Minha paixão pelo teatro surgiu por causa da minha mãe, Diná, 81, bilheteira do Teatro Cultura Artística por 26 anos. Com ela, aprendi a admirar a arte da qual escreverei aqui, aos domingos. Espero que você, leitor, aproveite a jornada e se apaixone também.

São Paulo é a capital dos grandes espetáculos. Entre eles, um clássico americano, saudado como obra-prima e montado em Londres, Paris e Nova York, está em cartaz com Sérgio Mamberti e Rodrigo Lombardi no elenco: “Um Panorama Visto da Ponte”. Escrito em 1955 pelo dramaturgo Arthur Miller (1905-2005, que foi casado com Marilyn Monroe), passa-se na Nova York dos anos 1920, mas poderia ser hoje.

É o drama de imigrantes que, para escapar da fome, buscam emprego nos EUA. Após desavenças entre parentes, a dúvida: um será capaz de denunciar o outro, ilegal? A peça já teve montagem no Brasil, em 1958, e Mamberti foi espectador.

Na atual, os atores conversam com o público ao final da peça. O elenco, ao ser questionado por mim sobre as semelhanças que vê entre o texto e os dias de hoje, destaca a intolerância. “O mundo não está feliz. Há um sentimento cada vez mais comum, no Brasil e no mundo: o desejo de estar em um lugar diferente”, diz Lombardi.

Mamberti lembra do dilema do personagem principal da peça e cita Elia Kazan, diretor de teatro que denunciou oito companheiros da área em 1930. “A delação é terrível, uma humilhação. Com as guerras, as pessoas se deslocam. São questões humanas. Por isso, esta montagem sobrevive.”

LIBRAS NO PALCO

Para contemplar os surdos e mudos presentes na plateia, atores do espetáculo “Uma Comédia do Além” contaram com tradutor de libras na apresentação do último sábado de setembro.

Pouco antes, no dia 26, foi celebrado o Dia Nacional dos Surdos.

Os atores consideraram natural a presença do tradutor. E nós, na plateia, até nos esquecemos de que ele estava lá. “Foi parte da apresentação, bem espontâneo. Me encontrei bem”, afirma Leão Lobo, que interpreta Rafa, um anjo que precisa levar Nando (Paulo de Almeida), que morreu e ainda não sabe, para sua nova morada pós-morte.

“Estamos há um ano viajando com a peça. Elenco em sintonia”, diz Lobo.

EM CARTAZ

 Clássico de Lewis Carroll (1832-1898), “Alice no País das Maravilhas” conta a história da jovem e sonhadora Alice, que cai em um buraco após seguir um coelho pelo seu jardim. Ao acordar, ela está em um universo paralelo, mágico e cheio de aventuras. Ganha a companhia do Chapeleiro Maluco.

Angela Dippe e Luana Martau assumem o papel de Carolina, mulher de 50 anos que fala com ela mesma quando tinha 15 anos em “A Dona da História”. “Não me arrependo de nada do que fiz e não me imaginaria assim, tão despojada, após os 30 anos”, diz a personagem de Luana à de Angela, em uma das cenas do espetáculo.