Tom Zé relembra álbum 'Grande Liquidação', inspirado no cotidiano dos paulistanos dos anos 1960
Cantor fará dois shows em SP para celebrar 50 anos do disco
Quando se fala em Tom Zé, o primeiro álbum que vem à mente dos fãs é “Estudando o Samba”. Lançado em 1976, foi o disco mais conhecido dele e tem músicas como “A Felicidade” e “Dói”. Antes, no entanto, o cantor e compositor baiano criou outra obra-prima, “Grande Liquidação”, que completa 50 anos em 2018.
O fato será comemorado com dois shows, um no sábado (15) e outro no domingo (16), no Sesc Pompeia, na zona oeste de São Paulo. "Das 12 faixas do álbum, escolhi as dez que tem maior animação e que são mais fáceis para levar ao palco. Eu e minha banda fizemos novos arranjos, mais fogosos e atraentes. Fiquei feliz com o resultado”, conta o artista.
No repertório, estão "São São Paulo", a música mais conhecida do disco e um de seus clássicos, “Sem Entrada e Sem Mais Nada”, “Curso Intensivo de Boas Maneiras” e “Não Buzine que Eu Estou Paquerando”.
Algumas surpresas, porém, também podem acontecer. “Meu show nunca é igual ao outro. Gosto de me inspirar em novidades e qualquer tema pode entrar em uma apresentação.”
Entre as inspirações do cantor, estão as notícias veiculadas pela imprensa. Foi assim que ele teve a ideia de “São São Paulo”. “Certo dia, andando por São Paulo, me deparei com uma manchete de jornal que dizia que as prostitutas estavam invadindo o centro. Era um dia cinza, eu estava tremendo de frio, mas quando vi isso passei a tremer de emoção!”, lembra.
A letra da música fala das qualidades e defeitos da maior cidade do Brasil. Os shows ainda terão canções de outros álbuns. Tom também vai cantar “2001”, parceria com Rita Lee que por pouco não entrou em “Grande Liquidação”.
COTIDIANO E FILME FORAM INSPIRAÇÃO
Tom Zé foi buscar no comportamento da sociedade a inspiração para as letras de “Grande Liquidação”. Boa parte das músicas surgiu a partir das experiências do cantor em São Paulo. “O disco todo foi feito com o que eu via na rua. Tentei refletir como era o cotidiano de São Paulo no fim dos anos 1960”, lembra.
Outra fonte usada pelo compositor foi o filme “São Paulo S.A.” (1965), do cineasta Luís Sérgio Person (1936-1976). O longa faz uma crítica ao crescimento desenfreado ao contar a história de Carlos.
Interpretado pelo ator Walmor Chagas (1930-2013), que começa a trabalhar em uma grande empresa. Ele cresce dentro da companhia, mas tem dificuldades com a nova situação de vida. “Havia o grande sonho de ser chefe em uma fábrica e o filme fala fortemente disso. Saí do cinema bastante impactado”, lembra o cantor.
Zé ainda reservou espaço para lembrar de sua época de comerciante em Irará (BA). O ato de fazer fiado, a venda em que o cliente paga depois, é o tema de “Sem Entrada e Sem Mais Nada”.
Os fãs de Tom Zé já esperam ansiosos pelo shows que do disco “Grande Liquidação”. As faixas desse álbum não costumam entrar nas apresentações do cantor. “Gosto de músicas em que letra e instrumental andam juntos. O Tom Zé é bastante cuidado nessas duas partes, e, nesse disco, esse casamento é quase perfeito”, conta o publicitário Roberto Nunes, 49 anos.
Ele também ressalta a atualidade das letras. “O Tom Zé fala da correria de uma cidade como São Paulo, o quanto a gente gasta energia correndo para ganhar tempo”, diz Nunes, que vai ao show de sábado.
O disco também encantou a atriz Aguida Aguiar, 25 anos, que pretende ir a um dos shows. “Eu gosto dele pela maneira como o Zé vê o cotidiano. Ele utiliza símbolos, como trânsito e vontade de sambar, para representar o pensamento humano”, analisa.
Aguida afirma que as faixas do álbum passam pelo diferentes jeitos de ser do ser humano. “Há uma crítica na importância que o capital estava ganhando.” Jovens como Aguida animam Tom Zé. “Percebo a presença de jovens nos meus shows. É legal, porque nunca deixei de acompanhar o que os artistas mais novos estão fazendo.”
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