Musical traz aos palcos a longa trajetória do gênio do cinema Charles Chaplin
A peça percorre a vida do eterno vagabundo dos 13 aos 82 anos
A vida do inglês Charles Spencer Chaplin, o artista mais completo de todos os tempos, é tão complexa que não cabe só no cinema. A peça “Chaplin, o Musical” percorre o período da vida do eterno vagabundo dos 13 aos 82 anos, quando recebeu um Oscar especial pelo conjunto da obra.
O prêmio, concedido em 1972, foi tido como um pedido de desculpas após o ator ter sido expulso dos Estados Unidos por supostas atividades comunistas. O espetáculo está em cartaz no Theatro NET SP, na Vila Olímpia (zona oeste), até 25 de novembro.
“O público pode esperar muita emoção. Vai conhecer mais não só o artista que ele foi, mas o homem que estava por trás dele, as pessoas que o cercavam. É uma história de vida muito rica e inspiradora”, afirma o ator e dançarino Jarbas Homem de Mello, que interpreta o britânico.
A peça começa em Londres, onde Chaplin nasceu e passou a infância. Na sequência, a viagem que mudou os rumos da carreira do ator, que era também cantor, diretor, compositor, roteirista e patinador: quando ele embarcou para os Estados Unidos com a trupe de Fred Karno, renomado grupo de teatro da época, em sua primeira turnê mundial.
Em seguida veio a estreia no cinema, a trajetória de sucesso, o exílio na Suíça, após ser expulso do país americano, até o retorno aos EUA para receber o Oscar honorário.
Chaplin está no nosso imaginário, geração após geração, desde 1914, quando apareceu pela primeira vez como o Vagabundo, com um andar esquisito, cartola, bengala, chapéu coco, paletó desajeitado e um bigodinho engraçado, distraído no meio da pista e atrapalhando os corredores, no filme “Corrida de Automóveis”.
Homem de Mello conheceu Chaplin na infância. “Tive contato com os filmes dele ainda quando criança. Assistia na televisão, nas sessões da tarde. Fui um adolescente apaixonado pela figura do Carlitos”, confessa.
O ARTISTA QUE DESAFIOU UM DITADOR
Chaplin era, antes de qualquer rótulo que tentaram lhe imputar, humanista. E ele tratou com humor dos problemas trabalhistas e sociais em “Tempos Modernos” (1936), onde a máquina dominou o homem.
É dessa obra a célebre cena em que o trabalhador Carlitos entra dentro de uma engrenagem da máquina da fábrica. Famoso mundialmente como estrela de filmes mudos, resistiu ao cinema falado por mais de dez anos. Mas quando decidiu falar, foi arrebatador.
Em seu primeiro filme falado, “O Grande Ditador” (1940), ironizou o então poderoso líder da Alemanha nazista, Adolf Hitler, com discurso inspirador ao final.
Carlitos intercala entre os papéis de Adenoid Hynkel, ditador da “Tomânia”, e um barbeiro judeu perseguido frequentemente por nazistas. Chaplin parecia prever o destino cruel de milhões de pessoas. Foi um ato corajoso de rebeldia contra o ditador austríaco e contra o nazismo.
A semelhança física entre Carlitos e Hitler são acentuadas pelo bigodinho. Mas elas param por aí. “Sua obra é rica e traz reflexões importantes ainda hoje”, afirma Jarbas Homem de Mello, que mesmo sem a maquiagem lembra o ator britânico.
O mesmo Vagabundo _figura que passa a ser parte da maioria de seus filmes_, é uma personagem que atinge todas as classes sociais com seu humor e críticas.
Para Homem de Mello, Chaplin ainda é atual mais de 40 anos após sua morte, em uma noite de Natal. “Acho que as críticas que ele fazia são atemporais e, por isso, conseguimos trazer sua obra para os dias atuais e ainda sermos tocados e levados a refletir por meio dela.”
TORNANDO-SE CHAPLIN
Para aprimorar sua atuação do icônico Charles Chaplin, Homem de Mello fez aulas de circo e de patinação, e também aprendeu a tocar violino.
Para o palco, demora uma hora para se transformar no ator britânico. Além de toda essa preparação, assistiu aos filmes do artista e leu tudo sobre o artista.
No figurino, só para Jarbas, estão reservadas duas perucas, 20 bigodes e três bengalas. Tudo isso o ajuda na hora de dar vida a Chaplin desde a adolescência até a vida adulta.
“É um personagem que começa muito jovem. Construir essa voz de uma pessoa jovem, o corpo, o gestual e levá-lo até os 82 anos acho que é a maior dificuldade”, pondera o ator brasileiro.
E Jarbas Homem de Mello se envaidece quando comparado fisicamente a Chaplin. “Acho que somos fisicamente parecidos. Quando visitei o Ace Downtown Hotel, em Los Angeles, que é o lugar onde era o estúdio de Chaplin, vi fotos dele e achei bem parecido.”
Pessoas importantes na vida do personagem-título são levadas ao palco, como o irmão mais velho Sidney (Juan Alba), com quem tinha uma relação de cumplicidade; a mãe, Hannah (Naíma), talentosa cantora de teatro que pegou sífilis e foi internada, deixando Chaplin em orfanatos; Oona O’Neil (Myra Ruiz), sua quarta e última esposa; a colunista e crítica ferrenha Hedda Hooper (Helga Nemeczyk); Fred Karno (Julio Assad), empresário do Music Hall londrino; e Mack Sennett (Paulo Goulart Filho), fundador dos estúdios Keystone e responsável pela estreia de Chaplin no cinema.
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