Anitta tem chances de ganhar o Grammy, mas são pequenas
A falta de um grande hit nas paradas dos EUA pesa contra a brasileira
O Brasil é um dos queridinhos do Grammy. Tirando o México, que exerce grande influência na música dos estados americanos com que faz fronteira, somos o país estrangeiro com mais indicações na história da maior premiação da indústria fonográfica americana. Ao longo de várias décadas, nomes como Tom Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento ganharam Grammys, em diversas categorias.
Mas fazia algum tempo que não aparecíamos com destaque entre os indicados. O jejum terminou na terça-feira (15), quando foram anunciados os concorrentes da próxima edição do Grammy, cuja cerimônia de premiação acontece em fevereiro de 2023. Confirmando os prognósticos dos sites especializados, Anitta está entre os 10 finalistas da categoria "Best New Artist", ou revelação do ano.
No Brasil, houve quem estranhasse: como assim, Anitta é "new artist"? Afinal, a brasileira estourou por aqui em 2013 com "Show das Poderosas", e investe na carreira internacional desde 2016. Mas, pelas regras da Academia de Gravação, pode ser considerado novo qualquer artista que tenha lançado, no ano em questão, o single ou álbum que "estabeleça sua identidade pública" (nos EUA).
Há algumas minúcias –o tal artista não pode ter sido indicado antes como intérprete, por exemplo–, mas, de modo geral, o que o Grammy de "best new artist" faz é reconhecer o impacto que um artista ou banda, até então pouco conhecido, fez nas paradas de sucesso americanas. E Anitta, depois de anos de trabalho duro, finalmente despontou por lá em 2022.
O que não quer dizer que ela tenha grandes chances de ganhar o troféu. Para começar, o páreo é duríssimo. Este ano são 10 indicados; até 2018, eram apenas cinco.
Além disso, Anitta é brasileira, e o Grammy é bairrista. Prefere premiar americanos ou britânicos, ainda mais nessa categoria. Mesmo cantando em inglês e espanhol, nossa conterrânea é vista como uma estrangeira. Não é a única na lista de indicados, que também incluiu a banda italiana Måneskin e tecladista francês Domi Louna, metade da dupla de jazz Domi & JD Beck.
Mas o que realmente pesa contra Anitta é a falta de um grande hit nos Estados Unidos. Ao contrário de Shakira, que estourou nas paradas americanas assim que começou a gravar em inglês, Anitta ainda não conseguiu emplacar um sucesso absoluto por lá, desses que entram na trilha sonora da nação.
Não foi por falta de esforço. A brasileira já lançou nos EUA dezenas de singles em inglês, espanhol e até mesmo português, nos mais diversos estilos. Gravou duetos e "feats" com nomes como Madonna, Maluma, Missy Elliott e os Black Eyed Peas. É presença constante em talk shows e premiações. Tudo isto fez com que se tornasse mais conhecida, mas ainda está longe de ser verdadeiramente famosa.
Por outro lado, neste ano não há um grande favorito na categoria, como foi Olivia Rodrigo no ano passado. Os sites especializados apontam a rapper Latto como a provável vencedora, mas tudo pode acontecer.
Se Anitta ganhar, será lindo. Se não, tudo bem. Entre os indicados que perderam o Grammy de artista revelação estão ícones como Elton John, Led Zeppelin, Britney Spears, Justin Bieber e Alanis Morissette. Quando surgiram, Madonna e Queen foram solenemente ignorados. Sem falar nos que venceram e hoje estão esquecidos, como Marc Cohn ou Starland Vocal Band.
Resumindo: a indicação de Anitta já é uma façanha e tanto, e um sinal de que a indústria fonográfica americana aposta nela. Além do mais, é um reconhecimento mais que merecido do esforço e, sim, do talento da cantora brasileira.
Goste-se ou não, Anitta é hoje uma embaixadora da nossa cultura e um expoente do "soft power" brasileiro, que volta a se destacar no mundo depois de quatro anos no ostracismo. Vamos torcer por ela.
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