Thiago Stivaletti

'Rainha da Sucata', a novela da lambada que enfrentou 'Pantanal'

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Há 25 anos, Maria do Carmo (Regina Duarte), a sucateira que virou uma empresária de sucesso, era inocentada de ter jogado do alto de um prédio na avenida Paulista sua grande inimiga, Laurinha Figueiroa (Glória Menezes). Terminava "Rainha da Sucata" (1990), uma das grandes novelas de Silvio de Abreu.

Foi a primeira novela que Silvio escreveu para o horário nobre das 20h, depois de seis comédias maravilhosas e de grande audiência às 19h —entre elas "Guerra dos Sexos" (1983), "Cambalacho" (1986) e "Sassaricando" (1987). O autor levava para as 20h o seu universo de bairros populares de São Paulo, onde moravam a família de Maria do Carmo e da inesquecível Dona Armênia (Aracy Balabanian) —e as mansões ricas do Morumbi —onde viviam Laurinha e seu marido Betinho (Paulo Gracindo), aquele do bordão "Coisas de Laurinha...". Tudo misturado com lindas doses de lambada, a música da moda. Lembro que a Globo chegou a lançar um CD com o charmoso nome de "Lambateria Sucata". Coisas que sumiram no tempo...


Eu amava "Rainha da Sucata", mas tinha um pequeno trauma: eu ainda morava em Santos, e toda vez que minha família subia pra São Paulo, quando meu pai entrava de carro na Paulista e chegava na altura do prédio da Caixa Econômica, me apontava o prédio e dizia: "Ó, foi desse prédio que a Laurinha se jogou..." Ouvi isso umas 20 vezes. Depois meu pai não sabe por que eu sou noveleiro.

Mas Silvio deu um imenso azar: sua novela estreou apenas uma semana depois de outra novela que começou como quem não quer nada na extinta TV Manchete, mas virou um sucesso extraordinário de abalar a Globo: "Pantanal", com a selvagem Juma Marruá (Cristiana Oliveira) e o bonitão fazendeiro Leôncio (Paulo Gorgulho). Com o sucesso, a Manchete esticou tanto a novela que ela terminou só um mês e meio depois de "Rainha da Sucata" —teve 216 capítulos, 27 a mais do que a trama da sucateira. Mas tudo bem: naquela época não tinha internet nem TV paga, então todo mundo assistia as duas numa boa.

Dona Armênia era tão boa, querendo sempre jogar o predio "na chón", que Silvio até repetiu o personagem em outra novela, "Deus nos Acuda" (1992), sem o mesmo sucesso. E vale lembrar que duas grandes atrizes estrearam na Globo nessa novela. A saudosa Cleide Yáconis fazia novelas desde 1966 em outras emissoras quando estreou na emissora como a rica Isabelle de Bresson, cunhada de Laurinha. E Marisa Orth fez seu primeiro trabalho como Nicinha, uma "mulher de motel" nas palavras da própria.

Depois de reprisar no Viva, "Rainha da Sucata" chega agora ao DVD. Mais uma para lista de sonhos de presente para este Natal.

Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti é jornalista e crítico de cinema, TV e streaming. Começou a carreira como repórter na Folha de S. Paulo e foi colunista do portal UOL. Como roteirista, escreveu para o Vídeo Show (Globo) e o TVZ (Multishow).

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