguém que já conhecia o estilo dela. Mas Maju confessa: “Eu não poderia imaginar como essa exposição a um público maior, com mais TVs ligadas, causaria uma mudança tão grande para mim.”
 
Maju lembra ainda meio atônita a rapidez com que as novidades foram surgindo: “No fim daquele mesmo ano, fui convidada pela Organização Meteorológica Mundial da ONU para participar da COP 21 em Paris, onde apresentadores do tempo de vários cantos do mundo se informaram melhor sobre mudanças climáticas.”  

Maju participou de outros encontros desse tipo em 2017, em Turim, e em 2018, em Paris novamente.
Ganhou menção elogiosa da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima por ter introduzido informações sobre sustentabilidade e mudanças climáticas na previsão do tempo do Jornal Nacional. E de tal forma se dedicou ao tema e se encontrou nessa função que lançou seu primeiro livro pouco mais de um ano depois de ter chegado ao JN: “Entrando no Clima”, um almanaque sobre fenômenos meteorológicos. 
 
Fora do quadro da previsão do tempo, sentada à bancada, Maju apresentou o Jornal Hoje pela primeira vez em 2017. No ano seguinte, foi convidada pelo Sistema Globo de Rádio para um programa de entrevistas. Em janeiro deste ano, um teste de surpresa: “Encarei 7 de horas de ancoragem ao vivo no JH na cobertura da tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho.”
 
E foi no mês seguinte que Maju estreou na bancada do Jornal Nacional, pouco menos de 4 anos depois de ter passado a apresentar a previsão do tempo no painel em que interage à distância com Renata e Bonner.
 
Agora como titular da apresentação do Jornal Hoje, Maria Júlia Coutinho repetirá um caminho que Sandra Annenberg também trilhou, do mapa tempo para a bancada. E o público poderá acompanhar mais essa etapa de uma carreira solidamente construída e merecidamente aplaudida.
 
Maju assumirá a bancada no final de setembro, e a comandará sozinha (o formato do Hoje corresponderá a essa nova realidade). Até lá, Sandra continuará a comandar o Hoje. Escrevo
e mail tão longo porque é preciso cultivar a história dos que se dedicam a essa nossa profissão tão bonita.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem