Factoides

HUMOR: Dê você também sua joelhada no Neymar

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A Copa nem terminou ainda –proponho, aliás, chamar oficialmente a volta do campeonato nacional de Brasileirão da Depressão– e as comportas do inferno já se abriram: as torrentes que saem delas e correm pelas redes sociais são o que um amigo classificou de Iguaçu de chorume (e que eu acho uma metáfora delicada: é no mínimo um Niágara de diarreia, cataratas que nem o Pica-Pau se arriscaria a descer naquele barril). #imaginanaeleição

O motivo da vez, claro, é a contusão que deixou o Neymar fora dos dois últimos jogos do Brasil na Copa. Não vou discutir aqui a joelhada do Zúñiga –que achei criminosa, ainda que tenha sido imprudência e não maldade–, nem as agressões absurdas à filha e a mulher do colombiano nas mesmas redes sociais. De máscara e escafandro, vou mergulhar no que é apenas uma parte desse volume morto de chorume. E essa parte, realmente volumosa, é o ódio ao craque -especificamente, o maior da atual seleção (embora pra mim o jogador-monstro nesta Copa esteja sendo David Luiz, melhor ser humano vivo. Um zagueiro, o que diz um bocado sobre esse time do Felipão).

Odeia-se o Neymar por quase qualquer coisa. Pela fama de simular faltas; por não jogar bem; por jogar bem, mas menos do que se espera (e às vezes o que se espera é, sei lá, Pelé movido a plutônio); pela "ostentação"; pelo bombardeio do marketing; pelo pai-empresário e seus negócios; pelo Niágara de grana; pelas tattoos; por namorar a Bruna Marquezine. Odeia-se pela "frescura" da contusão (ofereço a esses uma pisada grátis na vértebra, com coturno, pra ficar mais gostoso) e pela cobertura do caso na TV, que vai do drama à hagiografia (como se o jogador fosse o RESPONSÁVEL pela cobertura, e não o alvo). Odeia-se o Neymar pelo que ele é e pelo que queremos que ele seja.


Mas só existe uma vítima nessa história, e ela é exatamente o jogador de futebol que teve a vértebra quebrada na base do joelhaço. A conclusão -e alguns idiotas verbalizaram exatamente dessa maneira– é que Neymar, de algum modo, mereceu se machucar. Ou seja, é uma ideia igualzinha (da mesma família, prima-irmã) àquela de que a mulher de vestido curto "mereceu" o estupro, porque provocou de alguma maneira. É a mesma escrotidão, o mesmo retardo mental avançado, a mesmíssima torpeza. Neymar ostentou, provocou; logo, merece ser punido.

E o que ele "provocou"? Aqui vou bancar o Contardo Calligaris de galinheiro –desculpaí, Contardo–, mas o negócio é o seguinte: antes das redes sociais, nunca se deu tanta voz a gente ressentida e impotente, que só tem prazer na Schadenfreude (termo alemão que nunca foi tão brasileiro). Um povo incapaz de criar qualquer coisa –um drible, uma música, meio tuíte minimamente engraçado–, que só fica felizinho e se sente fortão na companhia de milhões de outros medíocres. Ou seja, a versão 2.0 daqueles babacas do colégio que só andavam em turma.

Essa "gentalha, gentalha!", naturalmente, se sente incomodada com as qualidades do Neymar, não com os defeitos -mais um exemplo pra aquela frase do Tom Jobim sobre sucesso no Brasil ser ofensa pessoal–, e se sentirá vingada a cada vez que ele fracassar; no caso dele, dá até pra ver algumas pitadas de racismo em certas críticas ao jogador que "não sabe seu lugar".

E em verdade vos digo: Neymar não é só financeiramente, talvez amorosamente, mais bem-sucedido que eles. É moralmente melhor que eles: é um ser humano diante das ratazanas. Os rios de dinheiro não anulam o fato de ser um moleque de 22 anos com uma cobrança do tamanho do mundo nas costas. Nós outros jamais saberemos o que é ganhar grana nesse nível, mas também jamais saberemos a dimensão de ser cobrado por 200 milhões de pessoas. Há milionários mais mimados –além disso, que o cara não pire feito um Michael Jackson da vida talvez já seja incrível em si.

Enfim, ninguém sabe se o Brasil vai ganhar a Copa. Mas acho que todo o país ganharia se jogassem um Viagra na água dos brochas ressentidos. Quem sabe até o volume morto ressuscite.


RUY GOIABA jura que vai tentar parar de fazer trocadilhos com "volume morto", mas não promete. E inveja quem pode ter a Marquezine de enfermeira. "Lucky bastard".

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