Demorou, mas 'Malhação' finalmente chegou a São Paulo
No começo da década de 1990, a Globo estava decidida a ter em sua programação vespertina uma "soap opera" — aquelas intermináveis novelas americanas, que atravessam décadas e gerações.
A emissora chegou a importar especialistas no gênero para treinar seus roteiristas. O resultado foi Malhação, que estreou em 1994, na faixa das 17 horas. O programa logo se mostrou estratégico, tanto por alavancar a audiência do horário nobre como por ser um celeiro de novos atores e autores.
Mas, com o tempo, foi se afastando do formato "soap opera" e adquirindo características próprias. Hoje "Malhação" tem temporadas bem definidas, quase como uma série tradicional. A cada ano, renovam-se as tramas, os cenários e os elencos, sem nunca perder de vista o público juvenil.
Nesta segunda-feira (8), Malhação estreou sua 25ª temporada, batizada de "Viva a Diferença". E, por ser uma atração tão fundamental para a Globo, chama a atenção o fato de só agora ela ser ambientada em São Paulo, o mercado publicitário mais importante para o canal.
Demorou, mas valeu a pena. A mudança de ares deu ao programa uma cara nova, além de novos sotaques. E rendeu 20,5 pontos de média de audiência na Grande São Paulo (cada ponto equivale a 199, 3 mil espectadores), a segunda melhor estreia de temporada dos últimos cinco anos.
Criada e comandada por Cao Hamburger —que já havia demonstrado entender do universo adolescente na série "Pedro e Bianca" (Cultura), premiada com um Emmy Internacional em 2014 — a nova "Malhação" é centrada em cinco meninas de diferentes classes sociais, estilos e mentalidades.
Ellen (Heslaine Vieira, que foi uma das protagonistas de "Pedro e Bianca") é negra, nerd e hacker. A clubber Lica (Manoela Aliperti) vem de uma família rica que está se desfazendo. A sansei Tina (Ana Hikari) se rebela contra a mãe, que sonha com uma filha médica. Benê (Daphne Bozaski) quer basicamente fazer amigos, que ainda não tem. E Keyla (Gabriela Medvedovski) ainda não mostrou muito da própria personalidade, apesar de ter tido um filho num vagão do metrô.
A sequência do parto no metrô, onde as cinco garotas se conhecem, foi tensa e emocionante na medida certa, descontando uma certa dureza nas atuações. Ecoou o capítulo de estreia de um clássico da nossa teledramaturgia: "O Espigão" (1974), de Dias Gomes, que começou com o personagem de Débora Duarte dando à luz num táxi preso num engarrafamento no túnel Rebouças, no Rio de Janeiro.
Apesar dessa largada épica, ainda é cedo para saber como se desenvolverão as muitas histórias de "Viva a Diferença". Mas já deu para perceber que "Malhação" se livrou de vez de uma certa carioquice excessiva, que além de tudo já soava datada.
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