Julia Fox faz sucesso com vestido da vingança após romper com Kanye West
Atriz usou vestido ousado no desfile de LaQuan Smith em Nova York
Atriz usou vestido ousado no desfile de LaQuan Smith em Nova York
Celebridades exibindo sua elegância em um desfile de moda não é algo exatamente incomum hoje em dia, quando as netas do presidente Biden vão ao desfile da Markarian e integrantes diversos do elenco de "Euphoria" parecem ser onipresentes.
A troca recíproca de favores que caracteriza o relacionamento entre fama e moda é um segredo aberto. Mas mesmo sob um critério cínico como esse, o primeiro modelo no desfile de LaQuan Smith, realizado às 21h do dia 14 de fevereiro [o Dia dos Namorados nos Estados Unidos], causou algum alarido.
Lá estava Julia Fox, que rompeu recentemente com Kanye West, exibindo seus dotes em um vestido tubo colante e de gola alta, com uma trinca de fendas generosas em torno do peito, uma faixa de tecido em forma de T invertido disposta sugestivamente a fim de atrair os olhares para os detalhes reveladores, os cabelos presos em um coque firme, um meneio insinuante nos quadris e uma expressão de "ei, pateta, veja só o que você está perdendo" estampada no rosto. (O estilista disse que conhece o trabalho de Fox desde que estava no segundo grau, segundo um porta-voz, e que imaginou que ela seria a mulher perfeita para representar o espírito da coleção.)
A entrada de Fox tomou o conceito de vestido de vingança e o elevou de patamar. E ofereceu um bom exemplo das aplicações práticas de uma moda que pode parecer nada prática.
Smith cria jaquetas de motociclista afiadas e sobretudos de linhas enxutas, mas sua especialidade é o vernáculo da ousadia e exposição: pernas cobertas de lantejoulas; curvas quase escapando do tecido; joias vistosas, sinalizando. É fácil desconsiderar esse tipo de coisa, mas, como demonstrou Fox no desfile, elas certamente têm seus usos.
E a entrada dela também serviu para injetar alguma energia naquilo que vinha sendo uma fashion week bastante discreta. A exuberância que permeou a temporada passada, alimentada por uma sensação palpável de que a cidade estava emergindo, e de que o papel da moda nela estava sendo recuperado, se dissipou.
O prefeito Eric Adams, um dos políticos mais antenados com relação à moda e alguém que presumivelmente tem grande interesse no sucesso de um dos setores econômicos mais importantes para Nova York, não pôde comparecer. Em lugar de contemplar o mundo externo, muitos estilistas parecem ter optado pela introspecção.
Nos melhores casos, isso pode criar uma sensação de intimidade, como aconteceu no desfile de Maryam Nassir Zadeh, que gosta de empilhar camadas de clichês de moda, como um suéter de menina de escola sobre uma saia de couro sobre calças transparentes, e cujos eventos muitas vezes criam a sensação de uma reunião de família entre os "insiders".
Desta vez, a escritora Ottessa Moshfegh (que escreveu um conto para o desfile da Proenza Schouler no começo da semana e está começando a se tornar uma espécie de musa da moda) entrou na passarela usando uma saia cinza em estilo secretária, na altura dos joelhos, e um lenço de couro preto, enquanto os estilistas Mike Eckhaus e Zoe Latta, da Eckhaus Latta, aplaudiam da plateia.
Mas quando Tory Burch realizou seu desfile em um edifício de paredes de vidro em Midtown, com aparentemente toda a cidade de Nova York iluminada e estendida lá embaixo, o que incluía uma placa fluorescente sobre um edifício vizinho com os dizeres "os nova-iorquinos [símbolo de coração] Tory", o momento foi um dos raros –e oportunos– lembretes de que continua a existir um mundo lá fora.
E isso deu às suas roupas, que estão se tornando cada vez mais interessantes, com traços de elegância da metade do século 20 e sombras da década de 1970, e à sua coordenação geométrica de cores (uma camiseta de miçangas azul e vermelha por sobre uma blusa turquesa de gola alta e braços pretos, combinadas a uma saia de lurex e delimitadas por um cinto preto de couro), uma base firme na estrutura de poder em que elas supostamente devem ser usadas.
Esse elemento não esteve presente no desfile de Carolina Herrera, realizado em uma caixa branca desnaturada na qual o estilista Wes Gordon exibiu seu arco-íris de vestidos, macacões decorados por pedrarias, conjuntos para coquetéis de tule, e modelos floridos, como um buquê de beleza formal à procura de uma festa de gala.
E tampouco esteve presente no desfile da Coach, no qual Stuart Vevers construiu "uma cidade em um lugar qualquer dos Estados Unidos", de acordo com o "boletim comunitário local" deixado em cada assento. "Uma cidade em que é sempre hora de brilhar", dizia o texto, onde "o amor está no ar", e onde "tudo é possível".
A ideia é boa, mas na prática a cidade parecia existir em uma espécie de subúrbio mal-assombrado, representada por três casas solitárias de madeira, um carro estacionado e uma cesta de basquete afixada a uma porta de garagem, e povoada por cidadãos quase todos vestidos como que para reviver o grunge, em roupas xadrez e casacos espessos, camisetas com desenhos, veludo, vestidos baby-doll e peças grafitadas. Usando, em outras palavras, os trajes de jovens alienados e angustiados, mas que no contexto deveriam representar nostalgia otimista e esperança.
O desfile não fazia sentido algum. A década de 1990 é uma das grandes tendências do momento em parte porque a ansiedade vaga e indistinta daquela época parece altamente familiar no momento. Vevers se deu muito bem quanto à primeira parte da proposta, mas não conseguiu realizar a segunda. Isso deixou uma grande lacuna entre as roupas e o conteúdo. E as celebridades (entre as quais Megan Thee Stallion) e criadores de vídeos do TikTok que lotavam a plateia não foram capazes de preenchê-la.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci.
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