Acusada de transfobia, dupla Pedro Motta e Henrique muda letra da música
Aliança Nacional LGBTI+ entrou com uma ação civil pública contra a dupla
A Aliança Nacional LGBTI+ protocolizou nesta segunda-feira (21) uma notícia-crime para que o Ministério Público de Goiás possa apurar "a suposta prática do crime de transfobia" na música "Lili", lançada recentemente pela dupla Pedro Motta e Henrique. Foi também protocolada uma Ação Civil Pública nesta terça-feira (22).
Após a polêmica, a dupla mudou a letra da música que havia sido lançada há quatro dias. A versão original fala sobre um homem ter se sentido enganado após descobrir que sua amante é uma travesti.
Em novo vídeo, os sertanejos cantam a nova versão e, ainda, reproduzem dados da AntraBrasil (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) sobre o número de mortes sofrido pelo gênero.
"Nos posicionamos muito mal da primeira vez, mas errar é o humano", afirmaram os sertanejos.
Na nova letra, os namorados vâo ao motel e ao descobrir que Lili é travesti, ele diz que a namorada será "sempre a sua menina".
No processo da Aliança Nacional, a instituição "pede a remoção do conteúdo de caráter transfóbico bem como indenização por danos morais coletivos a ser revertida para instituições que promovem a defesa dos direitos das pessoas transexuais e travestis no Brasil".
Antes de trocar a letra, a dupla se defendeu no Instagram. "Estão nos chamando de homofóbicos. A gente não está aqui para menosprezar a imagem de vocês. Pelo contrário, a música diz que o amor da nossa vida é uma travesti. A gente pede desculpas a todos vocês que estão interpretando mal a música. Sabemos que vai ter polêmica, mas nos desculpem", afirmam em vídeo.
Mesmo com a mudança na letra de maneira informal pela dupla, a advogada goiana Amanda Souto Baliza, que representa a Aliança LGBTI afirma que o pedido da ação será mantido.
"A nova letra só veio após a ampla repercussão negativa. Na primeira vez, eles fizeram uma mea culpa, como se o problema fosse somente a flexão de gênero no masculino, quando a letra tem uma série de preconceitos", afirma ela.
Segundo Amanda, há outras ações em andamento. "Outras colegas que se sentiram ofendidas entraram com ações de indenização por dano moral em outras cidades também, além de Goiânia", afirma. "Uma das peças é uma notícia-crime para que seja averiguada a prática do crime de transfobia nos moldes do artigo 20, §2º da Lei 7.716/89 (lei de racismo)".
A outra é uma Ação Civil Pública. Essa "pede a remoção da música nas plataformas de streaming e dano moral coletivo a ser revertido para instituições que atuam para garantir os direitos das pessoas LGBTI+ no Brasil".
A música também repercutiu mal nas redes sociais e plataforma de música. A Deezer e o Spotify removeram a faixa de seus catálogos. A Deezer se pronunciou no Twitter: "Não compactuo com transfobia. Já retirei a música de minha plataforma".
O clipe de "Lili" ainda está no YouTube, mas o vídeo foi retirado da busca da ferramenta. Em nota, o Google disse que não comenta casos específicos. "O YouTube é uma plataforma de vídeo aberta e qualquer pessoa pode compartilhar conteúdo, que está sujeito a revisão de acordo com as nossas diretrizes da comunidade".
A nota ainda informa que usuários ofendidos podem fazer uma denúncia para que a equipe responsável faça a análise do material. "Quando não há violação à política de uso do produto, a decisão final sobre a necessidade de remoção do conteúdo cabe ao Poder Judiciário, de acordo com o que estabelece o Marco Civil da Internet."
Letra de 'Lili'
Depois de um mês de namoro
Apaixonado, iludido e bobo
Dentro de um motel
Chorando arrasado
Acabei de descobrir
Que eu fui enganado
Agora eu entendo
Porque ela
Não queria fazer amor
Uma voz feminina
Uma pele macia
Me enganou tão bem
Depois de uma farra embriagada
Ela se entregou
Só que ela não tinha
O que mulher tem
Ô Lili, ô Lili
Porque você mentiu pra mim
Ô Lili, ô Lili
Amor da minha é um travesti
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