Tony Goes

Por que só agora a Mulher-Maravilha ganhou seu próprio filme?

A israelense Gal Gadot como a Mulher-Maravilha
A israelense Gal Gadot como a Mulher-Maravilha - Clay Enos/Warner Bros.


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Mulher-Maravilha surgiu em 1941. Já teve revista própria e série de TV. Foi até embaixadora da ONU pelos direitos das mulheres (se bem que por pouco tempo: uma petição on-line, que a acusava de ser “explicitamente sexualizada”, a fez perder o emprego).

E, no entanto, a Mulher-Maravilha precisou esperar longos 76 anos para estrelar um longa-metragem nos cinemas. Enquanto isto, Batman e Superman --seus “colegas” na DC Comics-- já passaram por inúmeras encarnações na telona. Nos filmes da Marvel, a arquirrival da DC, o Homem-Aranha está sendo interpretado pelo terceiro ator diferente desde 2002.

É sintomático que a cultura pop, que converteu os super-heróis numa espécie de deuses, não tenha conseguido firmar uma mulher neste panteão contemporâneo.

Claro que já houve tentativas. A Marvel lançou “Elektra” no cinema em 2005, com relativo sucesso (mas o filme não teve continuações). Também confirmou a segunda temporada de “Jessica Jones” na Netflix, em 2018.

Lara Croft, vinda dos games, protagonizou dois longas. E a própria DC tentou transformar a Mulher-Gato, uma vilã do Batman, em mocinha --mas o filme estrelado por Halle Berry, de 2004, era tão ruim que mereceu fracassar.

Sem falar em Aeon Flux, Supergirl, Batgirl, She-Ra, a Viúva Negra... Não faltam super-heroínas por aí. Só que nenhuma delas está no primeiríssimo time, que, além dos já citados, inclui ainda o Homem de Ferro, Thor e o Incrível Hulk.

A Mulher-Maravilha pode ser a primeira a entrar para este Clube do Bolinha. A DC Comics está investindo pesado na moça, visando fortalecer seu universo de personagens. No final deste ano, ela será uma das atrações do filme “Liga da Justiça”, em pé de igualdade com seus similares masculinos.

Mas por que só agora? Arrisco algumas explicações. A primeira --e óbvia-- é que o mundo mudou. Já temos mulheres comandando empresas, chefiando países e lutando em guerras. E há toda uma geração de meninas carente de modelos poderosas, que não sejam princesas delicadas nem estejam à procura de um grande amor.

É por isto que a repaginação atual da Mulher-Maravilha é tão interessante. Talvez, pela primeira vez na história, uma super-heroína não tenha sido concebida apenas para agradar ao público masculino.

Sim, ela continua sexy. Ainda luta de botas e maiô, num figurino que lembra o de uma chacrete. Só que a maioria dos heróis também tem uma carga de sexualidade em suas imagens: é só pensar no collant apertado do Superman ou nos músculos hipertrofiados do Hulk.

Para além do  visual, a nova Mulher-Maravilha é escancaradamente feminista. Não se sente intimidada por nenhum homem, não está disposta a sacrificar seus ideais, não aparenta nenhuma das fragilidades que se associam ao seu gênero.

Demorou, mas finalmente estamos prontos para uma super-heroína assim.


Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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