Daniela Mercury promete trio para cada pessoa em live no Carnaval da pandemia
Após 39 anos puxando blocos nas ruas, cantora tenta traduzir a festa na internet
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No Carnaval da pandemia, Daniela Mercury, 55, faz o possível para manter o espírito alegre que sempre transmitiu às pessoas que correm atrás do trio que ela comanda por anos a fio. "Depois de 39 anos fazendo Carnaval, pela primeira vez ele não pode acontecer na rua", lembra a artista em entrevista, por telefone, ao F5.
A lamentação, porém, fica para outro momento, porque a cantora quer mais é transformar esse problema em solução. Ela acaba de lançar a música "Quando Carnaval Chegar", um frevo "baianizado" em homenagem a Moraes Moreira (1947-2020), e prepara live para a noite desta sexta-feira (12), às 20h30.
Composta por ela, a nova canção foi um suspiro em meio aos últimos meses. "Comecei a compor andando de bicicleta, era o momento em que me sentia livre. Cantarolava e vi que me trazia uma memória afetiva e que me fazia muito bem nesses meses de pandemia. Não houve intenção de fazer, a música nasceu."
E, mesmo que essa faceta compositora seja menos conhecida, Daniela Mercury já assina músicas desde seu primeiro trabalho. "Componho com certa facilidade", diz. "Escrevo muito, poesias, ideias de letras... desde 13 anos. Tenho muitas músicas prontas, mas nem sempre elas combinam com o trabalho que vou lançar naquele momento."
Neste caso, a letra fala sobre um momento de efervescência que só vai chegar com a folia. "É um misto de reflexão e alegria", explica. "Falo de um tempo entre o passado e o futuro, de se sentir preso no tempo, na impossibilidade de viver a vida normalmente."
Com uma "textura antiguinha", o frevo tem uma pegada retrô que só é desafiada pela guitarra baiana. A faixa foi produzida por Yacoce Simões, com quem Daniela trabalha há anos. Para dividir os vocais, ela convidou Gal Costa, 75, que tinha uma relação forte com o homenageado e que fez muito sucesso com "Festa do Interior", cuja letra é dele. "A primeira vez que fiz um Carnaval no trio, em 1982, essa música estava estourada no Carnaval de Salvador, ficou no meu imaginário", conta Daniela.
A cantora confessa que gravar pela primeira vez com a ídola que virou amiga foi um momento único. "Fazer uma música cantada por Gal é extraordinário, é um presente a mais para mim", avalia. "Quando ouvi a voz dela me emocionei, as lágrimas desciam. Aquela voz que você conhece da vida toda cantando a minha música, comigo... Foi um Carnaval dentro de mim."
O clipe, lançado com a música há uma semana, é feito em animação. Foi a solução encontrada para reunir as duas cantoras em meio à pandemia. "Independentemente disso, a ideia foi maravilhosa", alegra-se. "O colorido, a leveza e a simplicidade tiram o melhor da música. Tem o onírico, o plano do sonho, e, ao mesmo tempo, homenageia as figuras políticas como Marielle Franco, Elza Soares e Paulo Freire."
A primeira execução da música ao vivo e com banda será na live Carnaval Virtual da Rainha, que além da transmissão online será exibida na TV em alguns estados brasileiros (também há parceria para retransmissão em Portugal). A expectativa é grande, uma vez que a Live da Rainha, realizada em 2020, entrou para o seleto grupo das 10 melhores lives do ano segundo o jornal americano The New York Times.
Daniela Mercury promete não decepcionar com três horas de apresentação e um repertório composto por seus grandes hits —em especial as canções mais vibrantes e dançantes. Assim como todos os anos, ela diz que tentará introduzir novidades. "Todo Carnaval é desafiador, é um espetáculo novo, neste ano tem este desafio tecnológico também", avalia.
Se em outros anos ela já fez até uma peça em cima do trio, desta vez aposta nas artes plásticas como inspiração. Ela escolheu a obra "Viva o Povo Baiano", de J Cunha, para servir de cenário. "Eu vou ficar dentro da obra, vai ter chão, teto e parede", adianta. "É como aqueles livros que quando você abre as figuras saem. Quando abrirem, estou eu lá dentro (risos)."
A ideia é simular uma grande folia baiana, com tudo o que se tem direito. "É como se eu estivesse dentro de um bloco de Carnaval, com as figuras representando o colorido das pessoas, e uma avenida imaginária. Vai ser quase um sonho de Carnaval, resta a vocês mergulharem nele comigo."
O que lhe dá certa tranquilidade para encarar o desafio é a experiência de embaixadora da folia por onde passa. "Já fiz mais de 500 shows fora do país tentando traduzir o Carnaval de rua", lembra.
As diversas câmeras pretendem dar dinamismo. E, além dela, a filha, Giovana Povoas, vai dançar com mais um bailarino. Ao público, ela pede que se fantasiem como se estivessem indo para um bloco na rua. "Entrar um pouco neste ritual é de extrema importância", diz.
"Vai ser um Carnaval completamente diferente", afirma. "Cheguei a pensar em fazer em cima do trio em um lugar deserto, mas resolvi fazer algo que não tentasse repetir a realidade. Não queria ficar pensando no que não temos, mas no que temos. Isso poderia trazer um saudosismo e até uma certa tristeza."
"A gente já está muito triste, e a tristeza não deixa que a gente se una", diz a artista em tom filosofal. "O Carnaval é um momento de se olhar com mais carinho e com menos divisões. Sempre acreditei que o Carnaval é o momento em que as pessoas se conectavam com o Brasil, de se lembrar de que, como sociedade, temos essa conexão. As pessoas vão esquecendo que fazem parte de um grupo maior."
"Não é só uma festa de entretenimento, é cultural", diz Mercury. "É um momento de extrema importância, em que todo mundo pode se manifestar. É um desafogo. A cultura serve para isso. O imaginário do Carnaval me ajudou a falar sobre todas as questões brasileiras. Acho isso um motivo de reflexão para todos nós, para darmos valor à nossa cultura e a quem somos."
"Essa foi minha forma de chegar no Carnaval", resume. "Guarde essa vontade de ir para a rua para o próximo ano. Essa festa é para que a gente possa curtir de forma segura. É como se tivesse um trio elétrico particular dentro de casa."
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