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Tony Goes

Bobinha, mas agradável de ver, 'Smiley' é 'Emily in Paris' para o público gay

Série espanhola da Netflix traz escapismo e romance para a época do Natal

Cena da série 'Smiley', da Netflix
Cena da série 'Smiley', comédia romântica com gays da Netflix - Divulgação
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São Paulo

O emoji do sorriso, talvez o mais popular de todos, é conhecido em alguns países como "smiley". Este também é o nome de uma nova série da Netflix com pegada LGBTQIA+, que vem repercutindo em certos círculos neste final de ano.

"Smiley" nasceu como uma peça teatral de Guillem Clua. O espetáculo fez sucesso na Espanha e foi montado em outros países da Europa. Em cena, apenas dois personagens: dois homens gays de estilos de vida radicalmente diferentes, mas interessados um pelo outro. Só que, depois de um encontro tórrido, eles demoram a se encontrar novamente.

Esta historinha simples precisou ganhar tramas paralelas para se transformar numa série com oito episódios, todos assinados por Clua. Além do casal de homens gays, há um casal de lésbicas em crise, um casal hétero em crise e um homem de meia-idade, homossexual reprimido, obviamente também em crise.

Falando assim parece que "Smiley" é um pesado drama existencial, quando o oposto é verdade. Trata-se de uma comédia leve, de produção caprichada, lindos cenários e locações em Barcelona. Um deleite para os olhos.

Os relacionamentos pessoais são a única coisa que aflige os personagens. Ninguém tem problemas de dinheiro, saúde ou o que quer que seja. A homofobia tampouco se faz presente. Ao contrário de títulos como "Heartstopper", em "Smiley" quase todo mundo já saiu do armário e está com a sexualidade resolvida.

Isto faz com que os dilemas vistos na tela pareçam meio irrelevantes –e são mesmo. O par central é formado por Álex, um barman que só pensa em malhar e se divertir, papel de Carlos Cuevas (o Pol da série "Merlí") e Bruno, um arquiteto cinéfilo vivido por Miki Esparbé.

Eles se conhecem quando Bruno uma mensagem de áudio para um ex-ficante. Por alguma razão misteriosa, o áudio cai no celular de Álex. Os dois se falam e, sem nada a perder, marcam um encontro. Bruno vai ao bar gay onde Álex trabalha e a química entre ambos é tão imediata que eles transam ali mesmo, numa despensa.

O sexo flui bem. A conversa, nem tanto. Álex e Bruno percebem rapidamente que têm pouca coisa em comum. E passam os sete episódios seguintes hesitando se devem se procurar ou não.

Enquanto isto, duas mulheres que vivem juntas há algum tempo discutem se devem abrir a relação. A mãe de Álex recebe uma visita do passado: o melhor amigo de seu falecido marido, que guarda um segredo. E um colega de escritório de Bruno se desentende com a esposa meio porque sim, na trama mais fraca e desinteressante da série.

"Smiley" foi pensada para a época de Natal e Réveillon. A ação se passa entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023. Os personagens se preocupam em comprar presentes e sofrem de ansiedade com as festas de fim de ano, exatamente como muitos de nós, telespectadores.

O sexo fácil e sem compromisso entre homens gays é retratado sem moralismo. Mas há uma certa imaturidade na maneira como quase todos os personagens se comportam. Gente rodada como eles deveria ser mais safa a esta altura da vida.

Uma das lésbicas tem sotaque latino-americano, mas nunca é dito de que país ela veio. Álex namora um rapaz do Senegal chamado Ibra –apelido de Ibrahim, um nome muçulmano. Mas a imigração, as diferenças culturais ou qualquer outra discussão mais séria não têm espaço em "Smiley". A série é pura diversão.

E não há nada de errado com isto. Um pouco de escapismo sempre faz bem, ainda mais no final de um ano que foi estressante para todo mundo. Neste ponto, "Smiley" se assemelha a uma outra série da Netflix: "Emily in Paris", que conta as aventuras de uma jovem americana no glamuroso mundo da moda da capital francesa. Gente bonita e bem-vestida superando problemas bobinhos. Um descanso de tela para nossas mentes exaustas.

"Smiley" foi rodada como uma minissérie, mas já se fala numa nova temporada. Guillem Clua avisou que pode usar a história de outra peça sua como a trama central da segunda safra. Vem mais sorrisinhos por aí.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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