Gloria Pires reafirma amizade com Daniel Filho, após anos magoada com ele
Diretor incentivou atriz a coproduzir 'A Suspeita', em que ela também atua
Gloria Pires esteve em São Paulo esta semana, para participar da pré-estreia de "A Suspeita" e conversar com jornalistas. O filme, em que ela interpreta uma policial acometida pelos primeiros sintomas do mal de Alzheimer, também marca sua estreia como produtora de cinema. Gloria participou de todas as etapas do processo, da elaboração do roteiro à pós-produção do longa.
Para debutar na nova função, a atriz contou com seus mais de 50 anos em frente às câmeras. "Ganhei jogo de cintura. Trabalhei com grandes diretores, e vi como eles resolviam na hora as crises que iam surgindo no set".
Um desses diretores foi Daniel Filho, que trabalhou com Gloria em inúmeras novelas e filmes. Os dois até atuaram juntos: ele foi Rubinho, o pai da inesquecível Maria de Fátima de "Vale Tudo", um dos papéis mais marcantes da carreira da atriz.
Além de parceiros profissionais, Gloria e Daniel também se tornaram grandes amigos. Quando teve a ideia de se lançar na produção, ela o procurou para pedir conselhos, pois Daniel tem larga experiência no ramo – é sócio da Lereby, a produtora responsável por quase todos seus filmes.
"Ele me deu muita força", conta Gloria. "É o meu pé-de-coelho". Mas nem sempre foi assim. Dos oito aos quinze anos de idade, a atriz guardou uma enorme mágoa do diretor.
Nascida em 1963, Gloria Pires estreou na TV já em 1969, na novela "A Pequena Órfã", da extinta TV Excelsior. Mas logo se bandeou para a Globo, onde seu pai, o ator Antonio Carlos, trabalhava. Fez figurações e pequenas participações em novelas e programas humorísticos, até que, em 1972, surgiu uma oportunidade: um papel fixo na novela "O Primeiro Amor", da faixa das 19 horas, escrita por Walther Negrão. Nada menos do que a filha pequena do protagonista, vivido por Sérgio Cardoso.
Gloria fez um teste e se saiu muito bem. Mas perdeu a personagem para Rosana Garcia, que mais tarde seria a Narizinho de "Sítio do Pica-Pau Amarelo". Daniel Filho foi lhe explicar por que ela não havia sido escolhida, e piorou a situação: disse que Rosana era mais bonita, dando a entender que Gloria era feia.
Imagine o trauma de uma criança no início de uma carreira artística, ouvindo isso da boca de um poderoso diretor. Outras teriam desistido, mas Gloria insistiu e continuou na Globo –evitando cruzar com Daniel Filho pelos corredores.
Até que, em 1978 surgiu uma chance ainda maior: Marisa, a filha rebelde de Julia Matos, a ex-presidiária interpretada por Sonia Braga na novela "Dancin’ Days". Gloria testou para o papel e foi aprovada pelo próprio Daniel Filho, que depois a dirigiu na trama.
Mas os dois só se acertaram quando terminaram as gravações, no ano seguinte. O diretor a interpelou por ter agradecido apenas ao autor Gilberto Braga pela oportunidade, e Gloria desabafou toda a mágoa que guardava dentro de si. Surpreso, Daniel Filho admitiu que nem se lembrava do episódio e pediu desculpas.
A reconciliação pavimentou uma parceria que continua até hoje. Daniel Filho não hesita em apontar Gloria Pires como uma das maiores atrizes do Brasil, ao lado de Fernanda Montenegro. E tem se mostrado um consultor valioso na nova fase da carreira dela, incentivando-a até mesmo a dirigir seu primeiro filme –algo que deve acontecer no segundo semestre deste ano.
"A Suspeita", que combina uma trama policial com um drama psicológico, estreia nos cinemas no dia 16 de junho. O papel de Lucia se mostrou um dos maiores desafios da carreira de Gloria Pires. Em muitas cenas, ela está sozinha, sem ninguém por perto, e precisa transmitir sem palavras, apenas com a expressão do rosto, a angústia de uma mulher que sabe que está perdendo a memória. Saiu-se tão bem que ganhou o troféu Kikito de melhor atriz no último Festival de Gramado.
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